Radares móveis desligados: “Calamidade à vista”, diz diretor do Detran-RS

O primeiro fim de semana com radares móveis desligados nas rodovias federais já dá o tom de um nada promissor futuro que se avizinha se persistir a decisão da Presidência da República em mantê-los inativos. Entre o sábado e o domingo passado, oito pessoas morreram em estradas federais do RS. Esse foi o maior número de mortes registrado nos fins de semana deste ano nesse tipo de rodovia. Falamos aqui não de estatísticas, mas de vidas. De famílias destroçadas.

Esse incremento de mortes, de dor e de sofrimento vem na contramão, e em colisão frontal, com os aprimoramentos de legislação e com os esforços que as autoridades vêm realizando nos últimos anos. E, se considerarmos a última década, isso vinha se refletindo em uma clara redução no número de mortes no trânsito no Rio Grande do Sul.

O semestre passado foi, em nosso estado, aquele que teve o menor número de mortes registradas nos últimos doze anos. E o ano de 2018, aquele com o menor número de vítimas também considerando-se os últimos doze anos. Vamos mesmo retroceder? O radar móvel é o único instrumento capaz de coibir sujeitos que insistem em trafegar em velocidades altíssimas, incompatíveis com a via, incompatíveis com a vida. O que um policial rodoviário federal pode fazer se flagrar um rastro de luz a visíveis 180, 200 km/h? O infrator pode, no máximo, ser interpelado, mas já não pode mais ser autuado. É o triunfo do mau condutor.

Alijar a polícia da prerrogativa de multar – o que exerce, gostemos ou não, finalidade pedagógica – é proporcionar que as nossas rodovias federais convertam-se em matadouros que sacrificarão culpados e inocentes porque imprudentes irresponsáveis passaram a ter salvo-conduto para transgredir. Evidentemente que todo método de fiscalização pode e deve ser revisto, inclusive alguns pontos do Código de Trânsito vêm sendo rediscutidos, mas é intolerável que a desativação dos radares móveis nas rodovias federais prospere.

Não é uma questão ideológica, nem de politicamente correto ou incorreto: é a calamidade pública desfilando bem diante dos nossos olhos. Tomara que o bom senso ajude a retirar essa obscura viseira que impede alguns de enxergar a realidade que se avizinha.

Artigo de opinião do diretor-geral do Detran-RS Enio Bacci

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