Projeto de circulação sobre Artemísia Gentileschi amplia repertório histórico e artístico para diferentes públicos

Contempladas pelo Fundo Municipal de Cultura, palestras estão sendo ministradas pela historiadora Cristine Tedesco

Duas mulheres, dois tempos. Uma viveu no período barroco, na Itália; a outra, vive em Bento Gonçalves, na Era Digital. Duas mulheres a frente do seu tempo e espaço, reconhecidas pelas suas atuações na área das Artes Plásticas e da História. Caminhos cruzados, histórias em curso. A primeira vez que a historiadora Cristine Tedesco ouvir falar da pintora italiana Artemísia Gentileschi foi em 2010, de quando estava fazendo o Curso de Restauração de Obras Raras no ateliê do Museu dos Freis Capuchinhos. Na época, o Frei Celso Bordignon sugeriu o tema de mulheres artistas plásticas entre os séculos XV e XVII (Idade Moderna). Tinha três nomes: Artemísia foi a escolhida.

De lá para cá, Cristine dedicou uma pesquisa intensa que resultou em dez, marcando em 2020 o lançamento de obra “Artemísia Getileschi”, fruto de seu mestrado e primeiro livro em língua portuguesa sobre a pintora. Agora, em 2024, Cristine está realizando uma série de palestras onde expande o período e personagens que foram conterrâneas da artista italiana, evocando temas que encontram, na atualidade, importantes reflexos na conquista de protagonismos femininos.

No total, são 18 palestras, contempladas pelo Fundo Municipal de Cultura, ministradas em cidades do Rio Grande do Sul como Bento Gonçalves, Pelotas, Caxias do Sul, e estados como Santa Catarina e Paraná. Como diz Cristine, o objetivo “é de democratizar o acesso a esse conhecimento sobre Artemísia Genttileschi e sua época, em espaços do saber como universidades, museus, e instituições, como o Centro Revivi, onde foi falado de diversos tipos de violência e suas semelhanças entre aquela época barroca e hoje”.

Em cada local, foi adaptado o assunto de forma independente, como, por exemplo, na Biblioteca Pública Castro Alves, foi abordado a escrita, temáticas e as escritoras contemporâneas da Artemísia. No Sesc, com o público formado por produtores culturais do EJA, foi sobre mulheres na música.

Já na ADEF foi debatido sobre a arte e acessibilidade, como tornar conteúdos artísticos acessíveis e também foi abordada a história de uma pintora que foi contemporânea da Artemísia que ao longo de sua vida desenvolveu uma deficiência visual. “Tratei dessa trajetória de como ela seguiu pintando. Os temas das palestras têm a ver com o público que vai recebê-las”, evidencia Cristine.

A difusão de seu legado e memórias de Artemísia expressam uma coesa ligação com o contemporâneo, com desdobramentos como vistos acima, alinhando paralelos da luta de reconhecimento e valorização do gênero feminino. A historiadora reflete sobre a atualidade de Artemísia.

“A coragem de inserir numa área onde pouco as mulheres atuavam. Artemísia foi a primeira mulher artista que conseguiu ao longo de sua vida atuar sobrevivendo pela pintura, não tendo uma figura masculina a frente dela, tendo reconhecimento fora da Itália. O que podemos trazer para os nossos dias é evocar a sua coragem de não desistir, mesmo com um contexto difícil para as mulheres, onde precisam fazer muito mais”, enfatiza.

Os projetos de circulação permitem ampliar conhecimentos para diferentes públicos, e as palestras veem abrangendo um processo de fruição cultural. A historiadora fala sobre a recepção das palestras. “Eu percebo que está sendo bastante positiva. Muitos ouviram falar dela por meio dos materiais produzidos por mim, e outros foi a primeira vez que ouviram falar. Isso está gerando o interesse de colocar esse conteúdo nas grades curriculares, de levar para a sala de aula”, ressalta a historiadora.

Ainda, Cristine enfatiza que o Fundo Municipal de Cultura é uma ferramenta para o livre exercício da cidadania cultural, além de auxiliar na consolidação das profissões da área. “É muito especial, pois oportuniza os proponentes possam produzir seus conteúdos e tornar acessíveis e fazer com que se tornem patrimônio na área do conhecimento. É uma política pública já consolidada no município e os produtores, os artistas, os proponentes, conseguiam se inserir no mercado da cultura”.

As palestras têm mediação de Eunice Pigozzo.

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