Mais de 100 dias se passaram desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou pandemia de coronavírus no mundo, ou seja, em escala de gravidade, o pior dos cenários pois se espalhava em diversas regiões do planeta. A partir de então estratégias de comunicação do Ministério da Saúde com demais entidades envolvidas para veiculação de informações básicas sobre a doença, formas de contágio, com disponibilização de números para transparência – como em Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde – passaram a ser adotadas junto a sociedade como um todo.
Desde leitos disponíveis – mais recentemente com o Modelo de Distanciamento Controlado no Rio Grande do Sul -, número de casos, pessoas recuperadas da doença (*a contabilização dos curados acontece após o período de 14 dias da doença e o paciente não apresenta sintomas. Também é confirmado quando o paciente apresenta IgG positivo que confirma que já passou pela doença e apresenta anticorpos) até os falecimentos.
E justamente são os óbitos por Covid-19 que ainda geram desconfiança pelo elevado número divulgado pelo próprio Ministério da Saúde (mais de 50 mil pessoas faleceram até sexta-feira, 26 de março).
O Ministério Público Federal (MPF) através da Procuraria de Bento Gonçalves foi um dos únicos órgãos do Brasil a solicitar ainda no mês de abril informações da idoneidade de notificações por coronavírus para o Governo Federal. O pedido foi realizado pelo procurador Alexandre Schneider. Em recente entrevista para Rádio Difusora 890 relatou que “na época o Ministério da Saúde respondeu com poucas informações e que se trata de uma situação complexa. Ainda existe uma carência de elementos médicos e de pesquisa para fazer a associação entre o vírus e a causa morte”, dizia.
Justamente pela complexidade da situação e entender ser necessária uma melhor avaliação que o Ministério anunciou novos critérios para verificações de casos em razão do Covid-19. Um consórcio com veículos de imprensa com base em dados das Secretarias de Saúde foi criado em paralelo para também efetuar este levantamento.
O QUE DIZ O MINISTÉRIO DA SAÚDE SOBRE A CONTAGEM DE ÓBITOS PARA RÁDIO DIFUSORA:
Em nota enviada para emissora o órgão confirmou que o processo de atualização é realizado diariamente através das Secretarias Estaduais de Saúde. Para os médicos que atestam óbitos, existe um documento denominado “Orientações para o preenchimento da Declaração de Óbito no contexto da Covid-19”, com a finalidade de orientar os profissionais nas declarações de falecimentos em razão da doença.
Nele consta que a Covid-19 deve ser registrada no atestado médico de causa de morte para todos os óbitos que a doença causou, se assume ter causado ou contribuído para a morte. Aparentemente pode ser um dos motivos do elevado número de óbitos registrados até então.
Leia a nota completa abaixo:
NOTA
O processo de atualização dos dados sobre casos e óbitos confirmados por COVID-19 no Brasil é realizado diariamente pelo Ministério da Saúde através das informações oficiais repassadas pelas Secretarias Estaduais de Saúde das 27 Unidades Federativas brasileiras. Os dados são fornecidos por meio de um formulário eletrônico e envio de bases de dados, que são consolidados e disponibilizados publicamente todos os dias. O Ministério prima pela consistência entre os números divulgados individualmente pelas SES e o consolidado nacional, publicado na plataforma SUSAnalítico (https://susanalitico.saude.gov.br/#/dashboard/).
Além disso, são utilizadas como fontes de dados os sistemas de informação eSUS Notifica e SIVEP-Gripe, conforme indicado no Guia de Vigilância Epidemiológica Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pela Doença pelo Coronavírus 2019, disponível em: https://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2020/April/07/GuiaDeVigiEpidemC19-v2.pdf . Para aprimorar a captação dos casos e óbitos pelos sistemas, o Ministério da Saúde realiza análises sistemáticas para avaliar a consistência entre essas fontes de informação.
