Museu do Imigrante divulga pesquisa relativa ao projeto Laços Patrimoniais

Dando continuidade à divulgação da pesquisa “Laços Patrimoniais: Construindo um Inventário Colaborativo para Bento Gonçalves”, o Museu do Imigrante aborda o Eixo 6 que compreende o Morro da Eulália – Linha Eulália Alta e Linha Eulália Baixa. Dessa forma, o estudo tem o objetivo de atualizar o inventário produzido em 1994, bem como averiguar a situação do bem cultural material inventariado, readequar e inserir novas informações.

A localidade conhecida como Eulália é uma área de transição entre a sede do município e o Distrito de Faria Lemos. Na divisão dos lotes coloniais, os limites geográficos e a topografia eram pouco considerados, sendo que na Colônia Dona Isabel o traçado ortogonal foi adaptado apenas ao longo da estrada geral e próximo à hidrografia principal. Dessa forma, parte da região conhecida como Eulália não integra apenas essa linha, mas também lotes da Linha Estrada Geral Oeste e da Linha Paulina, gerando dificuldades na legibilidade dos lotes coloniais no espaço geográfico, que chamaremos de Morro da Eulália.

O Morro da Eulália pode ser dividido em quatro partes, de acordo com a divisão de lotes coloniais e características de ocupação territorial. A primeira parte, acessando a Rua Joaquim Toniollo pela BR 470, é urbanizada, constituindo os bairros Caminhos da Eulália e São Vendelino, onde se localizam as casas da família Roman, atualmente Vinícola Mena Kaho, que integram lotes da Linha Estrada Geral. A segunda parte é a área conhecida como Eulália Baixa, atualmente uma zona de transição entre zona urbana e rural, nas proximidades da Capela Nossa Senhora de Monte Bérico, onde moram, entre outras, as famílias Rossato, Destro, Gabardo e Dequigiovanni.

A terceira e quarta partes constituem a zona rural do Distrito de Faria Lemos. A Eulália Alta, atendida pela Capela de Santa Eulália, conta com conjuntos inventariados das famílias Toniollo, Rossatto e Roman, além de outras construções com mais de 50 anos das famílias Zucchi (cujo sítio abriga uma pousada) e Mejolaro. A quarta parte se localiza entre a Eulália Alta e a estrada para o Vale Aurora, que integra aproximadamente os lotes 1 a 10 da linha Paulina, conhecida como Paulina Baixa, cuja disposição dos lotes se dá de forma longitudinal à topografia. Essa área conta com construções inventariadas das famílias Demari, Passaia e Cimadon, bem como a Capela de São Pedro Apóstolo, com cemitério e escola.

Esse conjunto da Paulina Baixa, situado no roteiro entre a Eulália Baixa e o Vale Aurora, contou com a contribuição da acadêmica de Arquitetura e Urbanismo Cíndia Cristina Torres Müller, que realizou estágio na Universidade de Caxias do Sul, orientada pela Professora Margit Arnold Fensterseifer. O estudo realizado identificou o grande valor histórico do sítio, que conta com um acervo completo de capela, cemitério, escola, residência, forno e cantina, integrados a uma paisagem cultural formada por parreirais bordados de plátanos (MÜLLER, 2020).

Além disso, a capela, de arquitetura vernacular excepcional é classificada por Posenato (1983) como traço espontâneo do período de Apogeu e conta com acervo de obras de arte, como uma imagem em madeira de São Pietro Apostolo, de autoria de Paolo Balestrelli, datada de 1894, um altar em madeira em linguagem eclética, sendo que interior e exterior encontram-se autênticos, em bom estado de conservação, considerando o tempo que está desativada.

As arquiteturas da Eulália têm como principal característica o caráter vernacular da arquitetura da imigração italiana no Rio Grande do Sul, que é classificado por Posenato (1983) entre as fases provisória, primitiva, apogeu e tardia, com alguns exemplares aculturados, segundo as linguagens arquitetônicas urbanas de sua época. A maioria das construções inventariadas correspondem a conjuntos familiares ou comunitários, cuja linguagem representa um acervo das quatro fases da arquitetura imigrantista, que pela sua proximidade com a zona urbana e integradas a um roteiro turístico, tem um grande potencial memorial, e, ao mesmo tempo, integração com atividades turísticas e agroindustriais relacionadas ao patrimônio imaterial e paisagístico da imigração italiana.

A maioria das construções visitadas integra o inventário atual, porém nem todas as construções complementares possuem ficha de cadastro própria, e nem sempre as mesmas são analisadas em conjunto. Entre as construções a serem incluídas nas novas análises identificam-se paióis, fornos e escolas. Além disso, a maioria dos conjuntos edificados possuem em seu interior acervos tridimensionais e documentais, que são vivenciados e utilizados pelas famílias até hoje, como fotografias, mobiliário, instalações, ferramentas, obras de arte sacra. O patrimônio imaterial relacionado à gastronomia, ao vinho colonial e à agroindústria, bem como celebrações, como festas comunitárias, também está presente. A paisagem vitivinícola é uma das principais características do lugar, representada pelos parreirais que formam marchetarias com plátanos ou palmeiras e jardins com roseiras.

No Plano Diretor Municipal, os conjuntos da Eulália Baixa, Eulália Alta e Paulina Baixa, estão identificados como Áreas de Preservação à Paisagem Cultural, estando demarcados também os roteiros culturais e turísticos existentes na localidade. A maioria das construções já se encontra no inventário, sendo necessária a atualização da sua visão de conjunto, complementação dos dados históricos e inclusão de edificações complementares mais recentes, como a Escola Municipal O.T. Cristina, no Conjunto da Capela São Pedro Apóstolo, a casa e o forno da família Passaia, junto à cantina do mesmo conjunto.

Outras construções complementares aos conjuntos familiares, serão identificadas como referências para estudos, especialmente as características do período tardio da arquitetura da imigração italiana. Destaca-se uma casa em ruínas, próxima ao conjunto Toniollo, cuja arquitetura aculturada segue linguagem eclética, o conjunto da família Mejolaro, cuja casa integra uma paisagem de parreirais bordados com plátanos, palmeiras e mata nativa. Também se destacam casas do período tardio que integram o entorno do conjunto Gabardo que, juntamente com fornos de pão, parreirais estruturados em plátanos, roseiras próximas às plantações e criações de animais domésticos, formam a paisagem da Eulália Baixa.

Tendo em vista a complementaridade desse patrimônio, que integra construções de diversas épocas, patrimônio imaterial, artístico, agroindústrias, paisagens naturais e vitivinícolas, avalia-se que o principal instrumento a ser aplicado é a chancela da paisagem cultural. Também é recomendável referendar a preservação de alguns conjuntos através do instrumento tradicional de Tombamento, de forma a possibilitar maior valorização turística e, ao mesmo tempo, conferir maior valor legal a essa preservação, potencializando eventuais projetos de recuperação.

A equipe do projeto é formada por Deise Formolo, Cristiane Bertoco, Ivani Pelicer, Angela Maria Marini, Sabrina De Lima Greselle e Margit Arnold.

O projeto “Laços Patrimoniais: construindo um inventário colaborativo para Bento Gonçalves” recebeu recursos de R$ 50 mil da Secretaria de Estado da Cultura, sendo selecionado no âmbito do Edital SEDAC nº 01/2019 “FAC Educação Patrimonial”.

Laços Patrimoniais no Facebook: https://www.facebook.com/La%C3%A7os-Patrimoniais-107751601027534

 

Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura de Bento Gonçalves
Fotos: Museu do Imigrante / Crédito das fotos: Wagner Meneguzzi / Divulgação

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