Com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, com o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), os presentes contaram com a assessoria da bióloga Juçara Bordin e do secretário executivo de campanhas da CNBB, padre Jean Poul Hansen
O auditório do colégio Murialdo, em Caxias do Sul, acolheu na noite da terça-feira, dia 26 de novembro, mais de 160 lideranças das cidades de Antônio Prado, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Farroupilha e Garibaldi para formação diocesana da Campanha da Fraternidade (CF) 2025. Com o tema “Fraternidade e Ecologia Integral”, inspirado pelo livro do Gênesis, com o lema “Deus viu que tudo era muito bom” (Gn 1,31), os presentes contaram com a assessoria da bióloga e doutora em botânica Juçara Bordin e do secretário executivo de campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Jean Poul Hansen.
Padre Leonardo Inácio Pereira, coordenador diocesano de pastoral, deu as boas vindas e agradeceu a presença, também em nome de Dom José Gislon, bispo diocesano da Diocese de Caxias do Sul, que participa do Encontro do Episcopado do RS na Diocese de Novo Hamburgo, que ocorre entre os dias 25 e 27 deste mês. Além disso, ressaltou com gratidão a formação da comissão para a Campanha da Fraternidade formada este ano na diocese que tem, entre tantas funções, a missão de motivar a refletir e propôr ações que vão ao encontro da temática escolhida pela Campanha da Fraternidade que é proposta pela CNBB anualmente, sempre com temáticas pertinentes e de suma importância que sejam assumidas por todo cristão.
O encontro iniciou com momento de espiritualidade, cuja centralidade foi a Palavra de Deus, que ilumina e guia para a prática do cuidado com a casa comum. Rememorando o texto conhecido de Gênesis que narra a história da criação, os presentes foram introduzidos a uma inserção mais profunda sobre o lema da CF que a Igreja vivenciará em 2025, dando a certeza de que Deus tudo criou e viu que tudo era muito bom. Para finalizar esse primeiro momento foi entoado em dois coros o Cântico das Criaturas, obra poética de São Francisco que celebrará, no próximo ano, 800 anos.
Dando início ao momento formativo, com a incumbência de convidar-nos para a dimensão do “ver”, dentro da dinâmica pedagógica “ver/iluminar/agir”, a bióloga doutora em botânica Juçara Bordin apresentou um panorama da diversidade da vida, que chamamos de biodiversidade e da qual os seres humanos são parte integrante e ressaltou que tudo está interligado na ecologia e toda ligação interfere umas nas outras.
Ecologia nada mais é do que a relação dos seres vivos entre si e deles com o meio onde vivem. Juçara destacou também a importância de falar sobre a diversidade dos povos e culturas, sobretudo de aprender com as comunidades que fazem a conservação da biodiversidade. São 28 povos tradicionais e originários que vivem em sua essência o cuidado e o respeito para com as relações que envolvem essa diversidade de vida que engloba mais de 1 milhão 750 mil espécies de seres vivos catalogados, sem contar os que se estimam que exista.
Ainda de acordo com Juçara, a Laudato Si’, encíclica do Papa Francisco, de 24 de maio de 2015, reforça o livro do gênesis quando diz que homem e mulher foram criados para cultivarem e guardarem o jardim do mundo. Eles têm a missão de respeitar e garantir que toda criação divina tenha direito à vida e que vivemos numa relação de reciprocidade responsável, afinal somos apenas uma das espécies existentes, a qual foi confiada o cuidado. No entanto, a realidade tem mostrado que temos sido sujeitos de inúmeras rupturas na obra do Criador e que as marcas que a espécie humana tem deixado na terra é profunda e irreversível.
Entre as principais ameaças humanas à essa diversidade da vida, que pode extinguir até 46.300 espécies no mundo, Juçara citou a emissão do dióxido de carbono, incêndios, degelo, acidificação dos oceanos. De acordo com ela, “estamos no limiar entre a possibilidade de resgatarmos a vida e passar a comprometer-nos com o cuidado responsável dela ou o nosso próprio fim”. Para isso, entre as propostas estão os três Rs “Reduzir, Reusar e Reciclar”. Ela finalizou sua contribuição parafraseando o Papa Francisco no número 14 da Laudato Si’, onde ele nos convoca a “(…) colaborar, como instrumentos de Deus, no cuidado da criação, cada um a partir da sua cultura, experiência, iniciativas e capacidades”.
