Bento Gonçalves fechou 2,3 mil postos de trabalho na pandemia

Números referentes aos meses de março a junho foram analisados pelo OECON do CIC-BG

Desde março, o saldo entre contratações e demissões em Bento Gonçalves tem registrado números negativos que, no acumulado até junho, mostram o fechamento de 2.303 vagas formais. São os efeitos da pandemia no mercado de trabalho, aponta estudo do Observatório da Economia (OECON), a partir dos dados liberados no final de julho pelo Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Novo Caged).

O núcleo criado pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) tem como função, além de analisar dados econômicos, oferecer um panorama da situação financeira imposta pela covid-19 não só ao município, mas também ao Estado e ao país. Um dos motivos de seu surgimento está ligado a auxiliar o CIC-BG e o poder público para entender como está sendo projetada a situação do Estado a partir dos protocolos do sistema de bandeiramento. “Com a regionalização da autonomia dos territórios dada pelo governo através do Distanciamento Controlado, a economia será um dos três pilares de sustentação para nossa macrorregião, juntamente com a saúde e com as estatísticas dos critérios adotados pelo governo. Isso nos permite ter uma radiografia do município e da região. Outro motivo é para termos condições de monitorar o futuro do país quanto ao seu endividamento, face aos recursos emergenciais liberados para combater a pandemia, o que afeta também o município e o Estado em uma projeção a longo prazo”, diz o presidente do CIC-BG, Rogério Capoani.

Os números analisados pelo observatório criado pelo Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) indicam que houve uma redução de 3% na quantidade de empregos formais de dezembro de 2019 (44.277) para junho de 2020 (43.093). São números próximos aos de dezembro de 2016 (42.885), quando o país se encontrava em recessão econômica. “Se o ritmo de crescimento identificado de janeiro e de fevereiro, com saldo positivo de 641 e 478 respectivamente, tivesse permanecido, muito provavelmente em 2020 ultrapassaríamos o número de 2014 (43.725), quando se obteve o ápice na cidade na geração de empregos formais”, avalia um dos estudiosos do OECON, o professor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) Fabiano Larentis.

Entre março e junho, a indústria foi o setor que mais contribuiu para o saldo negativo (-1.073), representando 47% do total. Na sequência, aparecem o setor de serviços (-870) e o comércio (-284). Já em junho, a indústria voltou a ter saldo positivo (44), com serviços (-31), comércio (-18) e construção (-13) respondendo pelos maiores saldos negativos.

Segmentos mais impactados

No início da pandemia, em março, os primeiros impactos foram sentidos com maior intensidade nos segmentos de fabricação de bebidas (saldo de -106), de produtos alimentícios (-100) e de transporte e armazenagem (-50), seguidos pelo comércio varejista (-37) e pelos serviços de alimentação (-36). Em abril, pior mês do primeiro semestre, o somatório dos cinco segmentos com maiores saldos negativos foi de -756, com liderança para a indústria moveleira (-291). Na sequência, aparecem serviços de alojamento (-165), fabricação de produtos de borracha e plástico (-127), fabricação de máquinas e equipamentos (-88) e serviços de alimentação (-85).

A partir de maio, os números começaram a melhorar. Juntos, os cinco segmentos mais impactados tiveram saldo de -332. Além de fabricação de móveis (-117), serviços de alimentação (-88) e fabricação de produtos de borracha/plástico (-47), destacaram-se negativamente comércio varejista (-44) e fabricação de bebidas (-36). Em junho, o acumulado dos cinco segmentos que mais demitiram ficou em -65, sendo liderado pela área de alimentação (-20), com saldos positivos voltando a aparecer mais fortemente na fabricação de móveis (52) e na fabricação de produtos de borracha/plástico (41). “Algumas das atividades com maior saldo negativo entre admitidos e desligados voltaram a contratar mais”, analisa Larentis.

Os meses da pandemia também podem ter seu impacto medido pela verificação dos saldos negativos e positivos acumulados, tendo como referência cinco atividades em cada situação. De janeiro a junho, os maiores saldos negativos de cada mês totalizaram 1.542 empregos a menos, com o acumulado positivo de 1.002, uma diferença de -540 empregos. “Quando consideramos março a junho, a diferença entre os cinco maiores saldos negativos e os maiores saldos positivos é de -1.170, 2,2 vezes a mais na comparação com o período anteriormente considerado, mais uma evidência do impacto da pandemia”, assegura.

Para também medir os desdobramentos da pandemia, o OECON analisou as 10 atividades econômicas com maiores saldos positivos e negativos de admitidos e desligados em dois períodos distintos, de janeiro a junho e de março a junho. No primeiro semestre deste ano, o total negativo (-1.012) teve contribuição principalmente de serviços de alojamento (-236), alimentação (-193), fabricação de móveis (-147) e comércio varejista (-127). Na outra ponta, o saldo positivo foi de 106 empregos, devido principalmente às contratações do setor de fabricação de produtos de metal (38) e de manutenção de equipamentos (20). Com isso, houve uma diferença de -906 empregos.

Essa conta quase dobra se analisada a partir dos dados coletados entre os meses de março a junho, atingindo saldo de -1.703 postos de trabalho. “Isso representa 74% do saldo total no mesmo período (-2.303)”, observa Larentis. Os setores que mais contribuíram para isso foram fabricação de móveis (-323), alimentação (-229), alojamento (-228), comércio varejista (-208), fabricação de bebidas (-161), transporte e armazenagem (-150) e fabricação de produtos alimentícios (-144). Também aparecem entre as 10 atividades a fabricação de produtos de borrracha/plástico (-112), a fabricação de máquinas e equipamentos (-108) e a construção civil (-58).

O professor também reforça que apenas seis setores tiveram saldos entre admissões e demissões iguais ou superiores a zero nesse mesmo período – fabricação de produtos químicos, fabricação de produtos de madeira, eletricidade e gás, serviços de escritório, agropecuária e outras atividades de serviços.

No Estado e no país

O OECON também analisou os números do Novo Caged para medir os reflexos da pandemia sobre o mercado de trabalho no Estado e no país. Assim como em Bento Gonçalves, o padrão do pico de saldos negativos também foi em abril, sendo -77,9 mil no Rio Grande do Sul e -918 mil no Brasil.

No Estado, entre janeiro e junho o saldo foi negativo em 94.490 pessoas. Um cenário que fica ainda pior quando analisado apenas o período da pandemia (março a junho). “Foram 130.921 empregos formais a menos, um número 39% pior”, diz Larentis.

No país, o acumulado do primeiro semestre aponta para um saldo negativo de 1,19 milhão de pessoas. No período da pandemia, esse saldo negativo salta para 1,53 milhão de postos de trabalho.

Por outro lado, junho apresenta uma perspectiva melhor na análise do saldo entre admissões e demissões, tanto no município quanto no Estado e no país. Depois do ápice do saldo negativo registrado em abril em Bento (-1.448), os meses subsequentes trouxeram regressão desse dado, indo para -645 em maio e para -18 em junho. No Rio Grande do Sul, o sexto mês do ano registrou um acumulado de -4.851, enquanto no Brasil o saldo ficou em -11 mil pessoas.

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