Marijane deixa a coordenação do comitê técnico regional da Amesne

Presidente do CIC-BG encerrará participação no dia 31, depois de dois anos dedicados a ações para amenizar a pandemia

Ao longo dos anos 2020 e 2021, o nome de Marijane Paese esteve associado à defesa regional da retomada econômica da Serra, ao lado da contínua promoção da vida. Agora, depois de dois anos auxiliando a Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) nesse propósito, a atual presidente do Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) entrega seu cargo no Comitê Técnico Regional da Serra.

A reunião que demarcará o ato ocorrerá em Nova Prata, no próximo dia 31, mas as homenagens e o reconhecimento ao trabalho que auxiliou 49 municípios da Serra a terem mais autonomia para o funcionamento das atividades começaram, na verdade, há tempos.

A própria indicação à presidência do CIC-BG, entidade que ela passou a comandar neste ano, tem ligação relacionada à relevância de seu trabalho desempenhado durante os momentos mais tensos da pandemia. A sua recente indicação ao Prêmio Somos.RS – Destaques do Turismo, na categoria Líder pela Retomada, também. Retomada, aliás, foi a palavra que norteou as ações de Marijane durante os dois anos de trabalho voluntário para a Amesne. Sua formação profissional em Matemática, combinada à especialização em Estatística, permitiu analisar os dados da pandemia na região de forma técnica. A leitura do comportamento do vírus, correlacionada ao número de leitos na Serra e a outros parâmetros, como o número de hospitalizações e de pacientes internados em UTIs, fomentou a redação dos recursos interpostos pela entidade ao Estado.

Com eles, foi possível convencer o governo de que a Serra, em muitos casos, não precisava ser classificada em bandeiras que previam restrições pesadas às atividades econômicas. Por sete vezes, esse trabalho fez com que o Estado alterasse a classificação inicial, permitindo que a Serra adotasse protocolos mais brandos. Isso possibilitou a estabelecimentos de toda ordem operarem seus negócios com menores intervenções. “Foi um trabalho árduo e constante, mas que trouxe resultados. Sempre buscamos o equilíbrio nas nossas ações, pautando as decisões em cima de critérios científicos que nos davam a segurança para manifestar posição contrária à do governo em muitas situações. Sinto-me honrada em poder colaborar com nossa região e ajudar a manter a economia aberta, salvando empregos e mantendo a renda pessoal, e contribuindo com protocolos para a preservação da vida”, diz Marijane.

Essa atuação ainda contribuiu para a criação do consultório de atendimento imediato a trabalhadores com suspeita de covid. O serviço foi instalado via movimento Unidos por Bento, um esforço coletivo de entidades, empresas e sociedade, para ajudar no controle da disseminação do vírus.

A despedida dela da Amesne ocorre em meio a outra conquista. Seu trabalho auxiliou na argumentação que orientou a desobrigatoriedade do uso de máscaras em locais fechados nos municípios abrangidos pela entidade, diante da queda da contaminação e da mortalidade pelo vírus e da ocupação hospitalar. Embora a deliberação seja de prerrogativa de cada cidade, a indicação da Amesne trouxe evidência científica para basear a tomada de decisão da maioria delas – no caso, para a flexibilização de seu uso, o que havia ocorrido em mais de 10 municípios até o dia 21 de março.

Em março de 2020, quando o primeiro caso de coronavírus foi diagnosticado no Rio Grande do Sul, Guilherme Pasin era prefeito de Bento Gonçalves e presidente da Amesne – cargo que ele deixaria no mês seguinte. À época, conta ele, o comitê estadual da crise se valia de um complexo sistema de fatores e cálculos que apresentavam severas restrições aos municípios, muitas vezes diferentes da realidade local.

Os municípios até tentavam contestar a posição, mas faltavam-lhe dados técnicos para reverter a situação. Foi numa das reuniões da prefeitura com entidades que a situação começaria a mudar. “O (então) presidente do CIC, Rogério Capoani, apresentou a Marijane como especialista em estatística e, com seus conhecimentos, poderíamos buscar subsídios para nossas ponderações e falhas no sistema estadual que pudessem estar prejudicando a situação de nossa população e setores econômicos”, recorda Pasin.

Foi exatamente isso que começou a acontecer. Com o respaldo científico das análises de Marijane, Pasin levou o estudo de dados para a Amesne, que passou a ter estofo para discutir as decisões do Piratini. “Foi aí que a qualidade técnica, a liderança e a inteligência da Marijane sobressaiu. Não apenas conseguimos sanar diversas injustiças que estavam sendo cometidas mas, principalmente, auxiliar no aprimoramento do sistema métrico estadual. Na condição de presidente da Amesne naquele dificílimo momento, sou grato a essa incrível pessoa e profissional distinta por todos os seus esforços em prol de nossa região”, reconhece Pasin.

