Essa é a principal conclusão do Projeto S, estudo clínico de efetividade inédito no mundo realizado pelo Instituto Butantan na cidade. A redução foi constatada por meio da comparação dos dados desde o início do projeto até completar a vacinação de todos os grupos com o restante do trimestre avaliado (fevereiro, março e abril de 2021).
Os resultados também mostraram que a vacinação protege tanto os adultos que receberam as duas doses do imunizante quanto as crianças e adolescentes com menos de 18 anos, que não foram vacinados, explica o diretor do estudo e de ensaios clínicos do Instituto Butantan, Ricardo Palacios. “A redução de casos em pessoas que não receberam a vacina indica a queda da circulação do vírus. Isso reforça a vacinação como uma medida de saúde pública, e não somente individual”.
Cinturão imunológico
Outra conclusão do estudo é a avaliação da incidência da doença em Serrana na comparação com as cidades vizinhas. Serrana tem cerca de 10 mil moradores que trabalham diariamente em Ribeirão Preto, cidade distante a 24 km. Enquanto Ribeirão Preto e outras cidades da região vêm apresentando alta nos casos de covid-19, Serrana manteve taxas de incidência baixas devido à vacinação. Além da queda das infecções, os moradores que transitam em outras cidades não trouxeram incremento relevante nos casos. O Projeto S criou um “cinturão imunológico” em Serrana, uma barreira coletiva contra o vírus, reduzindo drasticamente a transmissão no município.
“As importantes conclusões do estudo poderão embasar as estratégias de imunização no Brasil e no mundo, e oferecem uma esperança do controle da pandemia com vacinas como a CoronaVac”, afirma o presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas. “Não precisamos criar ilhas para atingir a imunidade da população”, complementa Ricardo Palacios. “Nós conseguimos satisfazer a vontade das pessoas de retomarem suas vidas quando a vacina é ofertada. Isso nos gera uma luz de esperança”.
Pesquisa pioneira
A pesquisa, pioneira no mundo, foi desenvolvida pelo Instituto Butantan, aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP) e avaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O estudo foi realizado em parceria com a Secretaria de Saúde e a Prefeitura Municipal de Serrana. O objetivo do projeto é entender qual a efetividade da CoronaVac, ou seja, como a imunização de uma parte da população pode afetar o curso da epidemia. Na prática, entender como a vacina se comporta no mundo real.
O método utilizado para o ensaio clínico é chamado de implementação escalonada por conglomerados (stepped-wedge trial). Serrana foi dividida em 25 áreas, formando quatro grupos: verde, amarelo, cinza e azul, que receberam o imunizante seguindo esta ordem. A vacina foi ofertada a todos os maiores de 18 anos elegíveis para o estudo nestas áreas, de forma sequencial, em quatro etapas.
Entre 17 de fevereiro e abril deste ano, ao longo de oito semanas, cerca de 27 mil moradores do município receberam o esquema vacinal completo: duas doses da CoronaVac com intervalo de 28 dias entre a primeira e a segunda. Isso representou uma cobertura próxima a 95% da população adulta, segundo censo de saúde feito previamente pelo Instituto Butantan.
Proteção para os não vacinados
O método de escalonamento permitiu avaliar e comparar as quatro áreas vacinadas, explicou Ricardo Palacios. “Percebemos que os fenômenos observados não acontecem aleatoriamente, mas se repetem nos quatro grupos em momentos diferentes”, afirma. “O resultado mais importante foi entender que podemos controlar a pandemia mesmo sem vacinar toda a população. Quando atingida a cobertura de 70% a 75%, a queda na incidência foi percebida até no grupo que ainda não tinha completado o esquema vacinal”, afirma o diretor do estudo.
“A vacina é segura, eficaz, eficiente, de altíssima qualidade, e contribui para prevenir o desenvolvimento da doença, complicações e óbitos entre os infectados. Agora também sabemos que ela provoca efeito benéfico em uma população inteira, protegendo tanto os vacinados quanto os não vacinados e reduzindo a circulação viral de forma expressiva”, conclui Dimas Covas.
Intervalos de confiança dos índices de redução
Casos sintomáticos
– Queda de 80% (Intervalo de Confiança 76,9% – 82,7%)
Internações
– Queda de 86% (Intervalo de Confiança 74,1% – 92,3%)
Mortes
– Queda de 95% (Intervalo de Confiança 62,7% – 99,3%)
Fonte: Agência Brasil
Foto: Reprodução
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