Pauta movimentou até seis salas simultâneas com a participação de 18 especialistas em torno de uma programação especialmente montada para proporcionar a troca de experiências na busca por soluções para os sindicatos do comércio de bens, serviços e turismo
Grandes nomes do país se revezaram nos diversos palcos do 36º Congresso Nacional de Dirigentes Sindicais do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (36º CNSE), realizado em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, de 29 de setembro a 1º de outubro, no Dall’Onder Grande Hotel. Marcando a retomada dos eventos, mais de mil participantes dos 26 estados brasileiros, além do Distrito Federal, se dividiram numa agenda técnica de palestras, painel, talk show, comissões temáticas e oficina, além de passeios turísticos por atrativos dos Caminhos de Pedra e Vale dos Vinhedos. O ministro Onyx Lorenzoni e o empreendedor José Galló integraram o rol de palestrantes. Entre os assuntos, destaque para a necessidade da modernização e unicidade sindical, respeitando as regionalidades, e o otimismo econômico diante de um cenário de retomada.
O segundo dia do Congresso começou com o Talk Show Reorganização Sindical no Salão Malbec e o Painel Economia e Comércio no Brasil no Salão Carmènére, de forma simultânea. Para evitar aglomeração, foram realizados novamente à tarde, com o revezamento dos salões, possibilitando que o congressista que não pôde assistir a uma temática pela manhã acompanhasse à tarde. O advogado do Sindilojas Porto Alegre, Flávio Obino Filho, mediou o talk show que contou com a participação do presidente da Comissão de Negociação Coletiva do Comércio da CNC, Ivo Dall’Acqua Júnior; do subsecretário de Relações do Trabalho do Ministro do Trabalho, Mauro Rodrigues de Souza; do presidente do Sindilojas Belo Horizonte (MG), Nadim Donato e do presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah.
Dall’Acqua abriu os trabalhos ratificando a decisão da CNC de defender a estrutura sindical baseada nos princípios de unicidade e base nos limites da Constituição Federal. “Está demonstrado que, em um país tão plural e diverso como o Brasil, esse modelo de unicidade garante representação para as diversas atividades econômicas e profissionais que não formam volume e número para se organizar no primeiro grau (sindicato). Com isso, a proteção ao trabalho é assegurada a todos os que estão inseridos no ambiente econômico, tanto as empresas quanto os trabalhadores, ao mesmo tempo que equilibra as condições nas relações trabalhistas”.
Modernização trabalhista
Sobre a manutenção da unicidade sindical no Brasil, considerando que a mudança com relação às fontes de custeio das entidades afetaram um dos pontos mais discutidos no que se refere à representação legal e representatividade, o mediador questionou ao representante do governo como estão as iniciativas do Grupo de Altos Estudos do Trabalho (Gaet), criado com o objetivo de avaliar o mercado de trabalho brasileiro sob a ótica da modernização das relações trabalhistas e matérias correlatas. “O grupo de estudo temático, intitulado Liberdade Sindical, está dividido em três subtemas – atividade sindical, negociação coletiva e registro sindical – e tem caráter consultivo, apresentando propostas do governo. O relatório ainda não foi entregue por questões internas de mudanças e da pandemia, que atrasaram esse processo”, explicou Mauro de Souza, enfatizando que o modelo sindical brasileiro precisa se reinventar. Contudo, ainda não há uma proposta por parte do governo.
Para Patah, o movimento sindical e o Sistema S têm um papel fundamental neste momento grave vivido. “Precisamos dar resposta e esta resposta é trabalho, prestação de serviços, sinergia, equilíbrio e compreensão. Defendo a negociação e a UGT valoriza uma estrutura com unicidade sindical, com autorregulamentação, oportunizando a inclusão, a distribuição de renda e um piso salarial justo. E tudo isso com transparência, compromisso, democracia”, destacou.
Representando os sindicatos, Donato defendeu a manutenção da estrutura com a unicidade sindical, mas ressaltou que os sindicatos precisam ser ouvidos, pois existem especificidades que devem ser tratadas de maneira diferente. “Nosso país é continental e as realidades mudam de cidade para cidade e até mesmo entre as empresas. Hoje, 92% das empresas são de pequeno porte. Somos os maiores empregadores no país. Apesar da crise, carregamos grande parte dos brasileiros, dando exemplo nessa pandemia”, frisou.
