Primavera de 2021 deve ser marcada pela instalação de um novo episódio de La Niña e será de alto risco para a agricultura por chuva abaixo da média e déficit hídrico em muitas áreas
A primavera começa nesta quarta-feira (22) às 16h21, marcando a transição para o verão. De acordo com os meteorologistas da MetSul Meteorologia, a primavera deste ano poderá transcorrer com o Oceano Pacífico sob La Niña, o que teria reflexos na nova estação.
As estações do ano são fenômenos naturais e ocorrem por causa da inclinação do eixo da Terra em relação ao plano de sua órbita em torno do Sol. O instante exato do início de uma estação do ano é determinado por uma posição específica da Terra em sua órbita, como explica a pesquisadora Josina Nascimento, da Coordenação de Astronomia e Astrofísica do Observatório Nacional.
“Para compreender o início das estações, é preciso imaginar a Terra parada e o Sol se movendo em relação a nós. Nessa perspectiva, o Sol percorre um caminho, que se chama eclíptica, e o instante do equinócio de setembro é aquele em que o Sol cruza o equador celeste, que é a extensão do equador terrestre, indo de Norte para Sul. No Hemisfério sul é o equinócio de primavera e no hemisfério norte é o equinócio de outono.”
As estações do ano são marcadas pela maneira como os raios solares incidem nos hemisférios. Além da temperatura, um dos efeitos que evidenciam as estações é a variação dos comprimentos dos dias, ou seja, a quantidade de tempo que o Sol fica acima do horizonte. Nas regiões próximas ao equador terrestre, esse efeito praticamente não existe. Quanto mais nos afastamos do equador terrestre, mais esse efeito torna-se evidente.
No início da primavera, os dias terão aproximadamente a mesma duração das noites, e no Hemisfério Sul, os dias vão ficando cada vez maiores e as noites cada vez menores, até o dia com maior presença do Sol no ano, que ocorre no início do verão, que em 2021 será em 21 de dezembro às 12h59 (horário de Brasília).
La Ninã deve se instalar na Primavera
A primavera começa nesta quarta-feira ainda oficialmente em estado de neutralidade, ou seja, sem a presença dos fenômenos El Niño e La Niña no Pacífico Equatorial Central. Esta condição, porém, deve mudar à medida que transcorre a nova estação, uma vez que as águas superficiais do Pacífico Equatorial se encontram em processo de resfriamento.
A última semana do inverno teve anomalia de temperatura da superfície do mar de -0,4ºC na denominada região Niño 3.4, no Pacífico Equatorial Central, que é usada para definir se há El Niño ou La Ninã. O valor está no limite inferior da faixa de neutralidade e muito próximo do patamar de La Niña. Já o Pacífico Equatorial Leste, a chamada região Niño 1+2, que costuma impactar as precipitações no Sul do Brasil, apresentava anomalia de +0,2ºC, igualmente no terreno da neutralidade, mas na faixa positiva.
A mais recente análise da NOAA e da Universidade de Columbia a partir de diversos modelos de clima projeta para o trimestre de outubro a dezembro 66% de probabilidade de La Niña, 34% de neutralidade e nenhuma chance de El Niño. Para o trimestre de novembro a janeiro, que é o da segunda metade da primavera, 67% de probabilidade de La Niña, 32% de neutralidade e 1% de chance de El Niño
Chuva na Primavera
A primavera deve ter chuva irregular mais uma vez neste ano, assim como ocorreu em 2020 com impacto na cultura de milho e alto risco de quebra de produtividade em muitas áreas. Espera-se uma grande variabilidade das precipitações de região para região na distribuição da chuva com tendência de volumes abaixo a muito abaixo da média histórica durante grande parte da primavera no Sul do Brasil.
