A maior parte dos brasileiros se descuida quando o assunto é câncer no fígado. Dados de uma pesquisa encomendada pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostram que 60% da população não fez, ou não sabe se fez, testes para a detecção de hepatite C e 52% para hepatite B.
A convivência crônica com os vírus causadores das hepatites é uma das principais responsáveis pelo chamado carcinoma hepatocelular (ou hepatocarcinoma), que é o tipo mais comum do câncer primário do fígado. De acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), ocorre em mais de 80% dos casos e é considerado agressivo.
Contraditoriamente, oito em cada 10 entrevistados afirmaram que sabem que a testagem da hepatite está disponível gratuitamente em unidades públicas de saúde. Apesar do conhecimento, 47% deles responderam que não realizam o exame por não sentirem necessidade ou dor, enquanto 46% demonstraram falta de interesse.
Segundo dados de 2019 do INCA, os cânceres do fígado e das vias biliares intra-hepáticas estão em sexto lugar na lista de mortalidade das neoplasias em homens no país. Entre as mulheres, ocupam a oitava posição. No mundo, de acordo com dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença é a terceira em óbitos. Vale lembrar que a hepatite C tem cura e a hepatite B possui uma vacina eficaz e gratuita, disponibilizada pelo SUS.
A pesquisa da Ibrafig foi realizada pelo Instituto Datafolha, que entrevistou 1.995 pessoas acima de 18 anos, presencialmente, em 129 municípios das cinco regiões do país, entre os dias 8 e 15 de setembro. A margem de erro para o total da amostra é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%.
Câncer sem sintomas
Os exames das hepatites, em caso positivo, são essenciais para avaliar a evolução do hepatocarcinoma, geralmente assintomático e tratável no estágio inicial. Quando descoberto na fase em que os sintomas já se manifestam, os cuidados são prioritariamente paliativos e o prognóstico, menos otimista, segundo informações da Ibrafig.
Além das infecções pelas hepatites, este tipo de câncer pode surgir a partir do uso excessivo de bebidas alcoólicas e a esteatose hepática, ou a “gordura no fígado”. Outros tipos de tumor do órgão são as colangiocarcinomas (inflamação das vias biliares) e angiossarcomas (contato com substâncias carcinogênicas, como cloreto de vinil, arsenicais inorgânicos e solução de dióxido de tório, encontrados em agrotóxicos).
Esses tipos representam os cânceres primários do fígado – que começam no próprio órgão. Há ainda tumores secundários ou metastáticos, cuja origem ocorre em outro local e, com a evolução da doença, chegam ao fígado. De acordo com o INCA, o tipo secundário mais comum vem a partir de tumores no intestino grosso ou no reto.
Dos sintomas que devem chamar atenção, segundo o INCA, estão: Dor abdominal; Massa abdominal; Distensão abdominal; Perda de peso inexplicada; Perda de apetite; Mal-estar; Icterícia (tom amarelado na pele e nos olhos); Acúmulo de líquido no abdome.
Hepatites virais
O Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais, publicado em julho de 2020 pelo Ministério da Saúde, destaca que 74.864 pessoas morreram no Brasil, entre 2000 e 2018, em decorrência da doença.
Os cinco tipos de hepatite viral (A, B, C, D e E) são provocados por diferentes agentes infecciosos, e os sintomas mais comuns são cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados (icterícia), urina escura e fezes claras.
Há vacinas disponíveis apenas para os tipos A (crianças menores de cinco anos e pessoas com doença no fígado) e B (população em geral).
Prevenção
Evitar a infecção por hepatites virais, especialmente a B e C, diminui o risco do câncer no fígado. Outras medidas que podem ser tomadas: Prevenir doenças metabólicas, como o acúmulo de gordura no fígado (esteatose hepática) e diabetes; Evitar o consumo de bebidas alcoólicas; Nunca usar esteroides anabolizantes, a não ser com indicação médica específica; Evitar lesões pré-malignas, como os adenomas de fígado, relacionados ao uso de anticoncepcionais orais; Manter um peso corporal adequado; Não consumir alimentos contaminados por aflatoxina – substância produzida por fungos/bolores encontrados no amendoim, milho e mandioca, quando armazenados em condições inadequadas; Não fumar e evitar a inalação da fumaça do cigarro.
Fonte: O Sul
Foto: Reprodução O Sul
(RM)
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