Dom José Gislon – Chamados para seguir o Senhor Jesus

“O caminho percorrido pelos Apóstolos Pedro e Paulo foi um caminho de discípulos que deixaram a fé moldar suas vidas e guiar os seus passos até o martírio e a comunhão definitiva com o Mestre Jesus”

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! Durante estes dois mil anos de cristianismo, muitos inocentes tiveram a vida tirada ou sofreram o martírio pelo simples fato de serem cristãos. Entre os tantos mártires, na liturgia do dia 29 de junho – o Dia do Papa – recordamos o Apóstolo Pedro, que recebeu do Senhor as chaves do Reino dos Céus (Mt 16,13-19), e Paulo, o Apóstolo dos gentios (At 9,1-16). Eles entregaram a vida como primícias da fé cristã e pelo testemunho de fé dos apóstolos nós renovamos, no Creio, a nossa profissão de fé em Jesus, o Messias, o Filho de Deus.

Mas para compreender que Jesus era o Messias, o Filho de Deus, os próprios Apóstolos chamados pelo Senhor precisaram percorrer um caminho de conversão. Não bastava caminhar com Jesus, era preciso acolher Jesus como o Messias no coração e na caminhada de fé. Podemos dizer que não foi uma tarefa fácil, eles tiveram dificuldades em identificar Jesus de Nazaré, o Filho do carpinteiro José, como o enviado de Deus.

Pedro, o humilde pescador da Galileia, que aceitou o convite do “vem e segue-me” feito por Jesus, também precisou aprender que para ser discípulo, não bastava caminhar com Jesus, mas devia estar com o Senhor, confiar e testemunhar Jesus com a vida. Ele que era tão seguro da sua fidelidade ao Mestre (cf. Mc 14,27-31), quando precisou dar testemunho de discípulo negou: “Não conheço esse homem de quem vocês estão falando (cf. Mc 14,71)”. Pedro havia dito a Jesus: “Ainda que eu tenha de morrer contigo, não te negarei” (cf. Mc 14,31). Chorou ao perceber que, temendo pela sua vida, preferiu negar que conhecia Jesus e que era um dos discípulos. O choro de Pedro é sinal da dor que dilacerava o seu coração por não ter tido a força de testemunhar a sua fidelidade a Jesus. A ferida aberta no coração de Pedro pela falta de coragem em testemunhar o Senhor foi curada pelo amor e pela misericórdia de Cristo Jesus, que na cruz redimiu a humanidade com o seu sangue.

Paulo, fariseu e perseguidor dos cristãos, é o símbolo do homem novo, renascido e redimido pela graça e pela misericórdia de Deus, que se torna o Apóstolo dos gentios. Antes da conversão percorria as cidades para perseguir e aprisionar os cristãos. Como homem novo e discípulo do Senhor, coloca toda a sua erudição e sabedoria a serviço do Reino. Como Apóstolo, percorreu as cidades anunciando de forma incansável o Evangelho de Cristo. Chegou a Roma como prisioneiro e, da prisão, escreve a Timóteo: “Quanto a mim, eu já estou para ser derramado em sacrifício; aproxima-se o momento da minha partida. Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé (cf. 2Tm 4,6-7)”.

O caminho percorrido pelos Apóstolos Pedro e Paulo foi um caminho de discípulos que deixaram a fé moldar suas vidas e guiar os seus passos até o martírio e a comunhão definitiva com o Mestre Jesus. Eles nos deixaram um testemunho de que o verdadeiro discípulo não deve jamais deixar de lutar contra os aspectos da vida que podem levá-lo a afastar-se do Mestre. O maior inimigo para quem é enviado a anunciar Jesus Cristo não é tanto quem o quer eliminar fisicamente, mas tudo aquilo que pode minar e fragilizar a sua confiança no Senhor, o seu doar-se gratuitamente, o seu ser misericordioso, o seu entregar-se para poder cuidar dos outros.

Aos olhos de quem não crê a vida dos apóstolos, assim como a vida de tantas outras pessoas de fé, pode parecer um desperdício: nenhum ganho, nenhuma grandeza, nenhum reconhecimento de poder. Para quem não crê muitas vezes pode ser difícil entender que a alegria maior de quem tem fé é servir ao Senhor, ser amado por Ele e amá-lo, poder anunciá-lo com a alegria que dele recebemos e poder levar a tantas pessoas a paz, o amor, a compaixão, a esperança e a bondade de Deus.

Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul

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