Agora no Parque de Eventos, QG da solidariedade às vítimas das enchentes mobiliza mais de 1,6 mil voluntários que são geridos por sete organizações
As proporções gigantescas do advento climático mais devastador da história do Rio Grande do Sul geraram uma força solidária do mesmo tamanho em Bento Gonçalves. Tanto que o recebimento de donativos, inicialmente concentrado no Instituto Federal e que, dias depois, ganhou a parceria da UCS Bento, agora foi realocado para o pavilhão E do Parque de Eventos da Fundaparque, a fim de dar conta de tamanha solidariedade. A sensibilização por mais colaboradores continua.
Nesse grande espaço, de 13.910 m², todos os dias chegam doações que mobilizam um exército de 1,6 mil voluntários no recebimento, na triagem, na separação e na distribuição de donativos. Um trabalho que, por sua grandeza, é coordenado coletivamente pelas instituições IFRS, UCS Bento, Embrapa, Fundaparque, Bento+20, além dos grupos Pé na Lama e Circulo Solidário. Essa união ganhou até um nome: Bento em Ação. “Chegamos num nível de volume muito grande e não tínhamos mais capacidade de armazenagem e fôlego também. Todos estão sensibilizados, então unimos instituições com expertise, envolvendo também grupos de voluntários, porque temos um senso de urgência muito grande e, ao mesmo tempo, longos dias de trabalho pela frente. Também contamos com a conhecida proatividade da comunidade de Bento Gonçalves, que sempre é muito solidária”, diz o diretor-geral do Campus Bento Gonçalves do Instituto Federal do RS, Rodrigo Câmara Monteiro. Outro exemplo positivo desse engajamento são os menores aprendizes do SENAI, atuando como voluntários.
Tudo começou no IFRS, no dia 2 de maio, após o Corpo de Bombeiros solicitar ajuda para o recebimento das doações que começavam a chegar às vítimas dos temporais. O ginásio do educandário, aos poucos, ficou pequeno diante de tantas doações – logo no terceiro dia, os suprimentos começaram a ser enviados para fora de Bento Gonçalves, contemplando municípios como Santa Tereza, Roca Sales, Encantado e Muçum. A UCS Bento também, então, abriu espaço para receber donativos. Passou a ser, ainda, um ponto para doação de remédios, num trabalho que envolveu professores e acadêmicos do curso de Farmácia. E mais: passou a envolver equipes na produção de sanduíches na UCS sede. “Esse momento exige o comprometimento de todos estarem juntos. Apenas com a força de muitos vamos conseguir dar a volta e levar um pouco de dignidade e conforto para quem teve a vida devastada pelas enchentes. Como universidade, estamos colocando em prática, novamente, nosso senso comunitário”, pondera o sub-reitor da UCS Bento, Fabiano Larentis.
A governança do trabalho está segmentada em sete grandes grupos. O Recebimento lida com as doações e controle de almoxarifado. A Distribuição coordenada as entregas, as rotas e o controle das saídas. No setor de Alimentação, são preparadas marmitas para envio e a alimentação dos voluntários. A área de Triagem e Separação cuida da mobilização de voluntários e organização do espaço de trabalho. Na Comunicação, são disparados os informes através das redes sociais. Já o pessoal de Pagamentos e Suprimentos lida com recebimentos de PIX e compras de insumos e equipamentos, enquanto os de Suporte lidam com a limpeza e o acolhimento.
Uma grande equipe, tanto do IFRS quanto da UCS Bento, foi mobilizada para dar conta de tanto trabalho. Mais instituições, que também já estavam com seus times em campanha para ajudar no flagelo de milhares de gaúchos, foram se juntando. É o caso da Embrapa. Além de funcionários atuando no Parque de Eventos, a instituição de pesquisa disponibilizou carros para o transporte das doações e cuida da comunicação desse trabalho interinstitucional. “Estamos auxiliando no preparo e na divulgação dos cards com as informações para os voluntários, com a identidade visual do grupo”, conta Rodrigo Monteiro, chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Uva e Vinho. “Não só por ser uma empresa do governo federal, mas porque todos nós aqui, de alguma forma, temos uma relação muito direta com todos os atingidos, não só da Serra, mas em todo o Estado, a gente tem se mobilizado para ajudar. Também organizamos uma vaquinha entre os embrapianos de todo o Brasil, e já arrecadamos mais de R$ 100 mil”, reforça Monteiro.
Desde a última segunda-feira, a Fundaparque passou a ser o QG central dessa operação descomunal. Nos últimos 20 dias, estima Monteiro (IFRS), uma média de 10 caminhões e 30 caminhonetes carregados de mantimentos saíram diariamente para entregar doações a quase 40 municípios das principais áreas afetadas. São cidades da Serra, das regiões dos Vales, incluindo Taquari, Rio Pardo, Paranhana, Caí e Jacuí, e das regiões Metropolitana e Carbonífera.
A infraestrutura da Fundaparque facilitou muito o trabalho dos voluntários e também de quem chega com donativos. “Nosso intuito é o bem comum”, comenta o presidente da Fundaparque, Laudir Piccoli. Além da facilidade no fluxo de recebimentos e transporte de donativos, com os veículos acessando um portão para entrar e outro para sair, Piccoli disponibilizou empilhadeiras para facilitar o descarregamento e carregamento de doações, antes feitas de forma manual. “Toda nossa estrutura está voltada para esse bem comum que é ajudar as famílias necessitadas. Estamos juntos desse movimento, liderado por entidades de credibilidade, para que realmente a ajuda chegue a quem perdeu tudo”, continua Piccoli.
