Instituição foi criada pelo Decreto Nº 566 de 18 de dezembro de 1974
Nesta quarta-feira (18), um dos maiores símbolos de Bento Gonçalves, o Museu do Imigrante, completa 50 anos e será comemorado com um filó no prédio da instituição, a partir das 18h30, aberto ao público. A efeméride expressa um compromisso integral com a história do município, com políticas públicas que objetivam a salvaguarda, a preservação e o reconhecimento do processo cultural legado pelos imigrantes. O Museu foi instituído pelo Decreto n.º 566 em 18 de dezembro de 1974, tendo em vista as comemorações do centenário da imigração italiana em 1975.
Mas a ideia de se ter um museu esteve germinada nos idos de 1965, quando a professora Ancilla Dall’Onder Zat organizou uma exposição, junto com outros professores, de curta duração, em um educandário de Bento Gonçalves, com peças, documentos de famílias e fotografias, em comemoração aos 75 anos de emancipação política de Bento Gonçalves.
“Procuramos objetos para a primeira exposição histórica do município e do possível Museu. O grupo captou os objetos indicados pelos pais e familiares dos alunos, inclusive a Cruzinha que está na Praça. Arrecadamos um bom e valioso acervo. A criação do Museu cujo acervo estava pronto teria por nome um personagem. Carmen Bertochi Soares e eu entramos com um pedido na Câmara Municipal junto com a vereadora Mercedes Cavalet pela denominação atual que foi concebida na criação”, lembra Dona Ancilla.
Esse evento se configurou o marco inicial da coleção quando foi constituído o Museu do Imigrante, tendo como seu primeiro diretor Pedro Koff, abrigado no prédio localizado na Rua Herny Hugo Dreher, 127, bairro Planalto, espaço construído em 1913 para ser a Estação de Sericultura e Criação (ao longo do tempo o prédio abrigou outros empreendimentos, sendo hotel, residência, entre outros).
O Museu teve uma construção realizada por diversas mãos e desejos de preservar o patrimônio histórico material e imaterial, e chega em 2024 com acervo de 40 mil itens nas categorias museológico (são os itens tridimensionais), arquivístico (fotografias, documentos, cartazes, santinhos), bibliográfico (livros, em sua maioria falam sobre a imigração), banco de histórias oral, didático e institucional (documentos administrativos). Também disponibilizado de forma online pelo Tainacan (http://museudoimigrante.bentogoncalves.rs.gov.br/).
Atualmente, o vistante encontra em sua expografia 690 itens, predominantemente de origem italiana e polonesa, além de ter um acervo arquivístico da década de 1970 de caráter indígena. As salas foram divididas em Cozinha, Arte Sacra, Vinho, Gaitas (em sua maioria da marca Todeschini, que conta com um histórico sobre a fábrica), Trabalho, Ofícios, Quarto e Exposições Temporárias.
Pode-se mencionar peças características da cultura como o moedor de uva de metal, de 1916, e pertencente a uma das primeiras vinícolas, a Cooperativa Alegretti; a lousa escolar, feita em pedra de ardósia em, aproximadamente, 1910; a Nossa Senhora das Dores, que data de 1876, e foi doada pela Escola Estadual Mestre Santa Bárbara; o aparelho de afinação de gaitas; a Nossa Senhora de Czestochowa, conhecida no Brasil como Nossa Senhora do Monte Claro, que chegou no século XIX com os imigrantes poloneses e foi doada pela Braspol; a réplica da Loba Capitolina, presentada pelo Governo Italiano para Bento Gonçalves em homenagem ao centenário da imigração italiana.
Ao olhar a trajetória do Museu, a museóloga Deise Formolo atenta para um fator determinante para a sua constituição: “interessante notar que não uma história tradicional, como vindo de uma ideia do Estado. Foi a comunidade que reivindicou, teve essa solicitação orgânica, acompanhando a história do município e suas marcas. O Museu é pulsante e criou um elo coeso com a vida do município de Bento Gonçalves, sendo praticamente a sua biografia”.
A Professora, Historiadora e Neuropsicopedagoga e atual coordenadora do CMAEE, Ivani Pelicer começou a trabalhar no Museu do Imigrante na década de 80 e foi diretora de 1998 a 2006. Durante esse período, o Museu do Imigrante passou a integrar o Cadastro Nacional e o Sistema Brasileiro de Museus.