Um modelo para a região e para o Estado

Embora a Amesne represente 36 municípios da Serra, dentro da chamada “região saúde” a abrangência da entidade sobe para 49 cidades, compreendendo uma população de 1,2 milhão de habitantes. Presidente da organização entre abril de 2020 e abril de 2021, o ex-prefeito de Cotiporã José Carlos Breda lembra que, além de esse ser o período mais crítico da crise sanitária, o então sistema de bandeiramento do modelo de distanciamento controlado gerava apreensão aos setores econômicos. “Toda sexta-feira era um temor, um fecha e abre parcialmente, os protocolos. E a Amesne se notabilizou por combater isso no bom sentido, defendendo vidas e a economia, e a pessoa mais estratégica nessa proposta foi a Marijane”, elogia Breda.

A dedicação ao tema da então vice-presidente do CIC-BG permitiu uma nova perspectiva para as cidades da Serra. A análise estatística e técnica dos dados da pandemia em comparação com o sistema adotado pelo governo mostrou, segundo Breda, de forma científica que muitas das decisões tomadas pelo comitê do Estado não estavam de acordo com a realidade regional. “Isso fez com que pudéssemos aperfeiçoar o sistema, inclusive melhorando e flexibilizando, dando oportunidade às regiões para que elas definissem seus protocolos. Foi uma conquista muito importante que se estendeu a todo Estado”, lembra Breda.

O ex-presidente da Amesne personifica em Marijane as ações que notabilizaram a entidade durante a pandemia. A dedicação dela nos finais de semana, muitas vezes durante a madrugada, cumprindo o curto prazo estipulado pelo governo para os municípios formularem seus recursos, acabou trazendo diversos reflexos para os segmentos econômicos. “Conquistamos grandes resultados, e a economia pôde funcionar, algumas vezes parcialmente, mas muito além do que teria sido se tivéssemos aguardado as decisões do Estado. Expressamos nosso profundo reconhecimento a esse intenso e grande trabalho da Marijane, que mudou a realidade naquele período e fez a região avançar significativamente”, considera Breda.

Outro entusiasta do trabalho dela é o ex-presidente do CIC-BG Rogério Capoani. Dois aspectos da trajetória de Marijane, principalmente, são realçados por ele. Um é a convicção com que ela defendia a leitura de seus prognósticos. O outro é o amparo econômico oriundo de sua dedicação a milhares de famílias gaúchas. “Ela sempre teve certeza de seu trabalho e expectativa de senso de justiça por parte do Comitê Técnico do Estado. E foi o que aconteceu. Por ser um trabalho técnico, neutro, acabou ajudando o Estado, já que outras regiões solicitaram o auxílio dela para que pudessem fazer seus levantamentos. Então, acabou sendo um modelo estadual, cujos benefícios são imensuráveis. Será muito difícil algum dia calcular o quanto ela poupou de sofrimento, de fechamento de negócios e de pessoas ficando sem emprego”, enaltece Capoani.

Nos dois anos em que Marijane se dedicou ao trabalho na Amesne, ela atuou também ao lado do atual presidente. O prefeito de Farroupilha, Fabiano Feltrin, é outro que evidencia a relevância técnica da atividade de Marijane. “O trabalho dela foi excelente. Diria excepcional. A importância dos dados estudados e levantados pela Marijane nesse período tão difícil que vivemos é indiscutível”, diz Feltrin.

De acordo com ele, que também entregará seu cargo na Amesne no dia 31 de março, o desempenho de Marijane durante os últimos anos ajudou a região a controlar uma pandemia que marcará para sempre a história da humanidade. “Foi por causa dela que evoluímos nos protocolos de saúde e conseguimos, com cautela e responsabilidade, voltar aos poucos à normalidade. Nossa região será eternamente grata a tudo que ela fez para amenizar nossas vidas”, exalta Feltrin.

Secretário de Saúde de Bento Gonçalves à época da eclosão da pandemia, o hoje prefeito do município, Diogo Siqueira, destaca a aplicação do conhecimento de Marijane na análise dos dados relacionados à covid. “A sociedade precisa de teoria e prática. É uma lógica aplicável em todas as dinâmicas da nossa vida. Precisamos dos braços, mas também são necessárias as mentes – capazes de pensar em novas soluções para driblar as adversidades que se reinventam com o tempo”, observa Siqueira.

Para ele, essa forma de atuação garantiu novas perspectivas não apenas para os municípios da região, mas também para seus moradores. “A Marijane foi vital na defesa da vida da nossa gente. Seu trabalho à frente do Comitê Técnico da Amesne foi fundamental para o planejamento de ações no combate à pandemia, sempre com a segurança dos dados. Agradecemos sua dedicação e envolvimento neste trabalho pela região”, diz o prefeito.

Fonte: Exata Comunicação

error: Conteúdo Protegido