Romaria deste ano tem como lema “Com Maria, a Mãe de Jesus, por uma cultura do encontro”
Ao chegar em sua 140ª edição, a Romaria de Nossa Senhora de Caravaggio, que ocorre anualmente em Farroupilha, merecia carregar um lema que traduzisse anseios não só da comunidade católica, mas que destinasse igual atenção a povos de diversos cantos do mundo, de diferentes crenças.
Por isso, ao eleger como tema “Com Maria, a Mãe de Jesus, por uma cultura do encontro”, a equipe da romaria quer ressaltar o que Papa Francisco insiste diante de seus firmes discursos: que a indiferença ao sofrimento alheio ceda espaço à cultura do encontro que une, ora e supera preconceitos e qualquer tipo de fechamento. O lema da romaria é, portanto, uma maneira também de ressaltar os seis anos de pontificado do Papa Francisco ao reforçar e replicar os ensinamentos que uma das personalidades mais influentes do mundo transmite em suas falas. A 140ª romaria deve reunir cerca de 140 mil devotos nos dois dias de festa, celebrados em 25 e 26 de maio.
O local em que o Santuário Diocesano de Nossa Senhora de Caravaggio está situado, na Serra Gaúcha, é um dos cenários em que a cultura do encontro se faz reconhecida. Na verdade, a história da povoação da região há 144 anos é o reflexo mais verdadeiro deste conceito. Foi em 1875 que italianos desembarcaram de navios no Rio Grande do Sul após viagens tortuosas de mais de 30 dias, uma epopeia historicamente reconhecida. A ideia era saciar a fome, deixar a miséria no passado e construir uma nova e próspera história em território gaúcho – mais especificamente na Serra Gaúcha. A miscigenação e acolhida envolveu ainda origens alemãs, polonesas, austríacas e de outros países europeus, e o desfecho é de uma região desenvolvida e cercada pela miscigenação.
Situação semelhante vivida na época da Copa do Mundo de 2014, quando uma quantidade expressiva de senegaleses, haitianos e ganeses desembarcou em Caxias do Sul em busca de uma vida mais digna e com oportunidades. A Serra, então, se firma como destino migratório não só de povos de outros países, mas também é escolhida por moradores do próprio estado do Rio Grande do Sul para buscar emprego e, por consequência, uma vida mais digna. Exemplos que vão além são iniciativas que surgem dos próprios migrantes e de comunidades locais que têm facilitado a vida de quem chega, obtêm emprego e cria vínculos. Neste ano, a Serra acolhe também venezuelanos. Ainda que não haja estimativa oficial da chegada destes povos, sabe-se que o fluxo migratório segue sendo semanal.
No início de maio, os neopopulismos e suas consequências foram tema abordado pelo Papa Francisco aos participantes da Plenária da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, no Vaticano. Em sua fala, o pontífice fez uma reflexão sobre a forma como migrantes são acolhidos e, por consequência, como políticas públicas podem contribuir para a pacificação desta chegada. “Quando uma pessoa ou uma família é obrigada a deixar a própria terra, deve ser acolhida com humanidade”, disse Francisco, enumerando quatro pontos que estão sob responsabilidade de governos diante da migração: acolher, proteger, promover e integrar.
“Com Maria, a Mãe de Jesus, por uma cultura do encontro” é a escolha de um lema que tenta colaborar com Papa Francisco nesta tarefa de reduzir ódios, terrorismo e discriminação, conforme conta o reitor do Santuário, padre Gilnei Fronza. “Nós fizemos esta 140ª romaria olhando para o pontificado dele e nos perguntando se não seria importante contribuir diante desse mundo cercado de ira, preconceito e indiferença. A palavra que surgiu é a ‘cultura do encontro’, que nada mais é que caminhar juntos, com interação, respeito e que o isolamento não prevaleça”, afirma.
O lema é também difundido à comunidade em um hino lançado no mês de maio. A letra da música, que é tocada em celebrações e eventos votivos a Caravaggio, remete a uma igreja em saída, com olhar ao pobre, ao fraco e lembrando sobre a importância de caminhar com Maria.
São mais de 20 quilômetros que milhares de romeiros costumam percorrer, ano a ano, até chegar ao Santuário de Farroupilha em busca de reflexão, paz e é claro, a bênção da Mãe de Caravaggio. A caminhada, muitas vezes marcada por uma estrada íngreme e desafiadora, deixa a cada romeiro ensinamentos de fraternidade, paciência e superação.
Esta edição, portanto, quer deixar claro que o convite para que devotos participem da romaria seja carregado de boas intenções e de sentimentos correspondentes aos que o Papa Francisco deixa ao longo destes seis anos de trabalho. “Nossa romaria é peregrinar, é caminhar, é encontrar consigo e também com os outros. Quem convive, quem interage e caminha junto tem um comportamento de construção. Quando as nações se separam, quando os muros são construídos, o Papa diz ‘não, estamos indo para o caminho errado!’. Por isso, quando você está caminhando nesta romaria, você quer encontrar algo que transcende os limites, o cansaço: é o encontro com Caravaggio, com Deus e com o amor”, encerra padre Gilnei.
Confira a letra completa do hino:
Com Maria a mãe de Jesus
Cantemos um cântico novo
Em espírito, alma, em um só coração
Somos Senhor o teu povo.
Com Maria a mãe de Jesus
Peregrinos na graça do encontro
Com Maria a Mãe de Caravaggio
Amor que dá paz para o outro
Com Maria a mãe de Jesus
Somos Igreja em saída
Pontes que unem o humano ao Amor
Na defesa do pobre e da vida
Fonte: Santuário de Caravággio
Foto: Leandro Ávila/Divulgação
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