O Rio Grande do Sul comemora neste ano o bicentenário de nascimento de Anita Garibaldi, uma das personalidades femininas mais cultuadas do sul do Brasil. Ana Maria de Jesus Ribeiro nasceu em Laguna, Santa Catarina, em 30 de agosto de 1821, e aos 18 anos, já separada do primeiro marido, conheceu e se apaixonou pelo italiano José Garibaldi, quando as tropas farroupilhas desembarcaram em Laguna para tomar a cidade. Era junho de 1839, e nos anos seguintes, Anita deixou Laguna ao lado de Garibaldi, lutou pela causa da liberdade no Rio Grande do Sul e em diversos países, viveu uma história de amor marcada por momentos dramáticos e de perigo, morreu muito jovem, aos 28 anos, e entrou para a história como a Heroína de Dois Mundos.
“Considerando a época em que viveu e as atitudes que tomou, Anita é dos maiores testemunhos de destemor e determinação femininos que se conhece”, afirma a secretária da Cultura, Beatriz Araujo. “A intenção do governo do Estado, ao instituir o Ano de Anita no Rio Grande do Sul, é maior que comemorar uma efeméride de 200 anos; trata-se de promover, pela figura de Anita, a afirmação feminina, nossos direitos, o empoderamento de gênero, para que venhamos a ter uma sociedade mais justa e igualitária.”
Para garantir o merecido reconhecimento à memória da heroína, o Decreto 55.756, de 9 de fevereiro, instituiu o Ano de Anita, dedicando 2021 às comemorações pela passagem dos 200 anos de nascimento dela. Uma comissão foi nomeada pelo governador Eduardo Leite para coordenar as festividades no Estado, integrada pelas secretarias estaduais da Cultura (Sedac) e de Turismo, Conselho Estadual de Cultura (CEC), Consulado da Itália em Porto Alegre, Instituto Anita Garibaldi, Instituto Histórico e Geográfico do RS (IHGRGS), Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs) e Fundação Cultural Catarinense.
A presidente da comissão é a escritora e pesquisadora Elma Sant’Ana, fundadora do Instituto Anita Garibaldi, autora de diversos livros sobre a vida de Anita e reconhecida internacionalmente pela proficiência no assunto.
Apesar das regras de distanciamento vigentes por conta da pandemia, prefeituras, piquetes e centros de tradições gaúchas, instituições de ensino e centros culturais públicos e privados programarão atividades em comemoração ao Ano de Anita, afirma Elma. A página Ano de Anita, disponível no website da Sedac, divulgará iniciativas dos usuários cadastrados, por meio de um mapa do Rio Grande do Sul. Ao clicar no ícone sinalizador, aparece a cidade de origem e a descrição da atividade.
Entre as ações que já ocorrem, estão a série de vídeos “Uma história em quatro imagens” e a exposição virtual “Anitas”.
Prefeituras e demais instituições que desejarem constar no mapa do Ano de Anita, bem como utilizar o logotipo alusivo às comemorações no Rio Grande do Sul, devem acessar o formulário de atividades ou enviar e-mail para anodeanita@sedac.rs.gov.br.
Mais sobre Anita Garibaldi
Ana Maria de Jesus Ribeiro nasceu em 1821 em Morrinhos, Laguna, então Província de Santa Catarina. Seus pais, Bento Ribeiro da Silva e Maria Antonia de Jesus, eram pobres. Do seu pai parece ter herdado a energia e coragem pessoal, revelando desde criança um caráter independente e resoluto.
Em 1835, já falecido o pai, casou aos 14 anos, por insistência materna, com Manuel Duarte de Aguiar, na Igreja Matriz Santo Antônio dos Anjos, de Laguna. O curto matrimônio, sem afinidades e sem filho, revelou-se um fracasso seguido de separação.
