São Luiz: a memória pulsante de uma vila ferroviária

Documentário sobre a comunidade será lançado no final do segundo semestre

São Luiz fica no interior do distrito de Tuiuty. Antes de atravessar a Ponte Ernesto Dornelles, mais conhecida como do Rio da Antas, pega a primeira a direita e segue até o topo do morro. Ao subir, a equipe de gravação do projeto Patrimônio Vivo buscou em seus habitantes testemunhos de como aquele local se constitui como ponto de progresso num tempo não muito distante, de abrir caminhos para a malha ferroviária. Atualmente, tem cerca de 100 habitantes, sua maioria de descendência italiana, além de ter a presença negra.

O projeto é liderado pela historiadora Sabrina de Lima Gresselle que, por meio de recursos da Lei Paulo Gustavo, empreendeu uma investigação audiovisual sobre os impactos dessa, até então, modernidade nas famílias e no trabalho, nos costumes e nos hábitos. Sim, trata-se de um documentário, onde a memória oral de seus personagens evidencia um olhar restaurador. Por meio de entrevistas, surge o tecido de narrativas as quais vão ser conhecidas no final do ano 2025, quando o filme for lançado. As gravações aconteceram nas casas das pessoas e em pontos estratégicos (re) criando temporalidades e espaços, sentimentos e histórias, enunciados que formam um microcosmo próprio, onde o individual e o coletivo expressam uma organização social e de raízes com o local.

São Luiz tem como primeiro documento de 1897, que é a cópia de uma escritura de compra de um terreno no lote 45 em abril 1897 – perto ou pros lados de Jaboticaba. Foi feito um capitel de madeira que manteve o quadro de Sant’Ana. A característica maior do local ocorre quando chega o 1º Batalha Ferroviário, em Bento Gonçalves, em 1943, fixando-se onde hoje é o quartel, no bairro São Roque, que constrói cinco vilas ferroviárias, todas localizadas na Zona Norte, sendo uma delas São Luís. No entanto, tem documentos sobre a Via Férrea que apontam a construção, em 1925, da existência da estação de Veríssimo de Matos. Jaboticaba é a última vila e os registros apontam para a inauguração da estação em 1967, e quanto ao Batalhão Ferroviário, deixa Bento Gonçalves em 1971. Quanto à desativação da ferrovia ramal Bento-Jaboticaba em 1976.

De acordo com Sabrina, o documentário vai de encontro de como a ferrovia impactou aquela comunidade.

“É entender a dinâmica da construção da identidade e das memórias, qual o significado para as pessoas, o sentimento de pertencimento, a percepção do lugar e dos usos. Uma questão interessante era como foi estruturada a vila. No início dela, as moradias eram destinadas para as patentes mais altas até chegar nas mais simples, e foi constituída por escola, igreja, caixa d’água e as próprias casas das famílias que trabalharam na construção da malha ferroviária. No documentário, vamos mostrar como ela se encontra hoje: paisagem e memória”.

Assim, foram realizadas entrevistas e depoimentos dento de um arco etário que vai de 30 aos 70 anos. Para além de ser objeto de estudo, já que o local foi tema do seu TCC, São Luiz tem uma relação afetiva com Sabrina: tanto a família materna quanto paterna tem raízes naquela comunidade. Seu avô paterno trabalhava como carpinteiro do Exército e o avô materno, na rede ferroviária.

“É um processo de descobertas e o documentário possibilita uma forma de visibilidade maior para que mais pessoas possam conhecer a história do município. Nossa metodologia partiu de uma conversa com os moradores para explicar o projeto, reuniões, as gravações e oficinas de Educação Patrimonial com alunos dos 8º e 9º anos da EEEF Ângelo Salton juntamente com a produtora cultural Fernanda Tomasi. Agora seguimos com o cronograma com a edição e no final do segundo semestre vamos lançar o documentário Patrimônio Vivo”.

A equipe técnica é formada pela consultora em projeto culturais com acessibilidade, audiodescrição e transcrição de áudios, Juliana Grando Peixoto, produtora cultura, Fernanda Tomasi, produção audiovisual da Lactato Movie, designer e publicitária Natália Bertuol, intérprete de Libras Grasiele Pavan, e contador Vinícius de Carli Cristofoli.

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