“Tu é louca”. “Ninguém vai te querer assim”. “Tu não faz nada certo, não presta para nada”. Frases depreciativas como estas, ditas a mulheres dentro de relacionamentos amorosos, revelam mais do que uma comunicação agressiva e hostil. A violência psicológica, invisível aos olhos, deixa tantas marcas e traumas em suas vítimas como qualquer outra, podendo, ainda, representar a porta de entrada para diferentes tipos de agressões. A discussão sobre o tema guiou o evento do Projeto Borboleta, realizado nesta terça-feira (12/08), no Foro Central II, em Porto Alegre.
A atividade, que integra a programação do Agosto Lilás – campanha nacional de enfrentamento à violência -, teve a literatura e a arte visual como aliadas para abordar o problema, com o lançamento do livro ‘A dor que não sangra’, da psicóloga Rosane Machado, e a oficina de autorretrato conduzida pela artista Graça Craidy, cuja arte ilustra a capa da obra literária. Durante a tarde, houve ainda a participação dos servidores do Judiciário, Viviane dos Santos e Misael Nascimento, que interpretaram trechos do livro, encenando o casal fictício principal.
Violências invisíveis
De acordo com a Juíza Madgéli Frantz Machado, titular do 1° Juizado da Violência Doméstica e Familiar de Porto Alegre, falar sobre violência psicológica e esclarecer sobre como ela se apresenta na prática é necessário, já que, por ser invisível, torna-se muito mais difícil identificá-la. “Isso acontece com a própria vítima que, por vezes, tem dificuldade de se enxergar dentro de um ciclo de violência”, disse a magistrada, que também é criadora do Projeto Borboleta.

As Juízas de Direito Gabriela Bobsin e Madgéli Frantz Machado, e a psicóloga Rosane Machado (da esquerda para a direita) participaram do evento realizado no Foro Central II, em Porto AlegreCréditos: Eduarda Silva
A psicóloga e coordenadora técnica da iniciativa, Aline Vettorazzi, salientou que o tema do evento foi escolhido pelas próprias integrantes do grupo de acolhimento, que frequentam o projeto na capital. “Precisamos dar visibilidade a este tipo de violência tão comum, infelizmente, que não marca o corpo, mas sim, a alma das vítimas”, argumentou.
Lugar seguro
Dezenas de participantes do Borboleta acompanharam a atividade. Mulheres que, assim como Daniele Schmals, encontraram no projeto a alavanca que precisavam para transformar suas jornadas. “Aqui a gente se empodera e começa a ressignificar as nossas vidas. Eu cheguei aqui destruída, mas o fato de estarmos juntas, nos ouvindo e apoiando, é o que fez toda a diferença. Digo que este é o nosso lugar seguro, de fala e de acolhimento”, comentou Daniele, que participa do grupo desde 2015.
Relatos como este embasaram a pesquisa da psicóloga Rosane Machado, que se inspirou em relatos das integrantes da iniciativa para escrever seu novo romance. Com as vozes reais de mulheres vítimas de violência, a escritora narra a história de Hellen – a protagonista da obra, que vive um casamento infeliz e marcado por diversas formas de violência. “Conversando com estas mulheres, percebi que muitas delas estão inseridas no contexto de violência psicológica e não se dão conta”, explicou Rosane. A autora espera que o livro ajude as leitoras, que se identificarem com a personagem, neste processo de autopercepção, colaborando para um momento de libertação.

Atividade incluiu o lançamento do livro ‘A dor que não sangra’, da psicóloga Rosane Machado, com ilustração na capa assinada pela artista Graça Craidy. Crédito: Eduarda Silva
Na capa do romance, a ilustração assinada pela artista visual Graça Craidy ajuda a representar a narrativa. A pintura integra a série artística ‘Livrai-nos do Mal’ e, segundo ela, demonstra a forma como a violência psicológica age de forma maquiavélica para destruir a vítima de dentro para fora. A artista, que usa a sua arte para defender pautas sociais – especialmente, lutar contra a violência doméstica -, também realizou uma oficina de autorretrato. Com folhas de ofício, lápis e pequenos espelhos, as mulheres puderam, literalmente, se enxergar – uma analogia para o importante processo de autovalorização e reconhecimento.
Também participaram do evento a titular do 1º Juízo do 2º Juizado de Violência Doméstica de Porto Alegre, Juíza de Direito Gabriela Bobsin; a Delegada de Polícia e Diretora da Divisão de Proteção e Atendimento à Mulher, Waleska Viana de Alvarenga; a Delegada de Polícia, Thaís Dias Dequech; as Defensoras Públicas Cíntia Barbosa Pereira e Claudia Barros; as representante do Senac, Manoela Godoy e Magale Mendel; e as representantes da ONG Themis – Gênero, Justiça e Direitos Humanos, Ane Caroline Moraes e Maria Inês Barcelos.

A artista Graça Craidy realizou uma oficina de autorretrato com as participantes Crédito: Eduarda Silva
Violência psicológica
Ela se manifesta de várias formas, como manipulação, chantagem, intimidações, humilhações disfarçadas de brincadeiras, controle excessivo sobre amizades, comportamentos, crenças, roupas e rotina, isolamento social e o uso do silêncio como forma de punição. É um tipo de agressão que destrói a autoestima da mulher, enfraquecendo sua liberdade emocional.
Se você é vítima ou testemunha de violência contra a mulher, denuncie:
– Brigada Militar: Disque 190 (se a violência estiver acontecendo)
– Central de Atendimento à Mulher 24 horas: disque 180
– Polícia Civil: WhatsApp (51) 98444-0606
– Denúncia Digital: acesse delegaciaonline.rs.gov.br.
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