Assembleia presta homenagem aos 150 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul

Na sessão plenária desta terça-feira (20), a Assembleia Legislativa prestou homenagem aos 150 anos da Imigração Italiana no Rio Grande do Sul, em Grande Expediente Especial. A homenagem foi proposta por Guilherme Pasin (PP). “Ocupo esta tribuna para compartilhar não apenas uma história, mas uma verdadeira epopeia: uma saga humana feita de dor, esperança e coragem. Assim como tantas outras que compõem o mosaico étnico do nosso Rio Grande do Sul, esta ajudou a moldar a alma do nosso povo”, afirmou o deputado no Plenário 20 de Setembro, quando rememorou a história da imigração e seu legado.

Pasin relatou que mais de um terço da população gaúcha tem ascendência italiana, conforme as estimativas. Segundo o parlamentar, esse número expressivo não é apenas estatístico, “revela a profundidade da influência italiana na formação do povo, em sua cultura, na sua religiosidade, em seus valores e modo de vida das comunidades”.

O deputado ainda fez referência à influência da imigração na economia. “O setor vitivinícola, tracionado pelos nossos imigrantes, tornou-se hoje um dos pilares da economia gaúcha, um símbolo de nosso estado. Com reconhecimento internacional, produzimos aqui incríveis vinhos e espumantes, respondendo por cerca de 90% da produção nacional”. Além disso, relatou Pasin, a indústria moveleira e a metalmecânica, a agricultura, o turismo de base cultural, o enoturismo, o comércio, a gastronomia, a construção civil, entre outros segmentos, são diretamente influenciados por descendentes de italianos e que movimentam a economia, gerando milhares de empregos.

“O sesquicentenário da imigração italiana é mais do que uma comemoração. É uma reafirmação de valores. Valores como a solidariedade, trabalho honesto, fé e convivência em comunidade, respeito à cultura e à memória. E esses são os pilares de uma sociedade que consideramos justa”, declarou.

Participaram o secretário de Estado da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, Fabrizzio Guazelli Peruchin; representado o governador, e outros integrantes do Executivo, entre eles, o secretário de Desenvolvimento Econômico, Ernani Polo; o desembargador Francesco Conti, representante do Tribunal de Justiça; o presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul e ex-presidente desta Assembleia Legislativa, Alexandre Postal; o cônsul-geral da Itália no Rio Grande do Sul, Valério Caruso; o prefeito de Garibaldi e presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (AMESNE), representando os prefeitos, Sérgio Chesini; a presidente do Comitê dos Italianos no Exterior, circunscrição Rio Grande do Sul (Comites/RS), Cristina Mioranza; a conselheira-geral dos Italianos no Exterior, Stephania Puton; o deputado emérito Celso Bernardi; a representante da Câmara de Porto Alegre, vereadora Mariana Lescano, entre outras autoridades e convidados.

Primeiros imigrantes
O deputado rememorou o ano de 1875, quando desembarcavam em solo gaúcho os primeiros imigrantes do maior processo de imigração do estado, na grande diáspora italiana. Os italianos vieram principalmente das regiões do Vêneto, Lombardia, Trentino-Alto Ádige, Piemonte e Friuli-Venezia Giulia. “Fugiam da miséria, da fome, da instabilidade política e da falta de perspectivas”, relatou. Pasin prosseguiu, ponderando que não traziam ouro nos bolsos, mas uma herança preciosa no espírito, sendo a fé, a tenacidade e o sonho de recomeçar. “Camponeses, artesãos, comerciantes, operários, gente simples, porém de um valor incalculável”.

Pasin disse que a história da imigração italiana no Rio Grande do Sul começa muito antes do desembarque em nossas terras: “inicia na dor da partida”. Ele contextualizou, recordando que a Itália do século 19 era um país recém-unificado, mas profundamente desigual. “A fome, a pobreza extrema, as guerras constantes e a ausência de oportunidades empurraram milhares de famílias para longe de suas raízes. Muitos partiram quase sem nada, apenas com a coragem no peito e a fé no futuro. O próprio governo italiano incentivava a emigração, como forma de aliviar a pressão social e econômica que se acumulava nos campos e nas cidades superlotadas”.