Ivo Dall’Acqua encerrou sua apresentação recuperando a memória da criação e implantação do Sicomércio, reconhecendo a importância estratégica de sua estruturação, elaborada pelo antigo chefe da Divisão Sindical da CNC, Washington Coelho. “Destaco o fato de a Divisão Sindical estar orientando todas as entidades filiadas a promover sua atualização e adequação estatutária para este novo tempo, lembrando que, finalizado esse processo, o plano confederativo do Comércio estará pronto para discutir e implantar sua autorregulação”, disse Dall’Acqua.
Recuperação econômica
O Painel Economia e Comércio no Brasil, mediado por Lucas Schifino, da Fecomércio-RS, reuniu os economistas Fábio Bentes, da CNC; Patrícia Palermo, da Fecomércio-RS e Alexandre Englerts, do Sicredi. Para Englert, o cenário é de retomada. “Vivemos uma crise muito diferente das outras. Perdemos empresas, mas muitos vão voltar. Mesmo assim, existem vários pontos de atenção. A inflação tende a ser reduzida no ano que vem, muito na esteira do crescimento da Selic, estimada em 9% para 2022, e no ajuste dos preços das commodities. Esse, aliás, é outro ponto de atenção, porque a Selic sobe para conter a inflação, freando o consumo. Mas ela traz consigo o efeito colateral do encarecimento do crédito, o que sufoca as empresas”, disse Englert. Também para 2022, o economista do Sicredi previu o reaquecimento do mercado de trabalho, com níveis mais altos de contratação, sobretudo pelo comércio e pelos serviços.
Foram apresentados alguns números e percepções sobre o tema e, em linhas gerais, os economistas traçaram um cenário positivo, embora ressaltem que os pontos de atenção e incertezas devam se estender até o final de 2022. Para Bentes, o varejo estava com uma taxa de crescimento próxima dos 11% no país, até julho, o que reforça o otimismo para um fechamento de ano digno de comemoração. “Mesmo sabendo que parte desse crescimento se deve à baixa base de comparação, precisamos destacar o quão importante é estarmos crescendo”, disse o economista da CNC, que fez questão, ainda, de destacar que o varejo voltou a ser visitado, apesar de todo o crescimento do e-commerce, que, só no ano passado, disparou 40%. “E os reflexos disso estão nos sucessivos aumentos de vendas que vimos registrando desde março deste ano”, completou.
O digital que veio para ficar
Representando a força da mulher no mundo empreendedor, a economista Patrícia Palermo, se mostrou feliz em ver as pessoas em 3D. Segundo ela, a partir da pandemia o avanço digital trouxe uma nova configuração do mercado varejista. “Ficamos mais tempo em casa, próximos da família. Recuperamos velhos hábitos, mas precisamos acompanhar as mudanças, pois num determinado dia as lojas fecharam e fomos obrigados a viver uma compra on-line”, comentou. As vendas digitais que antes da pandemia representavam 9,2% do faturamento, hoje saltaram para 21,2%, segundo sondagem feita pela Fundação Getúlio Vargas. “Isso veio para ficar. A loja digital abre 24h por dia, sete dias por semana, 30 dias por mês e 365 dias por ano. E ela não veio destruir o varejo físico, veio complementar. Então, é essencial se dar conta de que o ponto, que foi o mais importante durante muito tempo, hoje está na mão do consumidor. A loja tem que ir ao cliente, porque o cliente não vais mais tanto na loja”, enfatizou.
Expectativa de recorde na geração de empregos formais
A palestra do Ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, destacou dois programas que foram essenciais para o enfrentamento à crise gerada pela pandemia do Coronavírus. Um deles é o Pronampe – Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, que financiou as empresas, permitindo que se mantivessem ativas no período. O outro, o BEM – Benefício Emergencial de Manutenção de Empregos, que ajudaram a manter 12 milhões de vagas quando tudo estava fechado. Segundo Lorenzoni, a redução de jornada e o acordo por meses foi uma prática adotada por diversos países. Coube ao Brasil, ressaltou, a diferenciação de exigir que o emprego fosse mantido depois que tudo voltasse ao normal, pelo mesmo período.