Dando seguimento à assessoria da noite, padre Jean Poul iniciou sua fala ressaltando a urgência que é assumir enquanto Igreja a missão de não deixar cair no esquecimento a temática da ecologia, tanto que a Campanha da Fraternidade de 2025 será a nona edição em que esse tema é apresentado como pauta de reflexão e ação concreta. De acordo com ele, a primeira vez que a CF tratou sobre ecologia foi em 1979 e desde então vem permeando as reflexões. Para ter dimensão da importância do tema “fome, saúde e educação” foram retratadas três vezes cada pela CF, enquanto que a ecologia esteve motivando por nove períodos quaresmais.
De acordo com padre Jean Poul, “essa insistência mostra a urgência em mudarmos nossas atitudes, pois estamos a um ponto da não possibilidade de retorno”. “Adventos como o aquecimento global, o degelo, o avanço dos oceanos, enfim, todas as catástrofes climáticas que estamos vivenciando e que vem ocorrendo precocemente, segundo estudos científicos, são questões sérias e que exigem nossa conversão”, salientou.
Diante dessa realidade, os bispos do Brasil, acolheram o tema “Fraternidade e Ecologia Integral” e deram a ele um olhar positivo para a criação, trazendo como lema o olhar do Criador que tudo criou e viu que tudo era muito bom, convidando a Igreja e a sociedade a olhar nessa ótica uns pelos outros e todos pela casa comum. Padre Jean Poul, trouxe ainda que, entre as motivações que a CF propõem, quatro merecem destaque. São elas: Reassumir a Laudato Si’ que a primeira encíclica do Magistério da Igreja Católica integralmente dedicada à ecologia e que completará 10 anos em maio de 2025; acolher a Laudate Deum que é uma exortação apostólica que reforça a importância de assumir com seriedade, urgência e responsabilidade essa missão de cuidadores; vivenciar no dia-a-dia a poesia do Cântico das Criaturas, composto por São Francisco em meio a dores e feridas abertas e que completará 800 anos em 2025 e a COP30 que ocorrerá em Belém, no coração da Amazônia no próximo ano.
Padre Jean Poul falou ainda que a Campanha da Fraternidade é um projeto de conversão e, não por acaso ela ocorre durante a Quaresma, pois “é preciso que nos convertamos integralmente”. Enfatizou que, a exemplo no texto base da CF, onde se encontra a sustentação do estudo da temática escolhida, as comunidades precisam ver e escutar a realidade da biodiversidade existente, buscar iluminação na Palavra de Deus na Doutrina Social da Igreja, na Laudato Si, na Laudate Deum e na sabedoria dos povos originários e, por fim, assumir ações concretas com intenção espiritual, formativa e caritativa, pois não existe CF sem ação concreta. É preciso que haja mudanças de atitudes ao final de todo o processo.
Nesse sentido, convidou a todos os presentes a refletirem sobre o que cada um pode mudar no âmbito pessoal, comunitário e social para que haja, verdadeiramente, uma conversão integral e destacou que a temática da CF não deve restringir-se ao período quaresmal, mas deve sim permear todas as atividades pastorais do ano. Para tal, a comissão das campanhas da CNBB sugerem para 2025 atividades para todos os meses do ano, como o Mutirão em Defesa da Casa Comum, Semana Laudato Si’, projeto de Lei 1070 que institui a Campanha Junho Verde, Animadores Laudato Si’, Tempo da Criação, 800 anos do Cântico da Criaturas, COP30, entre outras ações concretas que podem ser promovidas nas comunidades locais de acordo com a realidade de cada uma.
Por fim, padre Jean Poul reforçou que o maior gesto concreto da Campanha da Fraternidade é a conversão integral, porém falou da importância de aliar a ela a contribuição para com a Coleta Nacional da Solidariedade que ocorre em todo o Brasil no final de semana do Domingo de Ramos. Todas as doações realizadas nesse final de semana em todas as comunidades são revertidas para projetos sociais relacionados à temática da CFnaquele período, sendo subdivididos da seguinte forma: 60% do valor arrecadado permanece nas dioceses para auxiliar os projetos locais (desse total, 10% são enviados ao Regional Sul 3 da CNBB) e 40% é enviado para o Fundo Nacional de Solidariedade que, em 2024, oportunizou que 238 projetos em todo o Brasil pudessem tornar-se realidade com o investimento de R$ 8 milhões fruto das doações de cada católico nas celebrações do Domingo de Ramos.
O encontro foi finalizado com a partilha de perguntas e respostas acerca do tema da Campanha da Fraternidade 2025 e exemplos práticos do investimento dos valores da Coleta Nacional da Solidariedade. O vídeo da transmissão do evento, na íntegra, pode ser acompanhada no topo desta matéria ou ainda no canal da Diocese de Caxias do Sul no You Tube.
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