Nesse cenário, do outro lado do oceano, o Brasil oferecia a promessa de trabalho, terra e liberdade, rememorou. “Era a cucagna , um misto de prosperidade e fartura, onde seria possível reconstruir a vida com dignidade. Essa esperança moveu pais, mães, filhos e avós a embarcar em navios precários, a enfrentar doenças, saudades, incertezas”, assinalou.

A chegada e as dificuldades
Ao chegarem no Brasil, os imigrantes encontraram um cenário completamente adverso, com matas densas, relevo acidentado, clima instável e isolamento, além de não falarem a língua portuguesa. “Não conheciam os hábitos locais. Não encontraram infraestrutura alguma. Tiveram que pagar pelas terras e por suas ferramentas. Tiveram que construir tudo a partir do nada, mas o que poderia ser obstáculo se tornou motor de transformação”, afirmou o parlamentar. Ele ponderou que a verdadeira “cucagna” não lhes foi entregue, foi conquistada, dia após dia, com o suor do rosto, com as mãos calejadas, com o esforço coletivo e com a coragem de quem não aceitou o fracasso como destino. Assim, recordou que homens e mulheres enfrentaram as dificuldades do cotidiano com trabalho, perseverança e organização comunitária, construindo casas com as próprias mãos, cultivando a terra, trazendo novas técnicas de produção, abrindo estradas e edificando capelas, onde passaram a realizar festas religiosas e culturais. “Acolheram a nova pátria com amor, e nela plantaram suas esperanças, trazidas em suas malas e corações após 36 dias de viagem em alto mar.”

Resiliência
De acordo com o deputado, essas são histórias de coragem e resiliência, de homens e mulheres que cantaram em dialeto nos momentos de dor e alegria, que se uniram em mutirões para construir pontes ao invés de muros. “A imigração italiana não se deu apenas nas grandes decisões, mas sobretudo nos pequenos gestos do cotidiano. Ela é a semente de um modo de vida, o traço de um povo que transformou a dor em arte, a dificuldade em cultura, e o orgulho por tudo aquilo que enfrentara em pertencimento. Por isso, esta homenagem transcende o símbolo: ela é também um pacto de continuidade com esse legado vivo. Não há como falar de futuro sem reconhecer a grandeza do passado”, frisou.

Dialeto
Ao destacar as marcas dos movimentos migratórios, Pasin fez referência a um dos legados mais afetivos, o do dialeto Talian, “uma tessitura sonora de palavras vênetas, trentinas e lombardas,“que resistiu ao tempo como quem resiste ao esquecimento, guardando nas sílabas a alma de um povo”.

Durante o discurso, Pasin observou que ‘no falar ítalo-gaúcho há um ritmo próprio, uma afetividade inconfundível, um jeito caloroso de tratar a vida. “Além do falar, possuímos um jeito único de viver o mundo: com intensidade, com paixão, um jeito de viver com alma. Se vive em comunidade, como quem entende que a vida só faz sentido quando é partilhada. Fala alto, porque sente forte. Gesticula, porque as mãos falam o que o coração transborda. É impossível separar o italiano da emoção. Ele sente antes de pensar, ele ama antes de perguntar, ajuda antes de ser chamado. E mesmo em solo estrangeiro, planta raízes que florescem em forma de família, trabalho, fé e festa. A italianidade pulsa nele, viva e vibrante, como uma herança que nem o tempo, nem a distância conseguem apagar”, afirmou, externado o jeito e o sentimento do povo imigrante.

Solidariedade
O deputado mencionou o drama das enchentes de 2024, quando destacou a solidariedade evidenciada. “Algo quase que instintivo: valores que definem o espírito italiano e que foram colocados à prova recentemente, quando o nosso estado enfrentou o drama das enchentes e deslizamentos de terra. Nesse momento de profunda dor, vimos a verdadeira irmandade se manifestar”. Nesse momento, fez um agradecimento especial ao governo italiano que, por meio do trabalho do cônsul-geral, Valério Caruso, e do embaixador Alessandro Cortese, mobilizou-se e enviou ao Rio Grande do Sul um avião carregado de mantimentos, medicamentos, equipamentos e outros donativos.