O sistema e-SUS Notifica foi desenvolvido neste ano para captar a notificação imediata de casos leves de Síndrome Gripal (SG) suspeitos de COVID-19. Trata-se de uma plataforma online com o objetivo de garantir agilidade no processo de notificação. O SIVEP-Gripe já vinha sendo utilizado pelo Ministério da Saúde para a vigilância da influenza e outros vírus respiratórios. É um sistema que capta dados das Unidades de Vigilância Sentinela de Síndrome Gripal e dos casos hospitalizados e óbitos por SRAG em hospitais públicos e privados.
Vale destacar, ainda, que o Ministério da Saúde disponibiliza o documento “Orientações para o preenchimento da Declaração de Óbito no contexto da COVID-19”, com a finalidade de orientar os médicos sobre o preenchimento das condições e causas do óbito (bloco V) da Declaração de Óbito (DO) no contexto da COVID-19. Esse documento está disponível em: http://docs.bvsalud.org/biblioref/2020/05/1096249/orienta-es-para-delcara-o-de-bito.pdf .
O QUE DIZEM OS MÉDICOS:
Para o presidente da AMEB (Associação Médica de Bento Gonçalves), o médico cardiologista e também profissional com atuação junto ao Hospital Tacchini, Fernando Cenci Tormen, o Covid-19 ainda é um aprendizado para a categoria.
“Em nenhuma doença é o mesmo tratamento para todo mundo. O desafio da medicina é individualizar. A gente não gostaria de perder ninguém, mas alguns pacientes chegam com acometimento muito grande e infelizmente a gente não consegue reverter. Os nossos dados estão compatíveis com o que está acontecendo no mundo”, comenta.
Em linhas gerais praticamente a totalidade de falecimentos registrados em Bento Gonçalves e até cidades da região da Serra tem sido de pessoas com comorbidades e históricos familiares de doenças crônicas.
A médica Lessandra Michelin, infectologista e coordenadora da CCIH (Comissão de Controle da Infecção Hospitalar) do Hospital Unimed de Caxias do Sul, reforça a mesma tese de Tormen, de que não existe um tratamento diferente de outros lugares.
Os pacientes que vieram a falecer “são mais debilitados, com o corpo mais frágil pela idade e alguns com complicações e até outras consequências. Teve pacientes em fase terminal que também tiveram Covid-19”, salienta.
O secretário nacional de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, Arnaldo Correia de Medeiros, durante importante anúncio neste final de semana da parceria do País para produzir a vacina de Covid-19 comentou que “quando se avaliam os óbitos por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) 70% estão associados a pacientes com maior idade e comorbidades”, confirmou.
BENTO GONÇALVES JÁ PEDIU REVISÃO DE NÚMERO DE ÓBITOS:
Até sexta-feira, 26 de junho, Bento Gonçalves confirmou 29 falecimentos com a causa Covid-19. Conforme apurou de forma exclusiva a Rádio Difusora, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) já solicitou a revisão de pelo menos dois casos (que não chegaram a entrar nesta lista) ao Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) do Rio Grande do Sul.
Um deles foi um paciente que faleceu no município, mas era da cidade de Nova Araçá. A informação inicial era da morte por coronavírus, mas apurou-se por laudos que houve o vírus, entretanto não seria a causa do óbito.
De acordo com o coordenador médico da SMS, Marco Antônio Ebert, a média de falecimentos neste período tem sido semelhante a outros momentos sem a epidemia.
“Por isto estamos encaminhando algumas revisões de casos. Entendemos que é possível até que no Estado ocorram óbitos por outras causas atribuídos a Covid-19”, disse.
A reportagem solicitou mais informações de eventuais questionamentos realizados por Municípios buscando a recontagem para a Secretaria Estadual da Saúde e até o fechamento desta matéria não obteve resposta.
A orientação em situações de familiares que perderam entes queridos e buscam informações mais concretas da causa morte é a solicitação dos laudos laboratoriais e até necropsia.
Fonte: Felipe Machado – Central de Jornalismo da Difusora
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