AMRIGS alerta sobre o risco de retorno da poliomielite no Brasil

País disponibiliza imunização, mas não consegue atingir as metas mínimas de vacinação

Certificado em 1994 pela Organização Mundial da Saúde como livre da poliomielite (também chamada de pólio ou paralisia infantil), o Brasil voltou a ser considerado pela entidade como uma nação em risco de reintrodução da doença. O cenário preocupa a Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS).

Uma das razões para este quadro é a baixa cobertura vacinal. A meta de 95% do público-alvo vacinado, patamar necessário para que a população seja considerada protegida contra a doença, não vem sendo atingida desde 2015.
O presidente da AMRIGS, Gerson Junqueira Jr., lembra que, entre os fatores considerados críticos, está o fenômeno que vem sendo chamado pela Organização das Nações Unidas (ONU) de “Hesitação da Vacina”, que ocorre quando há a vacina disponível, mas ela não está sendo aplicada ou está sendo aplicada com atraso.

Para enfrentamento são necessárias ações que envolvem os 3 “C”: confiança, complacência e conveniência. O primeiro C está relacionado à confiança na eficácia da vacina e no sistema de saúde que as fornece. O segundo relaciona-se com a pouca percepção de risco do indivíduo em ter possibilidade de entrar em contato com a doença, desta forma, não considera a vacina necessária. E o terceiro C está ligado à conveniência, que leva em consideração a falta e\ou dificuldades de acesso aos serviços de vacinação.

A poliomielite é uma doença infectocontagiosa viral aguda, caracterizada por um quadro de paralisia flácida, de início súbito, que ocorre em cerca de 1% das infecções causadas pelo poliovírus. O déficit motor instala-se subitamente e sua evolução, frequentemente, não ultrapassa três dias. Acomete em geral os membros inferiores, de forma assimétrica, tendo como principais características a flacidez muscular, com sensibilidade preservada, e a arreflexia no segmento atingido.

A baixa vigilância da paralisia flácida é um dos fatores apontados também pela Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS) como um problema. Há parâmetros que precisam ser observados, segundo o médico e membro do Comitê de Infectologia da SPRS, Juarez Cunha, e o Brasil não está conseguindo fazer esse monitoramento.
“Isso não quer dizer que não existam casos, mas que não estamos fazendo a adequada vigilância”, explicou.
O pediatra reforça também que é necessário ampliar a vigilância ambiental, que é a técnica de procurar o vírus no esgoto. No Brasil, apenas São Paulo realiza esse procedimento.“Vários países fazem essa vigilância. Israel detectou um caso e, após a vigilância no esgoto, foram localizados outros oito casos”, explica.

O médico salienta ainda uma característica da poliomielite que se assemelha ao que vivemos na pandemia da COVID-19. Por ser em alguns casos assintomática, a pessoa pode estar eliminando inconscientemente o vírus pelas fezes ou secreções eliminadas pela boca. É essencial que as famílias procurem os postos de saúde e vacinem as crianças.

Poliomielite no Brasil e no mundo

O Brasil, a partir de 1988, ampliou a prevenção, vacinando a população. A estratégia de vacinação oral em massa contribuiu para livrar o país do problema em 1989, quando o último caso foi registrado, segundo o Ministério da Saúde. Em 1994, toda a região das Américas foi certificada como livre da circulação do poliovírus.
Atualmente, a poliomielite existe no mundo em três países: Afeganistão, Paquistão e Nigéria. Mais recentemente, casos foram registrados em Israel, chamando atenção por ter ocorrido em um país desenvolvido e com grande estrutura de vigilância em saúde.

Brasil, Bolívia, Equador, Guatemala, Haiti, Paraguai, Suriname e Venezuela são os países das Américas com alto risco de volta da poliomielite, segundo informes divulgados pela Organização Pan-Americana de Saúde (Opas).

Redação e coordenação: Marcelo Matusiak / PlayPress

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