Dom José Gislon – Discípulos de Jesus Cristo e “peregrinos da esperança”

“Quando Jesus nos convida a amar os nossos inimigos, nos tira imediatamente da tentação de nos dobrar sobre nós mesmos, ou de nos fechar em torno de um discurso estéril, de que sempre somos vítimas”

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! O Jubileu de 2025 nos ajuda a refletir sobre a nossa identidade e compromisso de cristãos na realidade de hoje, na qual o testemunho de vida se faz necessário para que a mensagem do Evangelho possa ser acolhida no coração daqueles que, diante do vazio existencial, estão em busca do transcendente, de uma espiritualidade que lhes transmita paz e os ajude a perceber a presença do divino na fragilidade da realidade humana.

Viver como discípulo significa caminhar com o Mestre, acolhendo no coração suas palavras, com o desejo de anunciá-las ao mundo com o testemunho de vida e na ação missionária. A ação missionária está ao alcance dos pais e dos filhos no ambiente familiar, e também de todos os batizados na comunidade e na sociedade em geral. Ela não impede o desenvolvimento da vida profissional, mas enriquece o coração do discípulo com os valores do Evangelho.  Assim podemos multiplicar as ações do bem, que cuidam da vida e a valorizam como dom de Deus, colaborando para a construção de uma sociedade reconciliada, que acredita na cultura da paz, na fraternidade formada pelas diferentes realidades sociais, religiosas, culturais e políticas, onde o bem comum e a justiça têm a primazia sobre o egoísmo e a indiferença.

A superficialidade no modo de viver a fé leva ao esvaziamento da comunhão com o Senhor, na mente e no coração, e nos afasta do compromisso de trabalharmos na construção do Reino de Deus. Estamos sempre buscando algo que preencha o sentido da nossa vida ou nos dê paz e serenidade interior, que nos ajude a vencer os desafios e as angústias do cotidiano que a vida nos apresenta. Precisamos sim, com humildade, nos colocar à escuta, para ouvirmos o Senhor Jesus falar do amor e da misericórdia do Pai, para que a verdade do Evangelho chegue ao nosso coração e transforme a nossa vida, para sermos no mundo, discípulos e missionários do Reino de Deus.

Portanto, quando Jesus nos convida a amar os nossos inimigos, nos tira imediatamente da tentação de nos dobrar sobre nós mesmos, ou de nos fechar em torno de um discurso estéril, de que sempre somos vítimas. Temos, muitas vezes, a tentação de ver o próximo como bode expiatório dos nossos problemas. O realismo divino reveste de amor também o inimigo. Jesus não veio para consolar o nosso senso de humilhação, mas para nos sacudir da indiferença que nos faz assumir sempre o discurso de vítima da situação.

As nossas atitudes em relação aos outros podem não expressar ou seguir os ensinamentos do “Mestre” Jesus aos seus discípulos. “A vós que me escutais, eu digo: Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos amaldiçoam, e orai por aqueles que vos caluniam…” (Lc 6,27-28). Podemos alimentar no nosso coração um espírito de vingança em relação aos que nos fazem o mal, ao invés de nos deixar conduzir pelas palavras do Evangelho, que favorecem a reconciliação e a paz.

Muitas vezes agimos mais pelo impulso de vingança do que motivados pela lei suprema do amor, que tem a forma de cruz. Foi essa a lei abraçada por Jesus, e é esta a lei que ele propõe aos seus discípulos e discípulas de ontem e de hoje. Mas para abraçar o mais sublime jeito de amar, aquele com o qual o Pai nos ama e pelo qual podemos ser reconhecidos como filhos e filhas, precisamos percorrer o caminho da conversão, do despojamento interior, do desapego do nosso egoísmo, da nossa vontade de humilhar o outro, para que eu possa brilhar, esquecendo que o outro também é filho de Deus, mesmo tendo as suas limitações, quem sabe fruto da falta de amor.

+ Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do SuL

Diocese de Caxias do Sul
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