Batimetria já está em campo para medir profundidade dos rios de grande porte do Estado

Levantamento começou pelo Taquari, em Triunfo, e deve atingir mais 2.500 quilômetros de extensão nos próximos 180 dias

O trabalho de campo batimétrico para avaliar a profundidade dos grandes rios do Rio Grande do Sul começou na segunda-feira (7/7). A primeira ação foi no Rio Taquari, em Triunfo, na Região Metropolitana de Porto Alegre. O objetivo é identificar pontos críticos de acúmulo de sedimentos e outras alterações no leito, especialmente após eventos extremos, como as enchentes que atingiram o Estado em 2024. A batimetria traz informação fundamental para melhorar o sistema de alerta de inundação por meio de modelagem hidrodinâmica – simula com maior precisão o comportamento do fluxo de água – e aprimorar o planejamento de gestão de eventos críticos de natureza hidrológica no Rio Grande do Sul.

Os dados obtidos vão subsidiar decisões técnicas sobre futuras intervenções previstas no Programa de Desassoreamento do Rio Grande do Sul (Desassorear RS). A atividade integra o Eixo 2 do programa e conta com investimento de R$ 45,9 milhões voltado aos rios de grande porte.

A ação, coordenada pela Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), ocorre após ordem de início assinada em 30 de maio e conclusão dos planos de trabalho pelas quatro empresas contratadas. Esse é um passo importante dentro das estratégias do Plano Rio Grande, programa de Estado liderado pelo governador Eduardo Leite para reconstruir o Rio Grande do Sul e torná-lo ainda mais forte e resiliente, preparado para o futuro.

A imagem mostra cinco pessoas próximas a um rio. Três estão em pé na margem, enquanto duas estão sentadas em um pequeno barco, vestindo um colete salva-vidas laranja. Uma das pessoas na margem segura um bastão longo, possivelmente para ajudar a atracar ou empurrar o barco. Ao fundo, há árvores e céu azul claro.
Batimetria é feita medindo o relevo submerso dos rios, de uma margem à outra – Foto: Luís André/Secom

Conhecendo as profundezas dos rios

Se as réguas instaladas em diversos pontos estratégicos medem a dinâmica das águas na superfície, a batimetria ajuda a identificar o perfil do relevo submerso dos rios, por meio de sonar e geolocalização. Para fazer a medição é usado o ecobatímetro, instrumento que usa uma antena de receptor GNSS (semelhante ao GPS). Ela demarca pontos geoposicionados que indicam a altura da qual o equipamento está operando, como referencial do dado coletado.

Esse equipamento possui um sonar, que faz uma varredura do rio, conforme explicou o engenheiro Diego Silva, da Profill Engenharia, que está atuando no trecho Taquari-Antas. “À medida que o barco se desloca, o dispositivo vai emitindo um sinal sonoro que bate no fundo e volta para o equipamento. Pela velocidade desse retorno é que se determina a profundidade. Fazendo diversas coletas na mesma linha, vamos obter o que se chama seção batimétrica, que é a profundidade daquela seção do rio. Com todas as seções realizadas, vamos ter um perfil do leito daquele recurso hídrico”, detalhou o engenheiro.

A batimetria também é feita no trecho seco das margens. O técnico caminha com a antena, demarcando os pontos, ou utiliza drones com mapeamento da área por laser. Isso ajuda a registrar a topografia das margens para auxiliar nas previsões de onde o nível do rio pode subir em níveis críticos.

Levantamento mapeou locais prioritários

Os trabalhos de preparação começaram há um ano, envolvendo etapas de planejamento e contratação. Ao todo, serão vistoriados 2.589 quilômetros de extensão. Os pontos de análise foram definidos por estudos da Sema em parceria com o Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS).

Para medir as seções batimétricas, o barco atravessa o rio no sentido perpendicular, de uma margem à outra. A menor seção, em afluentes, pode ser de 30 metros. A maior linha a ser mapeada, segundo o planejamento da Sema, deve atingir 1.640 metros de uma margem à outra.

As seções são realizadas em trechos distribuídos conforme o potencial de risco. Próximo a áreas urbanas serão realizadas a cada 200 metros, para maior detalhamento. Nas áreas intermediárias, a cada 500 metros. Naquelas que oferecem menor risco, a medição será realizada a cada mil metros.

A primeira medição, realizada no Rio Taquari, próximo ao clube náutico Ygara, em Triunfo, foi feita a um quilômetro da foz com o Rio Jacuí e mediu uma profundidade de 13 metros.