Episódios de chuva volumosa e intensa regionalizados são esperados com acumulados de precipitação muito altos em curto período, mesmo com o Pacífico sob La Niña, mas, no geral, a estação deve terminar com precipitação abaixo dos padrões históricos na maior parte do Sul do país. A exceção pode ficar para pontos do Leste e do Nordeste de Santa Catarina e do Leste do Paraná. Nas principais áreas agrícolas da região, a perspectiva é muito negativa e o verão pode começar com déficit hídrico e umidade deficiente no solo.
Historicamente, os efeitos do fenômeno La Niña na chuva são sentidos mais no final da primavera e no começo do verão. Por isso, a MetSul Meteorologia alerta que à medida que o verão se aproximara irregularidade da chuva tende a se acentuar e algumas áreas do território gaúcho podem enfrentar maior déficit hídrico, com ameaça de prejuízos em lavouras de ciclo precoce como as de milho.
Temporais na Primavera
A MetSul destaca que a primavera é período com maior frequência de tempestades, não raro severas com intensos vendavais e granizo. Há precedentes de tornados na estação. Neste ano, com o Pacífico Leste mais frio do que o normal ou sob La Niña, a MetSul avalia que a frequência de tempestades pode não ser tão alta como se estivéssemos sob El Niño, mas quando os temporais ocorrerem podem ser muito intensos pelo maior contraste térmico entre massas de ar frio e quente. Por isso, episódios de vendavais intensos e destrutivos localizados não necessariamente serão freqüentes, mas quando ocorrerem podem ser severos. Os tornados mais graves dos últimos 20 anos na primavera no Rio Grande do Sul se deram na maioria sob La Niña ou Pacífico mais frio que a média.
Enfatizamos que, por tendências históricas, o risco de granizo é especialmente mais elevado quando o Oceano Pacífico está sob La Niña, como é o caso da primavera deste ano, e, assim, devem ser esperados temporais com granizo mais intensos nesta estação que começa com danos em áreas urbanas e prejuízos na agricultura em alguns episódios. No caso do Rio Grande do Sul, as regiões Central do Estado, o Noroeste, a Serra, o Planalto e os Campos de Cima da Serra são as regiões com maior propensão para granizo.
Temperatura
Como estação de transição para o verão, na primavera aumenta a frequência de dias de calor e diminui os de frio. O começo da estação ainda tem características mais amenas e até com frio em alguns dias, ao passo que o final já tem padrão típico de verão. Os dias de calor aumentam, especialmente entre novembro e dezembro, quando algumas jornadas são muito quentes com possibilidade de ondas de calor e marcas perto ou acima de 40ºC.
A tendência é de uma primavera com temperatura ao redor ou um pouco acima da média na maioria das áreas, mas entre novembro e dezembro podem ocorrer alguns períodos de calor muito intenso, destaca a MetSul. Em pontos da Metade Sul, a estação pode ter marcas um pouco abaixo da média. A probabilidade de marcas um pouco abaixo ou próximas da média é maior na primeira metade da estação enquanto na segunda metade da primavera a tendência é de temperatura acima da média. O Pacífico mais frio tende a favorecer uma maior probabilidade de que se registrem incursões pontuais de ar frio tardias, porém de curta duração, com um risco agravado de geada em baixadas de localidades do Sul gaúcho e de maior altitude da Metade Norte. No passado, sob La Niña, houve dias de frio e geada até em novembro.
Estação tem mais vento
Uma condição típica da primavera é o vento que sopra da tarde para a noite do quadrante Leste, às vezes com rajadas fortes. Como as massas de ar frio de alta pressão atmosférica começam a ter trajetória mais oceânica e o continente passa a aquecer mais com baixas pressões no Norte da Argentina e no Paraguai, o contraste térmico entre ar frio na costa e ar quente no continente assim como de pressão acentua o vento da tarde para a noite do quadrante Leste, sobretudo em outubro e novembro, o que rendeu a expressão popular de “Vento de Finados”. A estação ainda tem risco de ciclones extratropicais no Atlântico Sul e que, em alguns casos, podem ser intensos e provocar muito vento e forte ressaca do mar na costa gaúcha.
Fonte: Metsul
Foto: Bento.tur.br
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