Percepções do Ver: novos olhares sobre o Museu do Imigrante

“É feito de metal, é leve, frio, de forma cilíndrica. Possui uma alça para segurar, uma base redonda, tem um pino que gira”. Essas são as primeiras descrições que os sentidos de Juliana Peixoto traduzem e comunicam de um lampião, também conhecido, no dialeto Talian, como chiareto. Por meio do tato e da audição, suas percepções vão descobrindo objetos e peças que integram a Caixa de Memória, atividade lúdica e pedagógica que faz parte da área de Educação Patrimonial do Museu do Imigrante.

Juliana ingressou como voluntária na equipe do Museu do Imigrante em abril deste ano. Formada em Letras pela Universidade de Caxias do Sul, é cega de nascença. No entanto, essa limitação visual não a impede de demostrar suas competências e suas habilidades de contribuir para o desenvolvimento dos trabalhos da instituição. Cumpre sua função abrindo novos horizontes para a realidade museal, ampliando seu papel dentro da sociedade de inserir novos públicos para que estes tenham acesso a uma cidadania cultural ativa.

Na maquete em três dimensões do próprio Museu do Imigrante, a voluntária descreveu com precisão e sensibilidade cada pequeno detalhe da maquete. “O prédio é em miniatura praticamente exata. Se fosse fazer só em desenho, no papel, é mais difícil, e eu como nunca enxerguei talvez não conseguisse entender, por isso que ele feito assim num formato real, em três dimensões, é perfeitamente compreensível”.

A arquiteta Cristiane Bertocco, que atualmente trabalha na instituição, realizou uma atividade sensorial com a maquete do Museu. A partir desta interação, Juliana fez perguntas sobre sua confecção: “com os questionamentos dela, percebemos detalhes que não tínhamos notado, como foi a representação interna das paredes, bem como, a transparência da representação do vidro. Isso nos permitiu ter um olhar mais acurado nos objetos. É uma troca de saberes que nos permite a ampliação de percepções sobre o nosso trabalho”.

Atualmente, Juliana está transcrevendo os relatos do projeto de Memória Oral, gravados em fita cassete, processo essencial para a salvaguarda e preservação do patrimônio cultural imaterial. Nele, estão presentes falas de pessoas que discorrem sobre assuntos como a história da cidade, curiosidades e culinária.

Além disso, está à frente de tarefas administrativas do Museu bem como realiza pesquisas de sites de outras instituições museais verificando a acessibilidade com o uso de leitores de tela. Os estudos são então repassados à empresa que está fazendo o site do Museu do Imigrante, como também textos sobre a história de objetos para a audiodescrição. Além disso, presta assessoria para as visitas guiadas.

A inciativa de trabalhar com cultura partiu da própria Juliana: “conversei com o Secretário de Cultura e presidente da Fundação e ele me disse que o Museu do Imigrante desenvolve um trabalho voltado para a acessibilidade. E agora estou aqui integrando a equipe como voluntária até mesmo para mostrar que a inclusão precisa ser natural. E por meio da convivência auxilia na quebrar de pré-conceitos e preconceitos. Está sendo um aprendizado e um desafio gigante e agradeço à Administração pelo acolhimento e pela valorização para os deficiente visuais”.

A museóloga Deise Formolo destaca as ações às acessibilidades basilares para melhoria da atuação do Museu, que agora conta com uma integrante que cuida da área de acessibilidade visual que qualifica a equipe. “Estamos iniciando a atividade pensando na acessibilidade do museu, mas temos ainda uma longa caminhada, e muita coisa precisa ser melhorada, não só nas atividades e na inserção de outras percepções e formações de pessoas dentro da instituição, mas com relação a acessibilidade física e outras acessibilidades para melhorar a infraestrutura de atendimento do museu para que as pessoas tenham completa autonomia. E a Juliana qualifica a nossa equipe técnica se juntando a profissionais das áreas de História e Arquitetura”.

O secretário de Cultura e presidente da Fundação Casa das Artes, Evandro Soares, reforça que a iniciativa do Museu “amplia nossos horizontes das inúmeras formas de integrar a inclusão social ao mercado de trabalho. É uma perspectiva que abre diálogos essenciais para a conscientização de estarmos quebrando paradigmas e mostrar a potencialidade de ir além de suas limitações. A sociedade como um todo só tende a ganhar integrando às suas pautas diárias a inclusão. Isso auxilia a combater os pré-conceitos e os preconceitos”.

 

Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura
Foto: José Martim Estefanon

(RM)

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