“Com o trabalho que estamos desenvolvendo, esperamos superar a meta de abrir 2,2 milhões de novas vagas formais somente este ano. Estamos num crescimento espetacular que vai nos levar bem mais longe, o que será recorde na década, garantindo um bom 2022”, acentuou. “Em agosto, segundo dados do Caged, geramos 372 mil empregos, 180 mil vindos do comércio e serviços. Vocês merecem nossa palavra de agradecimento e gratidão, porque vocês não desistiram, não fecharam as portas, se mantiveram de pé, abastecendo o Brasil. Foram heróis, enfrentando as maiores dificuldades”.
O salto da Renner no e-commerce
A Palestra Magna sobre Gestão do presidente do Conselho de Administração da Renner, José Galló, agregou o case de uma gigante do varejo que com a pandemia do Coronavírus viu suas vendas no e-commerce saltarem de 12,3% para 126%, sendo que deste total 50% são operações feitas por novos clientes. Segundo Galló, empresas que possuem uma proposta de valor diferenciada passam mais facilmente por uma crise. “Durante a pandemia não foram só os empresários que ficaram com medo, mas seus colaboradores também, e em muitas empresas nós vimos que os líderes fizeram a gestão desse medo cuidando de seus empregados, preservando seus empregos e procurando soluções para diminuir o impacto em seus negócios”.
Para o empreendedor, as empresas que contam com líderes visionários evoluirão mais rápido e sairão melhores da crise. “O mundo está aí para todos. Para os pequenos, grandes e médios. Mas para alcançar resultados é preciso mudar o jeito de pensar, buscando ideias com seus colaboradores e trazendo propostas diferenciadas que se aproximem do consumidor”, reforçou.
Para encerrar, Comissões Temáticas e Oficina
No terceiro e último dia do Congresso, 1º de outubro, seis Comissões Temáticas aconteceram simultaneamente em seis espaços do Dall’Onder Grande Hotel no turno da manhã. O presidente do Sindilojas Porto Alegre, Paulo Kruse, conduziu o tema ‘Comércio em Shopping Centers e Lojas de Rua’, na Sala A do Centro Pinot. Na Sala E, André Roncatto do Sindióptica-RS, liderou a reunião de ‘Concorrência do comércio informal e feiras itinerantes’. O presidente do Sindilojas do Rio, Aldo Gonçalves, tratou da ‘Lei de Proteção de Dados’ no Salão Carmènére. Já no Malbec, o tema ‘Sustentabilidade financeira dos sindicatos’ teve a coordenação do presidente do Sindicomércio de Juiz de Fora, Emerson Beloti. ‘Tecnologia a serviço dos sindicatos’ foi a pauta de Roberto Peron, presidente do Sincotec-MT, no Salão Chardonnay. No Salão Assemblage, Frederico Leal, presidente do Sindilojas Recife, recebeu os congressistas para falar sobre o ‘Futuro do varejo e comércio eletrônico’. À tarde foi a vez da Oficina Negociações Coletivas com a apresentação de cases de Sindicatos sob a coordenação do presidente do Sindilojas de Foz do Iguaçu, Carlos Nascimento.
Cases nacionais nas Reuniões de Trabalho
A apresentação de 15 cases nacionais em três Reuniões de Trabalho marcou o primeiro dia do 36º CNSE. Mais de 400 congressistas participaram da programação. Executivos e assessores jurídicos e de comunicação trocaram experiências no Teatro da Fundação Casa das Artes e no Salão Carmènére do Dall’Onder Grande Hotel. A agenda foi liderada pelos coordenadores Márcio Sérgio Rodrigues, diretor Executivo do Sindilojas de Blumenau (SC); Flávio Obino Filho, advogado do Sindilojas Porto Alegre e por Lisandra De Bona, gerente Executiva e coordenadora de Comunicação do Sindilojas Caxias do Sul.
O 36º CNSE é uma realização do Sindilojas Regional Bento com apoio da Fecomércio-RS, da CNC e da Prefeitura de Bento Gonçalves e patrocínio da Sicredi Serrana.
Fonte: Conceitocom Brasil
Fotos: Augusto Tomasi
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