Alunas da EMEF Agostino Brun, de Bento, integram o projeto “Elas na Engenharia”

Para além do conhecimento sobre a área, incentiva o protagonismo e o empoderamento feminino em setores espaços tradicionalmente ocupados por homens.

Desde abril, a EMEF Agsotino Brun, localizada no bairro Imigrante, em Bento, integra movimento sobre a igualdade de gênero. O assunto, de suma importância para os debates contemporâneos da conscientização sobre as diferenças, abre espaços de diálogos para o fortalecimento do empoderamento feminino, para o desenvolvimento de uma sociedade mais equânime nos conceitos, percepções e oportunidades na vida social, cultural e histórica dos papéis impostos para as mulheres.

Coordenado pela Drª. Fabiana Lopes da Silva, por meio do Edital CNPq de Ciências Exatas e Engenharia, executado através de uma parceria entre IFRS e UFRGS, “Elas na Engenharia” tem a iniciativa de aproximar alunas de escolas públicas às áreas de ciência, tecnologia e engenharia metalúrgica. Nesta edição, tem como tema galvanização eletrolítica com zinco que auxilia a amenizar a corrosão por ferrugem em peças de aço. Tendo uma duração de dois anos, o projeto traz uma metodologia com três pilares: ensino, pesquisa e extensão, com foco em inovação e sustentabilidade.

Na Agostino Brun, a equipe está composta por Ana Laura Zanatto, Manuela de Rossi, Nerea Benitez Ruano, Nadia Fernanda Rojas Parra, Antonia Vignatti Baggio e Agatha Bettú, do 8º ano, e pela professora de Matemática e tutora, Elisa Ariotti.

O início das atividades foi a pesquisa sobre mulheres cientistas. As alunas, de forma livre, buscaram nomes que conseguiram se destacar pelo brilhantismo de suas inteligências e suas contribuições para o desenvolvimento do campo das Ciências. Apesar disso, encontraram grandes dificuldades de reconhecimento e visibilidade dentro de uma cultura machista, fato que chamou a atenção das alunas ao preconceito exercido de forma virulenta ao longo do século XX.

O desafio da pesquisa foi frutífero para as alunas que descobriram como diversas mulheres cientistas e engenheiras conseguiram conquistar uma parcela de espaço dentro de cenário um cenário ocupado predominantemente por homens, de como seus nomes são sinônimo de vanguarda, como Manuela reflete.

“Não tinha ideia desse universo: foi revelador. Achei muito interessante principalmente por ouvir a história da professora Fabiane, que é muito inspiradora. Percebemos um leque de cientistas mulheres que contribuíram e foram invisibilizadas ou tentaram diminuir a sua participação”, destaca a estudante.

Após as pesquisas, entrou a ludicidade e a criatividade para a criação de um jogo sobre as biografias de mulheres cientistas e engenheiras que amplia e acessa para outras jovens conhecer a história delas. Focado na formação, o projeto prosseguiu nas atribuições profissionais, imersão sobre materiais como polímeros, cerâmicos e metais, criação de mascote a ser confeccionado com diferentes materiais recicláveis evidenciando as relações com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

Nas próximas etapas, entram em ação estudos sobre fundamentos básicos da físico-química dos materiais visando preparar as estudantes para interagir com a pesquisa na área de galvanização eletrolítica. As estudantes serão introduzidas aos conhecimento fundamentais da ciência e tecnologia dos materiais, bem como, ao uso de Arduino (plataforma), uso de impressora 3D, entre outros que estruturam os conhecimentos sobre o mundo da química, física, componentes inerentes ao ofício das Exatas e da Engenharia. No segundo ano, será elaborado um projeto de pesquisa aplicado ao nível do 8º ano pensando em soluções para a comunidade, com formulário de perguntas, aplicação do questionário e análise de respostas.

Para Ana é o primeiro contato sobre o tema o qual fez pensar sobre a alquimia da pesquisa e do pensamento científico, além de como a condição feminina foi colocada para descanteio.

“O projeto ampliou o meu olhar. Quando olhamos para uma casa, não pensamos como foi construída, oque tem de material. As mulheres na Ciência não são muito representadas”, comenta Ana.

Para além dos conhecimentos, “Elas na Engenharia” é imprescindível para o novo espírito do Século XXI. Ele enseja realidades possíveis de perspectivas concretas para a liberdade de escolha profissional, onde não cabe mais o velho pré-conceito ou preconceito de determinação de papéis. A quebra de paradigmas faz parte da evolução da representatividade, gerando um discurso sólido sobre empoderamento feminino e não mais nas contingências das demandas.

“Elas na Engenharia” é indissociável da biografia da Drª. Fabiane. Quando ela ingressou na faculdade, em 1999, teve apoio com ressalvas. Na época, eram 50 alunos, sendo quatro mulheres. De lá para cá, o percentual aumentou e a presença feminina na engenharia soma 10%.

“Muito importante o assunto estar em pauta. Na época que decidi fazer Engenharia foi bem difícil a aceitação em geral; as pessoas estranharam no meu meio social e familiar. Me incentivavam, mas, ao mesmo tempo, diziam ‘É um ambiente tão masculino’. Muitas situações dentro do curso e no mercado de trabalho o machismo estrutural se evidenciou: achava que era normal; precisava me adaptar. Quando os debates ganharam amplitude, acendeu um alerta dentro de mim: ‘Não é normal, não precisamos aceitar isso’”.

Da sua concepção em 2014, até hoje, são mais de dez anos de atuação dentro de uma área que está abrindo suas portas para o protagonismo feminino, tralhando junto com a educação, para uma realidade mais justa e plena de igualdade, de ocupar espaços, de colaborar para as melhorias da desigualdade de gêneros.

“Tudo que passo para elas, foi o que aprendi na graduação. Sou um elo de ligação entre as que me precederam e que vão dar continuidade. É primordial que iniciativas como essas pavimentam as referências e apontem um fluxo de comunicação aberta, dialógica e empática, pois urge termos oportunidade iguais”, enfatiza Fabiane.

Para a diretora do educandário, Érica Lodi Soledade, a proposta expressa abertura de horizontes.

“É importante na escola, pois desperta interesse profissional em áreas da Engenharia também para mulheres, estimulando e despertando, por de meio de uma metodologia séria, a diversidade no mercado de trabalho”.

“Elas na Engenharia” iluminam os caminhos da inclusão, articulando e promovendo reflexões críticas para a representividade, como comenta a professora Elisa.

“Esse projeto desperta nas nossas meninas a curiosidade, a vontade de questionar, investigar e ir atrás do ‘porquê’ das coisas. Elas interagem entre si e com meninas de outras instituições, cada uma com seu jeito único de resolver problemas. Aprendem a escutar, a respeitar outra lógica e a crescer juntas. No final, eu vejo cada uma delas evoluindo não só na matéria, mas como pessoas mais confiantes, criativas e prontas para construir um futuro incrível”, afirma.

A Secretária de Educação, Andreza Peruzzo, enfatiza o caráter formador de conscientização do projeto . “O lugar da mulher é onde ela quiser estar, ocupando todos os espaços, família, trabalho, política, ciência, cultura, liderança com respeito, dignidade e igualdade de oportunidades. O projeto além de todo o conhecimento que traz, é importante ao incentivar o protagonismo feminino”.

Fonte e foto: Assessoria de Comunicação Social – Prefeitura