Trabalho que funciona como uma engrenagem
É uma ajuda oferecida por pessoas abnegadas que, mesmo com seus compromissos familiares e de trabalho, se empenham para minimizar o sofrimento de milhares de gaúchos. Uma das pessoas responsáveis por cooptar voluntários para essa tarefa humanitária é a professora e servidora da Prefeitura de Farroupilha Sabrina Kappel Pilotti. “Sem o trabalho dos voluntários, nada acontece nesse grande movimento”, resume Sabrina.
Ela conta que o trabalho nas doações é dividido por setores. Tudo começa pelo recebimento e pela triagem inicial. “Nessa etapa, as doações são divididas em setores específicos como alimentação, higiene, limpeza, calçados e vestuário, cama/mesa/banho, etc”, diz. Após, há uma segunda triagem em cada um desses setores. “As doações são, então, enviadas para a expedição, onde serão despachadas para as demandas que nos chegam, ou seja, os municípios”, esclarece. Dessa forma, cada setor é responsável por determinada demanda, e a sincronia para que todos funcionem de forma unânime é essencial. “Cada voluntário é responsável por uma parte dessa engrenagem. Se o recebimento, por exemplo, não se desenvolve de maneira efetiva, todos os outros setores são prejudicados”, observa Sabrina.
A guia de turismo Viviane Casagrande Mancini faz parte dos mais de 1,6 mil voluntários que se envolveram com o drama dos gaúchos. Se voluntariou no dia 3 de maio, ainda quando a central estava no IFRS, e não parou mais de ajudar. “Eu sempre me coloco no lugar do outro, então, sempre que posso ajudar de alguma forma, estou pronta, gosto muito e ajudar me faz bem. Além disso, sei da importância que esse trabalho reflete para quem recebe essa ajuda”, relata Viviane, que começou ajudando na separação de roupas e hoje coordena a parte infantil. Mas sabe que está lá para o que der e vier. “A gente acaba fazendo um pouquinho de tudo”, diz.
Acostumada a ajudar, Viviane já participou de outras ações voluntárias. Há 11 anos, com o nascimento da filha, Laura, se envolveu ainda mais. “Comecei a fazer doações das roupinhas e calçados dela para o albergue municipal, aí a gente começa se envolver. Essa situação que nosso Estado está passando precisa muito de pessoas que se disponibilizem também de coração”, comenta.
O diretor-geral do IFRS destaca, também, como os grupos voluntários que fazem parte do movimento são importantes para arrematar com precisão todo o trabalho. “O Pé na Lama chega lá na ponta, levando os donativos diretamente a quem precisa no interior dos municípios, trazendo um feedback importante para sabermos quais as necessidades que as vítimas precisam. Temos esse senso de urgência de chegar no local onde precisa, sem passar por centros de distribuição”, comenta Monteiro.
Observação para doação de itens
Conforme o trabalho anda, as necessidades para os flagelados mudam. Nesse sentido, a comunicação orquestrada pela Embrapa ganha ainda mais evidência para orientar a população. Diariamente, cards publicados no perfil do Instagram do Bento em Ação (@bentoemacao) e nas redes sociais das entidades parceiras informam sobre novas demandas.
Neste momento, por exemplo, dentro do setor de alimentos, as urgências para doação são sal, café, leite, molho de tomate, achocolatado e farinha de milho. No kit infantil, o pedido é por bala, pirulito, bombom e achocolatado. Itens de higiene como gilete, desodorante, shampoo (adulto e infantil), lenço umedecido, pomada para assaduras, creme dental infantil, sabonete infantil e mamadeira também são necessários. Produtos de limpeza como álcool, sabão em pó, luvas, esponja e desinfetante completam a lista. Travesseiros, colchões e toalha de rosto também são necessidades.
Para a doação de valores financeiros foi disponibilizada uma chave PIX, gerenciada pelo Círculo Solidário, uma das instituições participantes. A chave PIX desta conta é o número de telefone 54999390832.
A adesão de novos voluntários para ajudar no descarregamento dos donativos é outra das atuais necessidades. Quem quiser se voluntariar, pode acessar o grupo de WhatsApp dos voluntários acessando o link: http://bit.ly/voluntariosbg. O trabalho será realizado nos turnos da manhã e da tarde.
Informações gerais:
Bento em Ação – Unidos pelo RS
Perfil no Instagram: @bentoemacao
Recebimento de doações:
Segunda a sexta: 9h às 17h
Sábados: 9h às 15h
Aos domingos não há recebimento de doações.
Local: Pavilhão E da Fundaparque (Alameda Fenavinho, 481 – Bento Gonçalves/RS)
Doações financeiras via PIX
Chave PIX (Telefone): 54 99939 0832
Círculo Operário Bento Gonçalvense – CNPJ: 87.553.228/0001-97
Voluntários
Grupo de Voluntários (WhatsApp): http://bit.ly/voluntariosbg
Fonte: Exata Comunicação
Foto: Divulgação
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