Nas últimas décadas, a tecnologia possibilitou significativos avanços na vitivinicultura brasileira. Acesso a diferentes processos de vinificação, a modernas formas de manejo e às mesmas técnicas empregadas nas mais reconhecidas paisagens vitícolas mundiais tem ajudado a aprimorar o vinho nacional. Mas nada disso seria possível se, em outra ponta, não estivesse a mão do enólogo. Entre as tantas atribuições desse profissional, que comemora em 22 de outubro o seu dia, está a de determinar o perfil que o vinho terá.
É um trabalho especialmente festejado na Festa Nacional do Vinho (Fenavinho), importante vitrine que, além de promover o vinho brasileiro, reverencia esse ofício. “A Fenavinho teve e vem voltando a exercer impacto muito grande no setor vitivinícola, incluindo a enologia. Acredito na Fenavinho não somente como uma festa, mas como um movimento em prol de todo o setor”, analisa o coordenador do comitê da 17ª Fenavinho, o enólogo Roberto Cainelli Jr.
A também enóloga e integrante do comitê na área de Enologia e Relações Comunitárias, Bruna Cristofoli, enxerga na festa um pioneirismo que hoje é razão de um dos sucessos das vinícolas – e que também tem alimentado o interesse pela profissão. “A Fenavinho contribui desde sempre para o setor, desde uma época em que os festivais de vinho eram raros e nem se falava em enoturismo. Então, a Festa começou a fazer enoturismo sem querer, contribuindo para o desenvolvimento do vinho em todos os campos”, diz Bruna. Todos esses predicados existem por causa da atividade do enólogo. “Ele é o elo entre o que a terra nos oferece com a nossa taça. Isso merece ser comemorado, pois os enólogos nos permitem provar a cada safra que passa esta bebida milenar”, diz o enólogo Daniel Panizzi, da área de Gastronomia do comitê da Fenavinho.
Provar o vinho na taça talvez seja, realmente, o melhor motivo para celebrar o trabalho do enólogo. Mas certamente não é o único. Cainelli diz que a qualidade do vinho, tanto perseguida pelos enólogos, vem sendo descoberta pelo mercado e destaca o momento da enologia brasileira. “Cada vez mais tem se falado em vinho brasileiro, penso que estamos vivendo o “boom” da enologia no Brasil, e que teremos um belo momento pela frente para todas as empresas, viticultores e enólogos. Teremos muitos motivos para brindar, e é só o começo”, projeta.
Bruna também destaca o momento da enologia e da vitivinicultura. Para ela, um dos grandes pontos a serem comemorados é a predisposição do brasileiro em provar o produto nacional. “O consumidor está mais aberto para provar o vinho daqui. Também estamos num momento de descoberta de novas técnicas de vinificação, com uvas diferentes, regiões vitícolas diferentes, então estamos num momento muito promissor da vitivinicultura”, diz.
Desafios e oportunidades
Essa conjuntura com a evolução do vinho brasileiro, o reconhecimento internacional e o estágio da vitivinicultura do país são resultados de um trabalho que tiveram o enólogo como figura central. A tecnologia, aponta Cainelli, foi um dos fatores para acurar o vinho brasileiro. “Hoje, temos manejos desde drones sobrevoando vinhedos para medição de evapotranspiração das vinhas até máquinas que selecionam os melhores grãos de uva antes de irem para o tanque. Também temos o desenvolvimento de variedades brasileiras, mais adaptáveis e sustentáveis”, ressalta, destacando as mais de 2 mil medalhas recebidas pelos vinhos e espumantes brasileiros no Exterior.
Para Panizzi, o envolvimento do enólogo nesses processos, assim como seu olhar para a matéria-prima, é fundamental para obter qualidade de produto. “A ida deste para o vinhedo e a descoberta do terroir e das variedades que melhor se adaptam sem dúvida fizeram que nossos produtos evoluíssem muito, safra após safra”, aponta Panizzi.
Bruna destaca todo o acesso às informações hoje possibilitadas pela tecnologia e as experiências dos enólogos vivenciadas em outras regiões vitícolas como impactantes no desenvolvimento da vitivinicultura brasileira, assim como o próprio enoturismo. Para ela, embora haja desafios como os ligados ao clima, a instabilidades de ordem política ou econômica e à tributação, há muitas possibilidades para os enólogos desenvolverem seu trabalho. “E não só dentro da vinícola, mas também no campo, na produção de uvas, na área de vendas de vinho, no enoturismo e também de explorar novas regiões vitícolas”, enumera.
Variações climáticas, novas variedades e investimentos em tecnologia são, para Panizzi, desafios constantes. “Vinho tem vida, e a cada safra que chega os enólogos precisam se adaptar para colher os melhores frutos possíveis”, opina.
Cainelli ressalta a necessidade de estreitar relacionamentos com os players de mercado para que o vinho chegue a um número cada vez maior de pessoas como desafio, e vê muitas oportunidades também. “Temos pela frente com certeza uma grande oportunidade, dada pelo atual momento do vinho no país, podemos trabalhar cada vez mais pela diversificação de produtos e terroirs, levando cada vez mais belas experiências incríveis através da garrafa até nossos consumidores”.
Fenavinho impulsiona possibilidades
Como um dos grandes agentes de promoção do vinho brasileiro, a Fenavinho desempenha papel importante para toda cadeia produtiva. A festa, que voltou ao calendário em 2019, depois de uma ausência de oito anos, está recuperando sua relevância. “A Fenavinho é um momento para celebrar o vinho brasileiro. Hoje a maior presença é de vinícolas da Serra, mas estamos trabalhando para que cada vez mais ela cresça e possamos ter vinícolas de outras regiões produtoras brasileiras”, diz Bruna.
Segundo ela, a festa agrega turismo, fazendo com que os visitantes conheçam a produção das vinícolas in loco. “A festa sempre contribuiu para nosso vinho”, destaca. Assim, contribui com toda cadeia. “A Fenavinho é a hora de comemorar e brindar os resultados da safra, e também difundir culturalmente todo o trabalho que começa lá no campo até o produto chegar nas nossas taças. Esses processos, por algumas vezes, demoram anos e isso precisa ser ressaltado”, diz Panizzi.
A Fenavinho tem o mérito de celebrar toda a cultura que envolve o vinho, do plantio das videiras pelo viticultor, passando pela colheita e pela arte de elaborar a bebida, numa ode às heranças da imigração italiana. Por isso, todo o setor se envolve neste que é a principal comemoração brasileira ao vinho no Brasil. “Trabalhamos com ações envolvendo todos os órgãos ligados ao setor. O agricultor através de seus sindicatos, o turismo através da associações e poder público, a Embrapa, que é o centro de pesquisa da cadeia em Bento, a Uvibra, que atua promoção e desenvolvimento setorial, o Sebrae, com ações de desenvolvimento e capacitação das pequenas empresas, a Emater com o trabalho do vinho colonial e os projetos culturais que levam a história do vinho até as crianças nas escolas, a própria ABE, que vem construindo um elo para futuros trabalhos de promoção. Enfim, através da festa e celebração do setor, promover aspectos culturais, sociais e tecnológicos para pungir cada vez mais o vinho brasileiro”, constata Cainelli.
Fonte: Exata Comunicação e Eventos
Foto: Divulgação Exata
(RM)
No Dia do Doador de Sangue, Hemocentro do RS homenageia entidades parceiras
Centenária imagem de Santo Antônio retorna ao Santuário, em Bento Gonçalves, após mais de 100 dias de restauro
IV Encontro Restaurativo reforça os ideais da cultura de paz em Bento Gonçalves