“Esse ato, além de termos atraído para Bento Gonçalves a realização de um importante Congresso Estadual de Museus, com representantes do IPHAE, IPHAN e Ministérios da Cultura e Turismo, contribuiu para dar visibilidade às ações que estavam sendo desenvolvidas aqui no município e região em prol da preservação do patrimônio cultural que nos foi legado pelos antepassados, imigrantes e seus descendentes, assim como, iniciavam naqueles momentos, as discussões acerca da identidade cultural local ser um ativo para o turismo”, destaca Ivani.
Ainda, na trajetória desse período destacam-se as exposições temáticas itinerantes, coordenação da 2ª Região Museológica, confecção da carteirinha dos Amigos do Museu, restauro supervisionado pelo IPHAE-RS, onde foi designado de Casa do Imigrante para Museu do Imigrante, entre outras atividades.
Ivani ressalta sobre o seu sentimento em relação à marca dos 50 anos. “O Museu do Imigrante completará 50 anos em 2024, mas a sua história se confunde com a própria história do Município, portanto, vai além do cinquentenário. O Museu é uma referência de pesquisa, de guarda e de preservação do acervo oficial, tradicional, mas também dos aspectos intangíveis, como os saberes, as tradições, os hábitos, costumes, expressões artísticas e culturais…para todas as gerações”.
Ainda em sua história, o prédio precisou fechar as portas em 2009, encerrando as atividades com o título de segundo ponto de maior visitação turística da cidade. Em 2014, no Governo do Prefeito Guilherme Pasin e com o Secretário de Cultura Jovino Nolasco (em memória), passou por um processo de restauro com apoio do empresariado local, reinaugurado em 2016, onde se preservou as características arquitetônicas do local, com levantamento métrico, das plantas baixas, janelas, portas, forros, barrotes e mapeamento das patologias.
Educação para o futuro
Outro fator que chama a atenção é que a gestão do Museu sempre teve uma conexão muito forte com a educação, com as mediações culturais realizadas pelas equipes, além de outras ações e atividades de educação patrimonial. A relação é benéfica, pois difunde o conhecimento das manifestações culturais, fortalecendo a preservação da memória.
De acordo com Deise Formolo, os 50 anos do Museu do Imigrante trazem um processo patrimonial em consonância com o comprometimento educacional e em diálogo com as demandas da contemporaneidade. “O Museu do Imigrante tem como, entre os seus objetivos, a transmissão de saberes e fazeres, de ser um espaço de memória estruturante das referências e símbolos das pessoas da Cultura do povo de Bento Gonçalves. E, também, o Museu está, há algum tempo, ampliando a sua comunicação com as demandas da atualidade, como a questão da acessibilidade, que vai estar mais presente em suas ações e atividades, além de estar criando um acervo artístico próprio”.
A instituição segue atendendo grupos de escolas e de turistas e realizando visitas guiadas, além de dar prosseguimento ao inventário do município, que iniciou na década de 1990, e teve continuidade por meio do projeto Laços Patrimonias o qual foram estudados oito eixos que englobou, praticamente, 50% da cidade, ampliando e atualizando os bens inventariados, assim como, sobre Faria Lemos cujas oficinas, pesquisas de campo, confecção de croquis, entre outras ações, foram realizadas entre outubro e novembro de 2024.
O presidente da Associação Amigos do Museu, Marcus Flávio Dutra Ribeiro, reflete sobre a data. “Me sinto muito feliz e honrado por estar na segunda vez na presidência, pois isso tem um aspecto de reflexão, por causa da minha ancestralidade, e estar sendo presidida por uma pessoa negra. Quando a gente fala de imigrante, somos todos nós e me sinto contemplado. Também entendo o que se deve contemplar outras etnias que contribuíram para o que Bento Gonçalves é hoje. O Museu é uma joia rara que preserva e rememora a própria história. Vida longa ao Museu, onde está a memória viva deste povo desbravador”.
“O Museu do Imigrante tem uma política pública que exerce a sua missão de ser promotor da salvaguarda da história da imigração, identificando a sua história no espaço-tempo erigido nessas terras. O Museu é o espaço das memórias por excelência, onde as peças e objetos nos contam histórias, narrativas que asseguram o reconhecimento dos processos históricos que nos precederam e chegar aos 50 anos demonstra a sua vital importância para a valorização de nossas raízes”, destaca o Secretário de Cultura e de Turismo, Evandro Soares.
Conheça mais acessando o site do Museu do Imigrante: https://www.museudoimigrante.org.br/
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