Aos 18 anos conheceu José Garibaldi, que chegara com as tropas farroupilhas de David Canabarro e Joaquim Teixeira Nunes para tomar Laguna, em junho de 1839, fundando a República Juliana dos Cem Dias. Garibaldi já tinha fama de herói pelo feito épico que acabara de realizar ao transportar, por terra, as embarcações Farroupilha e Seival de Capivari a Tramandaí e posterior salvamento do naufrágio da primeira ao sul do Cabo de Santa Marta. Seu encontro com Anita resultou em amor à primeira vista.
Em 20 de outubro de 1839, Anita decide seguir Garibaldi, subindo a bordo de seu navio para uma excursão de corso até Cananéia. Em Imbituba recebe seu batismo de fogo, ao serem os corsários atacados por forças marítimas legais. Dias depois, em 15 de novembro, Anita confirma sua coragem ímpar e amor a Garibaldi e à causa, na célebre batalha naval de Laguna, contra Frederico Mariath, em que se expõe a mil mortos ao atravessar a área de combate uma dúzia de vezes, num pequeno escaler, para transportar munições, em meio de verdadeiras carnificinas humana.
Com o fim da efêmera República Lagunense, o casal segue em retirada para o sul. Subindo a serra, Anita combate ao lado de Garibaldi em Santa Vitória, passa o Natal de 1839 em Lages, toma parte ativa no combate das Forquilhas (Curitibanos). Feita prisioneira de Melo Albuquerque, consegue permissão para procurar no campo de batalha o cadáver de Garibaldi, que lhe haviam dito estar morto. Foge depois, embrenhando-se pela mata, atravessando o Rio Canoas a nado, reencontrando as tropas em retirada e Garibaldi, oito dias depois.
Em 16 de setembro de 1840, nasceu seu primogênito, Menotti, em Mostardas, na região da Lagoa dos Patos, no Rio Grande do Sul. Doze dias depois do parto, foi obrigada a fugir a cavalo, seminua e com o recém-nascido ao colo, de um ataque noturno de Pedro de Abreu, durante a ausência de Garibaldi. Reencontrados depois, Anita e o filho seguiram também na grande retirada pelo Vale do Rio das Antas, sobre a qual Garibaldi contou: foi a mais medonha que jamais acompanhou, em que a desesperada coragem de Anita conseguiu meios de salvar o filho à última hora.
Em 1841, dispensado por Bento Gonçalves, Garibaldi seguiu com a pequena família para Montevidéu, engajando-se nas lutas uruguaias contra Rosas. Em 26 de março de 1842, Garibaldi casou com Anita, na antiga igreja de São Francisco de Assis. Nos anos seguintes, Anita teve mais três filhos: Rosita, Teresita e Riccioti. Rosita não venceu um ataque de difteria, falecendo aos 30 meses, deixando seus pais desesperados.
Em fim de 1847, Anita partiu com seus três filhos para a Itália, sendo seguida pelo marido poucos meses depois. Na Itália, Anita deu múltiplas demonstrações de aprimoramento intelectual, aparecendo como esposa do herói italiano, cuja estrela começava a brilhar internacionalmente. Mas a vida de Anita foi demasiado curta. Em meados de 1849, vai a Roma, sitiada pelos franceses, ao encontro do marido, e com ele e sua Legião Italiana faz a célebre retirada, dando repetidas amostras de dignidade e de coragem em lances de bravura frente aos inimigos austríacos.
Grávida pela quinta vez e muito doente, não aceitou os conselhos de permanecer em San Marino para se restabelecer. Não queria abandonar o marido, quando quase todos o abandonaram. Acompanhado de poucos fiéis, ziguezagueando pelos pântanos ao norte de Ravenna, fugindo dos austríacos, Garibaldi vê definhar rapidamente a mulher. Por volta das 19h de 4 de agosto de 1849, Anita morreu nos braços do esposo, longe dos filhos, num quarto do segundo pavimento da casa dos irmãos Ravaglia, em Mandriole, próximo a Santo Alberto.
Fonte: Anita Garibaldi: o perfil de uma heroína brasileira, de Wolfgang Ludwig Rau. 1975, edição do autor.
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