Herói de dois mundos
Em sua homenagem Pasin também citou Giuseppe Garibaldi. “Se ainda pairam dúvidas sobre o quanto a alma italiana ajudou a moldar a identidade sul-rio-grandense, devemos voltar no tempo para antes da diáspora, recordar a figura de Giuseppe Garibaldi, o herói dos dois mundos, que sonhou liberdade tanto na Itália quanto nos pampas do Sul”. E segundo pesquisas históricas, foi um italiano, Tito Livio Zambeccari o autor da bandeira da República Rio-grandense, aquela mesma que inspirou a atual bandeira do nosso estado, mencionou. “Uma obra de arte que transcende o tempo e transforma-se em símbolo eterno da coragem, da luta e da união entre dois povos movidos pela esperança”.

Frente Parlamentar
Ao final, Pasin destacou a importância da Frente Parlamentar Brasil-Itália no Rio Grande do Sul, a qual preside. A frente tem como principal missão aprofundar os laços históricos, culturais, econômicos e diplomáticos entre o estado e a República Italiana, atuando como um canal institucional de diálogo, cooperação e promoção mútua. “Através dela, buscamos promover ações concretas em diversas áreas. A Frente Parlamentar é, portanto, uma ponte viva entre a história que celebramos e o futuro que desejamos construir. E é justamente por isso que propusemos a esse Parlamento o reconhecimento oficial do Sesquicentenário da Imigração Italiana como marco de Relevante Interesse Cultural para o Rio Grande do Sul, reforçando a importância de valorizar e preservar essa memória que é parte essencial da nossa identidade coletiva”, ressaltou o deputado.

Catolicismo e cidadania
O parlamentar ressaltou que o catolicismo cultural é base da formação italiana, revestindo, talvez, “a mais forte de nossas características”. Disse que um dos ensinamentos centrais da fé católica é que tudo tem um propósito na vida. “Deus, em sua sabedoria e amor, tem um plano para cada pessoa e evento. Talvez por isso, ao comemorarmos 150 anos da imigração italiana no Rio Grande do Sul, o Parlamento Italiano discute novas regras para o reconhecimento de sua cidadania, impactando diretamente na escolha e vida de milhares e milhares de italianos aqui nascidos e outros tantos espalhados pelo mundo. Ingênuos aqueles que fecham os olhos, não para o princípio fundamental do direito italiano que é o direito de sangue ou o ius sanguinis, mas para a certeza de que todo o descendente nasce italiano e isso nunca irá mudar”, asseverou.

Ao encerrar, afirmou que, diferente daqueles que querem virar as costas para sua história, os ítalo-gaúchos, descendentes italianos em solo Sul Rio-Grandense e Brasileiro, filhos da grande diáspora, têm muito orgulho e gratidão por todos aqueles homens e mulheres corajosos que iniciaram a grande saga, que continua, ano após ano, sendo escrita nesta terra. “Que nunca nos falte memória, gratidão e coragem. Como ensinaram os imigrantes, a vida é feita de raízes, mas também de asas”.

Pasin ainda fez muitas saudações especiais ao final, entre as quais, aos jovens. No encerramento foram interpretadas canções pelo Coral Massolin de Fiori e ocorreu a entrega de uma placa comemorativa ao sesquicentenário da imigração italian ao cônsul-geral da Itália no Rio Grande do Sul, Valério Caruso. A sessão foi comanda pelo presidente da Assembleia Legislativa, Pepe Vargas (PP), que se associou às homenagens.

Apartes
Em apartes falaram os deputados Frederico Antunes (PP), Dr. Thiago Duarte (União); Professor Claudio Branchieri (PL), Airton Artus (PDT), Felipe Camozzato (Novo), Miguel Rossetto (PT), Rodrigo Lorenzoni (PL); Tiago Simon (MDB), Elton Weber (PSB), Professor Bonatto (PSDB) e Gustavo Victorino (Republicanos).

Fonte e foto: AL-RS
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