A infestação dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus, transmissores de arboviroses (doenças como dengue, zika e chikungunya), está mais alta do que parece no Rio Grande do Sul. É o que conclui uma análise do Laboratório de Biologia de Populações do Instituto de Biociências da UFRGS, que aponta uma diferença considerável de municípios infestados quando comparada com os dados das vigilâncias municipais.
O trabalho foi liderado pelo pós-doutorando André Luís Luza e orientado pelo professor Gonçalo Ferraz, em colaboração com a professora Lavinia Schuler-Faccini. A pesquisa teve ainda participação de duas profissionais da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul: Lúcia Diefenbach e Carolina Gualdi.
Além de avaliar o tempo de infestação, a pesquisa procura confirmar se a vigilância em saúde tem sido eficiente em detectar a presença dos mosquitos e reportar adequadamente os casos de arboviroses nos municípios. Para isso, foram utilizados os dados da vigilância de Aedes aegypti e Aedes albopictus realizada no RS durante as 104 semanas epidemiológicas de 2016 e 2017.
Com as estimativas de um modelo estatístico, foi possível contar o número esperado de semanas em que cada um dos 496 municípios do Rio Grande do Sul permaneceu infestado. Fatores como a variação semanal na probabilidade de infestação, a chance de a infestação ser oriunda de municípios vizinhos e a chance de a vigilância falhar em detectar infestações quando na realidade elas existem foram avaliados. Esses dados foram comparados com as observações feitas pela vigilância, que não consideram os fatores mencionados no modelo estatístico e, portanto, devem subestimar o número de municípios infestados.
Para a conclusão da análise, a classificação oficial e a infestação esperada com os casos de arboviroses registrados nos municípios durante o período de estudo foram cruzados, de modo a saber se municípios oficialmente tratados como “não infestados”, mas com alta probabilidade de infestação, tiveram casos de arboviroses registrados.
A partir desse processo, percebeu-se uma subestimativa de até 100 municípios quando comparado o número observado com o número esperado de municípios com infestação. Esta subestimativa está concentrada principalmente na região leste do estado, com muitos municípios oficialmente considerados não infestados com alta probabilidade de infestação. Barão, Barra do Ribeiro e Portão – tratados oficialmente como “não infestados” – apresentaram casos de arboviroses, uma grave falha em termos de antecipação do risco de contágio.
O estudo também constatou que os mosquitos não necessariamente desaparecem durante o inverno – mais de 25% dos municípios permaneceram infestados durante todo o período de estudo (pelo menos em sua forma de ovo ou larva). Cidades das regiões noroeste e metropolitana de Porto Alegre possuem o maior risco de permanecerem infestadas durante todo o ano pelo Aedes aegypti. O Aedes albopictus, por sua vez, tem maior possibilidade de infestação nas cidades da região da Serra Gaúcha e Serra da região central.
“O modo atual de registro não nos permite saber se municípios não amostrados estão livres de infestação. Deste modo, há risco de que casos de arboviroses ocorram em municípios aparentemente livres de infestação pelos Aedes aegypti, situação identificada em três municípios do RS ao longo do nosso estudo. Esta é uma situação de elevado risco, tanto pelo despreparo do sistema de saúde para registrar os casos e conter a transmissão, quanto pelo despreparo do sistema hospitalar para receber pacientes infectados”, comenta André, líder da pesquisa.
A vigilância da infestação de Aedes nos municípios brasileiros é feita através de métodos de monitoramento que consistem basicamente na busca ativa e eliminação de criadouros – em diferentes períodos do ano – em locais que podem acumulá-los, como quintais de casas, cemitérios e terrenos baldios.
“Embora nosso estudo traga informações bastante úteis para uma melhoria imediata dessa vigilância, a ‘evolução’ dos métodos de vigilância se dá pelo acúmulo de informações sobre seu funcionamento e eficiência. Assim, é crucial que os pesquisadores continuem utilizando os dados provenientes da vigilância entomológica municipal e identificando as fragilidades que podem influenciar em seu funcionamento e eficiência. Somente desta forma acumularemos informação suficiente para a formulação de políticas de saúde que sejam condizentes com a situação epidemiológica dos municípios do Brasil”, complementa o pesquisador.
Cuidados e prevenções contra os mosquitos
O Aedes aegypti e o Aedes albopictus são mosquitos com hábitos diurnos. São de menor porte e com zunido muito mais sutil do que os conhecidos “pernilongos” (gênero Culex) que perturbam nosso sono durante a noite.
O Aedes aegypti é um mosquito que possui uma coloração que varia do marrom escuro ao preto, e que possui listras brancas distribuídas no corpo e nas patas. Olhando bem de perto, pode-se ver ao longo de seu tórax e cabeça uma mancha branca com o formato de uma lira. Alimenta-se basicamente de sangue humano, vive inserido no ambiente urbano e usa predominantemente recipientes artificiais como criadouro de seus ovos.
O Aedes albopictus também possui listras brancas distribuídas no corpo e nas patas. Entretanto, este é um mosquito predominantemente preto, e que possui ao longo de seu tórax e cabeça uma mancha branca de formato linear. Alimenta-se do sangue de animais silvestres e de humanos. Vive em locais mais arborizados dos municípios, como parques, praças, e região periurbana. Por estas razões, esta espécie pode participar do ciclo de zoonoses silvestres (doenças transmitidas entre animais e pessoas como a febre amarela, por exemplo) ao transportá-las para o ambiente urbano. Usa predominantemente recipientes naturais como criadouro de seus ovos.
“O ideal é que mosquitos Aedes sejam eliminados assim que detectados. Se indivíduos adultos forem detectados, o ideal é que se faça uma procura por criadouros de mosquitos nas imediações da residência, e que se elimine possíveis criadouros removendo a água parada, inviabilizando o recipiente, e colocando-o no lixo. Se Aedes aegypti e Aedes albopictus forem detectados em um município sem ocorrência reconhecida, o ideal é que os profissionais da vigilância em saúde do município sejam imediatamente informados”, finaliza André.
Para a prevenção da proliferação destes mosquitos, a prática mais importante é o descarte usual da água parada que se acumula em locais como calhas, vasos de plantas e garrafas.
Os informativos epidemiológicos semanais do Centro Estadual de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul (CEVS-RS) podem auxiliar na identificação dos municípios com e sem infestação.
Fonte: Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Foto: Divulgação
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