As descobertas recentes sobre a trajetória da cognição humana sugerem que, se uma idosa de 94 anos de idade que não perdeu sua capacidade cerebral juvenil, não sofrer nenhum acometimento físico nos próximos seis anos, como um AVC, está destinada a ser uma centenária cognitivamente afiada.
Menos de 1% dos americanos atinge a idade de cem anos, e um novo levantamento da Holanda indica que aqueles que alcançam esse marco com as faculdades mentais ainda intactas provavelmente permanecerão assim pelos anos restantes, mesmo que seu cérebro esteja repleto de emaranhados neurofibrilares e placas neuríticas, que são típicos da doença de Alzheimer.
As descobertas do estudo holandês podem abrir caminho para que muitos se tornem “superidosos cognitivos”, como os pesquisadores chamam as pessoas que se aproximam da parte final da vida humana com um cérebro que funciona como se fosse 30 anos mais jovem.
Um dia, todos os que chegarem com capacidade física aos cem anos também poderão permanecer mentalmente saudáveis. Ao estudar os centenários, os pesquisadores esperam identificar características confiáveis e desenvolver tratamentos que resultem em um envelhecimento cognitivo saudável para a maioria. Enquanto isso, podemos fazer muita coisa agora para manter nosso cérebro em ótimas condições, mesmo que chegar a cem anos não seja uma meta nem uma possibilidade.
Essas perspectivas promissoras resultam do estudo de 340 holandeses centenários que vivem de forma independente. Eles foram testados e mostraram ser cognitivamente saudáveis no momento da inscrição. Os 79 participantes que não morreram nem desistiram do estudo retornaram para mais testes cognitivos, realizados a cada 19 meses, em média.
A equipe de pesquisa, dirigida por Henne Holstege na Universidade Livre de Amsterdã, relatou no Jama Network Open, em janeiro, que os participantes não registraram declínio nas principais medidas cognitivas, exceto uma leve perda na função de memória. Basicamente, os participantes tiveram o mesmo desempenho de pessoas 30 anos mais jovens em cognição geral, com a capacidade de tomar decisões e fazer planos e executá-los; de fazer o desenho de uma figura que haviam visto; de listar animais ou objetos que começam com determinada letra; e de não se distraírem facilmente ao realizar uma tarefa ou de se perderem ao sair de casa. Mesmo aqueles com genes ligados a um risco elevado de desenvolver a doença de Alzheimer conseguiram um bom desempenho nos testes.
Quase um terço dos participantes concordou em doar o cérebro depois da morte. A autópsia cerebral de 44 dos centenários originais revelou que muitos tinham neuropatologia substancial comum a pessoas com doença de Alzheimer, embora tivessem permanecido cognitivamente saudáveis por até quatro anos além de cem.
O dr. Thomas T. Perls, geriatra da Universidade de Boston que dirige o New England Centenarian Study e escreveu um editorial que acompanha o estudo, disse que os participantes holandeses representavam la crème de la crème dos centenários que evitaram o início da doença de Alzheimer por pelo menos 20 a 30 anos. Eles pareciam ser resistentes à doença ou cognitivamente resilientes, de alguma forma capazes de repelir as manifestações dos efeitos prejudiciais ao cérebro. Talvez ambos.
Segundo Perls, a resistência pode refletir uma ausência relativa de danos cerebrais conferida pelos genes ou pelo estilo de vida de uma pessoa. Ou pode ser que haja “mecanismos biológicos de proteção que retardam o envelhecimento do cérebro e previnem doenças clínicas”.
A resiliência, por outro lado, caracteriza as pessoas com habilidades cognitivas normais, embora o cérebro possa apresentar danos típicos da doença de Alzheimer, a principal causa da demência. Além dos emaranhados neurofibrilares e das placas neuríticas, essas alterações incluem perda de neurônios, inflamação e vasos sanguíneos obstruídos.
As pessoas com resiliência cognitiva são capazes de acumular “níveis mais altos de danos cerebrais antes do aparecimento de sintomas clínicos”, relatou a equipe holandesa.
Yaakov Stern, neuropsicólogo e diretor de neurociência cognitiva da Faculdade de Médicos e Cirurgiões da Universidade Columbia, explicou que, embora os indivíduos resistentes possam ser poupados de grande parte da patologia cerebral típica da doença de Alzheimer, os resilientes têm o que os pesquisadores chamam de reserva cognitiva, que lhes permite enfrentar melhor as alterações cerebrais patológicas.
Stern apontou que muitos estudos revelaram que vários fatores de estilo de vida podem contribuir para a resiliência. Entre eles estão completar um ensino superior de qualidade; escolher uma ocupação que lida com fatos e dados complexos; consumir uma dieta de estilo mediterrâneo; engajar-se em atividades de lazer; socializar com outras pessoas; e exercitar-se regularmente. “Testes controlados de exercícios mostraram que isso também melhora a cognição. Não é apenas o resultado de um melhor fluxo sanguíneo para o cérebro. O exercício engrossa o córtex cerebral e o volume do cérebro, incluindo os lobos frontais que estão associados à cognição”, explicou o neuropsicólogo.
Para Perls, “a doença de Alzheimer não é um resultado inevitável do envelhecimento. Aqueles geneticamente predispostos podem atrasá-la significativamente ou não mostrar nenhuma evidência de sua presença em vida, fazendo coisas que sabemos que são saudáveis: praticar exercício regularmente, manter um peso saudável, não fumar, consumir um nível baixo de carne vermelha na dieta e fazer coisas que são cognitivamente novas e desafiadoras para o cérebro, como aprender um novo idioma ou um instrumento musical”.
Fonte: O Sul
Foto: Reprodução
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