Uma fotografia em nível dos olhos mostra um barco de metal com cobertura de lona em um rio de água barrenta. Dentro do barco, três homens usando coletes salva-vidas laranjas observam um quarto homem, à direita, que está na beira do barco, usando um colete salva-vidas laranja sobre uma camisa xadrez e um gorro cinza. Um dos homens sentados no barco segura um remo. Ao fundo, outras embarcações estão ancoradas. O céu é azul e o sol é forte.
Para fazer a medição, é usado o ecobatímetro, equipamento que funciona como um sonar para ler o fundo do rio – Foto: Luís André/Secom

Dados vão ajudar a melhorar os alertas

O analista de infraestrutura do Departamento de Recursos Hídricos e Saneamento da Sema e doutor em Geociências, Fernando Scotta, explicou que o levantamento batimétrico deve aumentar a qualidade e a velocidade da resposta do Estado para alertas necessários, gerando modelos hidrodinâmicos mais assertivos.

“Essa coleta é um salto para o desenvolvimento do Estado. Vamos ter um levantamento sistemático por todo o território e permitir que os dados estejam disponíveis e uniformizados para o acesso geral. Isso vai dar agilidade para as empresas e universidades que vão rodar os modelos hidrodinâmicos com insumos já prontos. Então, tudo tende a ficar mais rápido para a emissão de alerta das áreas que podem ser impactadas ou não”, afirmou.

Informação na palma da mão para os moradores

O trabalho dos técnicos pode parecer distante e até difícil de entender, mas basta conversar com os moradores ribeirinhos para perceber a aplicação prática dos dados. A dona de casa Júlia Terezinha Silva da Fonseca, moradora de Triunfo, passou a cuidar com mais atenção os movimentos do Rio Taquari. Em 2024, as águas atingiram até o teto da casa do filho, que perdeu praticamente tudo na enchente. Informação precisa passou a ser um item de sobrevivência para a família.

“Agora, cada vez que chega um aviso da Defesa Civil no celular, eu corro para avisá-lo. Ele trabalha como guarda e nem sempre está perto do telefone. No ano passado, a gente nem ficou sabendo que vinha a enchente e quando vimos a água tomou conta de tudo. Não deu tempo de fazer nada, ele saiu de casa só com a roupa do corpo e os documentos. É importante a gente saber antes quando vem chuva forte para se preparar melhor. Pelo menos a gente fica mais seguro”, relatou a moradora.

Uma mulher idosa, de pele clara e cabelos castanhos longos, está em primeiro plano, olhando para a direita com uma expressão pensativa. Ela veste uma camiseta rosa com letras em verde-limão e um boné azul com um emblema. Em sua mão esquerda, ela segura um longo galho de madeira. Ela está em uma margem de rio marrom-avermelhada, com o solo úmido e irregulares. Atrás dela, várias árvores com galhos secos se estendem sobre a água. No rio, que tem uma tonalidade marrom-clara, há dois barcos pequenos, um laranja e outro cinza, próximos à margem. Ao fundo, o rio se estende sob um céu azul claro, sem nuvens.
Júlia se sente mais segura com os alertas da Defesa Civil para evitar novos transtornos – Foto: Anderson Machado/Secom

Sondagem no Guaíba começa nesta semana

No Guaíba, o trabalho batimétrico começa na quarta-feira (9/7). A aplicação da técnica no lago, no entanto, não é uma novidade. Anualmente, as empresas que navegam por ali realizam várias batimetrias anuais, que embasam as dragagens que realizam para manter o nível seguro para as embarcações. Nestes casos, os sedimentos não são retirados do lago, apenas removidos para a manutenção da profundidade e da largura exigidas para hidrovias.

Outros rios envolvidos

Além do Guaíba e do Rio Taquari, os trabalhos de campo batimétrico abrangem outras duas regiões prioritárias: Baixo Jacuí e bloco Metropolitano, que inclui os rios Caí, Sinos e Gravataí. A previsão é que os levantamentos sejam concluídos em até 180 dias. Os primeiros dados, com o trabalho de metade da área a ser analisada, devem ser entregues pelas empresas dentro de dois meses.

Um panorama aéreo mostra um rio largo e sinuoso que corta uma paisagem verde e marrom sob um céu azul claro. No canto superior esquerdo, uma cidade com construções claras e telhados escuros se alonga junto à margem do rio. A seguir à cidade, o rio se expande em áreas de águas mais escuras, com pequenas ilhas de terra e vegetação em seu leito. A paisagem é formada por campos agrícolas marrons e verdes, misturados com trechos de mata fechada e escura. Ao longe, observa-se uma planície sob uma suave névoa azul no horizonte.
Primeira batimetria foi realizada no Rio Taquari, próximo à foz com o Jacuí – Foto: Luís André/Secom
Foto: Luís André/Secom
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