Desde a última semana, a Prefeitura de Bento Gonçalves apresenta uma série de reportagens sobre o projeto Laços Patrimoniais, do Museu do Imigrante. A pesquisa considerou parâmetros que auxiliassem no diálogo entre história e arquitetura. Assim, foram elencados oito eixos, locais geográficos onde o estudo se concentrou e possibilitou verificar as lacunas referentes ao inventário de 1996.
O Eixo 1 é composto pelos Bairros São Roque, Cidade Alta e Centro – Conjunto da Igreja Metodista. Na primeira matéria o foco foi no primeiro bairro, tendo abordado o Complexo do Batalhão e o Conjunto da Igreja São Roque. Agora, vamos abordar os dois últimos. De acordo com a museóloga Deise Formolo, “é um amplo estudo que estamos realizando que possui um caráter que visa a educação patrimonial, bem como, o reconhecimento dos bens culturais materiais. Dessa forma, incentivamos as políticas públicas de acautelamento e preservação”.
Eixo 1 – Sede urbana – Centro – Cidade Alta
Os conjuntos do Centro (Cidade Baixa), Cidade Alta e São Roque são os primeiros núcleos de ocupação urbana do município, sendo marcos na sua evolução territorial, onde se instalaram as principais paróquias, comércios, indústrias, instituições e clubes sociais. Diante da complexidade do patrimônio que representam, a abordagem desses conjuntos é feita por meio da análise perceptiva dos locais, bem como, por meio de análise da evolução urbana através de fotografias. Além disso, os lugares são avaliados buscando uma visão alternativa em relação à tradicional, buscando a representatividade e diversidade das minorias.
O conjunto integra a Área de Preservação ao Patrimônio Histórico, Cultural e Turístico (APPAC) Centro (Cidade Baixa), previsto no Plano Diretor Municipal. Como instrumentos de gestão, recomenda-se a identificação do perímetro de tombamento da Igreja Metodista (embora tombada, ainda não há estudos que delimitem os níveis de preservação e formas de financiamento), com identificação das vistas a serem protegidas e níveis de preservação das edificações inventariadas, bem como, a inclusão no inventário das edificações modernas da Rua Júlio de Castilhos, buscando a valorização da paisagem. Também seria importante a delimitação de roteiro memorial contando a história da presença metodista da cidade e da industrialização do entorno, cuja arquitetura foi perdida.
A construção da ferrovia até a Cidade Alta, nas primeiras décadas do século XX, demarca o início do segundo núcleo de urbanização do município, o qual contou com o segundo momento de migração de grupos de etnia negra para Bento Gonçalves.
Na edição do “Café com Memória – Histórias de Vidas Negras”, os participantes falaram do nomadismo de suas famílias até chegarem para trabalhar nas ferrovias de Bento Gonçalves. Antônio Roberto de Assis relata a ligação de sua família com as ferrovias e a vinda a Bento Gonçalves em 1919, contando que seu pai e seu avô eram ferroviários e vieram para Bento à medida que a construção avançava, instalando-se ao lado da ferrovia.
Em seu relato, Ireno Da Silva (2019) lembra que seu avô trabalhava na manutenção dos trilhos sendo que havia uma turma da estação que fazia o serviço entre Bento Gonçalves e Tamandaré e outra que fazia entre Tamandaré e Garibaldi. Um ponto de conflito que relata é a ocupação da terra às margens da ferrovia por esses trabalhadores, pois não havia construção de casas para os que faziam o serviço pesado. Suas moradias foram construídas nas áreas públicas próximas onde se trabalhava e ali plantavam e criavam animais para completar o seu sustento.
A Cidade Alta já possui diversas edificações inventariadas, porém todas estão cadastradas sob a ótica da imigração italiana e do valor arquitetônico isolado. As Casas Milani, na esquina com a Igreja Cristo Rei, a antiga Casa Tregnago (Bar Colosseu – hoje Rosmarino), o coreto (ornamentado com um leãozinho) na Rua Olavo Bilac e o conjunto da Estação Férrea (formado por Estação, Depósito, Caixa d’água e conjunto de casas) seguem linguagem eclética historicista. O conjunto da CIA Vinícola Riograndense, a Casa Pompermayer (hoje galeria da arte) seguem a linguagem Art Déco, além da Igreja Cristo Rei, neogótica com traços Art Déco.
O Plano Diretor determina a APPAC Cidade Alta, com o intuito de preservar as edificações com mais de 50 anos mapeadas no Anexo 5.3 ME. Entre essas, identificam-se várias que ainda não são inventariadas, mas que possuem valor como patrimônio industrial e por formar conjunto, cuja arquitetura moderna segue as linguagens Art Déco ou proto-moderna, fazendo parte da história industrial do bairro. Entre as construções da Rua 10 de Novembro identificam-se a Companhia Vinícola Rio Grandense, Armazéns, Moinho Tondo, Casa Fontanari e Casa de Luiz Matheo Todeschini. Outras construções que integram a paisagem da Igreja e das indústrias, mesclam uma arquitetura de imigração do período tardio com linguagens modernas, como o conjunto do antigo Hotel e Café América (hoje uma farmácia) e a atual Casinhola, no entorno da igreja, bem como a antiga Acordeões Scala (atual Comabe), que faz conjunto com a Cooperativa Vinícola Aurora.
Como instrumento de proteção do conjunto da Igreja Cristo Rei e do conjunto da Estação Ferroviária, indica-se o tombamento das construções principais, com perímetro demarcando os conjuntos e seus níveis de preservação, reconhecendo também os vestígios de ocupação da comunidade negra e ferroviária. Como instrumento de gestão, indica-se também a chancela da paisagem cultural e do patrimônio industrial, aliados à promoção de eventos culturais e turísticos de caráter memorial, como festas ou feiras vintage e caminhadas que remetem à perda com o objetivo de referenciar os espaços memoriais da cidade onde o patrimônio material já tenha sido perdido ou esquecido.
A equipe do projeto é formada por Deise Formolo, Cristiane Bertoco, Ivani Pelicer, Angela Maria Marini, Sabrina De Lima Greselle e Margit Arnold.
O projeto “Laços Patrimoniais: construindo um inventário colaborativo para Bento Gonçalves” recebeu recursos de R$ 50 mil da Secretaria de Estado da Cultura, sendo selecionado no âmbito do Edital SEDAC nº 01/2019 “FAC Educação Patrimonial”
Laços Patrimoniais no Facebook: https://www.facebook.com/La%C3%A7os-Patrimoniais-107751601027534
Email do projeto: laçospatrimoniaisbg@gmail.com
Para mais informações, contate Museu do Imigrante pelo fone (54) 3771.4230.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura de Bento Gonçalves
Fotos: Divulgação / Museu do Imigrante / Crédito das fotos: Wagner Meneguzzi
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