Missa em ‘talian’ relembra antigas cerimônias religiosas na região de colonização italiana

Promovido pelo COMITES-RS, em Flores da Cunha, ato marcou as comemorações do Dia da Etnia Italiana no Rio Grande do Sul

Uma missa repleta de significados, em pleno Dia da Etnia Italiana no Rio Grande do Sul, mexeu com a memória afetiva das gerações de outrora de Flores da Cunha e mostrou, às novas, o reconhecimento dos hábitos que construíram os valores da comunidade. Promovida no sábado (20) pelo Comitê dos Italianos no Exterior (COMITES-RS), a missa realizada na Igreja Matriz Nossa Senhora de Lourdes foi um misto de emoção e louvor ao relembrar fragmentos das antigas celebrações.

O ato litúrgico conduzido pelo bispo emérito de Caxias do Sul, Dom Alessandro Ruffinoni, trouxe trechos em italiano, em “talian” – a língua oriunda dos imigrantes na região –, em latim e em português. No sermão, o bispo utilizou o português para falar da ascensão de Cristo, estabelecendo uma metáfora com nossos antepassados. “Jesus foi para o céu, mas não nos abandonou porque temos uma comunhão entre a igreja terrestre e a igreja celestial. Da mesma forma, nossos antepassados também não nos abandonaram, porque vocês estão aqui levando adiante suas tradições, entre elas a religiosa”, disse o bispo emérito.

Ruffinoni relembrou, brevemente, como as missas eram realizadas antigamente. “Os padres rezavam a missa em latim, de costas para as pessoas. Quando eles viravam, os primeiros padres que vieram para cá, rezavam apenas o sermão em vêneto”, contou o presbítero, que também falou da dificuldade para as famílias acompanharem as cerimônias. “As pessoas faziam quilômetros a pé ou a cavalo para assistir à missa. E como nem toda família podia ir, cada domingo era alguém da família que ia. Quando essa pessoa voltava, quem havia ficado em casa perguntava, “cosa ga lo dito il prete?”.

Um dos momentos mais especiais do rito litúrgico foi a consagração da eucaristia promulgada em italiano pelo bispo. A língua também foi utilizada para o canto sempre emocionante da Banda e Coral Santa Cecília de Nova Pádua, que também entoou, por vezes, cânticos em latim. Todo suporte para a liturgia foi conduzido no “talian”.

Outro momento de destaque foi a presença de alguns objetos-síntese da imigração levados ao altar, representando o trabalho e a fé por meio da enxada e do terço. Junto a eles, foram expostas as bandeiras dos municípios de Flores da Cunha e de Nova Pádua, conduzidas para adornar a mesa do bispo pelos respectivos prefeitos, César Ulian e Danrlei Pilatti, e da região do Vêneto, de onde partiram boa parte dos imigrantes que chegaram à região, pendão levado pelo secretário de Educação, Cultura e Desporto de Flroes, Itamar Brusamarello.

Para Cristina Mioranza, presidente do COMITES-RS, órgão vinculado ao Consulado-Geral da Itália em Porto Alegre, a promoção da missa encontrou num dos alicerces de sustentação dos imigrantes em sua nova pátria a homenagem ao povo que ajudou a construir a história da Serra. “Num lugar desconhecido, a religiosidade foi uma âncora para os imigrantes. Sem a fé que eles tinham, talvez a história teria sido outra. Celebrar essa força interior que ainda hoje está presente em nós, destacando o idioma italiano, o talian e o latim, é reverenciar um legado que transformou esse lugar e introduziu uma cultura e uma identidade à região.  Nosso propósito é justamente valorizar e promover esses valores com as nossas comunidades”, disse Cristina.

Fonte: Exata Comunicação

Foto: Tiago Garziera

PG

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