Equipe da Embrapa foi aplaudida em pé pelo seu trabalho durante evento em Petrolina-PE
Após palestrarem durante o 10º Debate da Viticultura, realizado no dia 10 de maio em Petrolina (PE), os melhoristas da Embrapa Patrícia Ritschel e João Dimas Garcia Maia (Uva e Vinho), e Patrícia Leão (Semiárido) foram surpreendidos pelos organizadores do evento ao serem homenageados pelo trabalho que vêm fazendo em prol da viticultura no Semiárido nordestino.
A plateia, formada por mais de 300 técnicos e viticultores da região, ficou em pé para aplaudir e prestar a sua homenagem ao Programa de Melhoramento Genético ‘Uvas do Brasil’ e à equipe da Embrapa. “O Brasil é um país cheio de problemas, cheio de coisas erradas e aí você vê pessoas imbuídas com um propósito profissional. Isso fez com que o Vale [do São Francisco] desse uma reerguida, uma melhorada, uma oxigenada, por causa de vocês. Tenho a honra de fazer parte disso. É histórico. Um privilégio nosso”, pontuou o consultor Carlos Augusto Prado, um dos organizadores do evento, ao entregar uma das homenagens.
“Esse é o sonho de todo o pesquisador: ter o nosso produto [cultivares de uva] sendo usado e contribuindo para que o Vale, ou outra região, se desenvolva. É o objetivo da minha vida”, pontuou ao agradecer a premiação a pesquisadora Patrícia Ritschel, que, ao lado de Maia, coordena o Programa. Ela atribuiu a conquista ao trabalho em equipe, pois para desenvolver uma nova cultivar muitos são os profissionais envolvidos, desde as equipes de campo, laboratório, transferência, comunicação, administração, incluindo também pesquisadores de outras áreas. Ela destacou, ainda, a importante parceria com outras unidades, como da Embrapa Semiárido, que apoia as ações localmente, e da Embrapa Produtos e Mercados, atual Secretaria de Inovação e Negócios (SIN), responsável pelo apoio no lançamento e disponibilização das cultivares aos viveiristas credenciados.
Na visão de João Dimas Garcia Maia, “fazer melhoramento é subir degrau por degrau. Primeiro você faz a base, depois a estrutura até o acabamento. Não chegamos ainda ao acabamento, mas temos a base genética e o conhecimento para fazer, só nos falta apoio financeiro”, pontuou ele. Durante o encontro, Maia antecipou aos presentes que já estão em fase de validação mais 40 novas seleções sem sementes, uvas tipo gourmet, ainda melhores que a BRS Vitória, cultivar que está se destacando na região pela excelente produção, resistência ao míldio e aceitação pelo mercado consumidor.
Para a pesquisadora Patrícia Leão, melhorista da Embrapa Semiárido homenageada na cerimônia, a Embrapa está contribuindo para uma nova realidade. Os resultados estão fazendo a diferença na região. “Me faz sentir orgulho em fazer parte desta equipe”, afirmou ela ao relembrar a sua trajetória de mais de 25 anos na área.
Jackson Lopes, produtor e consultor que também coordenou o evento, destacou que esteve presente nas comemorações dos 40 anos do Programa de Melhoramento, no mês de fevereiro, em Bento Gonçalves, como representante do Semiárido, e ficou impressionado com o trabalho realizado. “Talvez 1% deste auditório não tenha a paciência e a ideia de todo o trabalho minucioso e a dedicação necessária para desenvolver uma cultivar”, destacou ele ao convidar os presentes para uma salva de palmas em agradecimento ao trabalho desenvolvido, ao repassar a placa para marcar o reconhecimento.
Além da equipe de melhoristas, a organização do evento também prestou homenagem às Chefias da Embrapa Uva e Vinho e Semiárido, que foram representados pelo chefe Transferência de Tecnologia, Marcos Botton e pelo chefe de Pesquisa e Desenvolvimento, Flávio de França Souza, respectivamente. Botton, ao receber a placa, compartilhou a homenagem e a dedicou ao ex-chefe-geral José Fernando da Silva Protas, atual supervisor do Núcleo de Desenvolvimento Institucional (NDI), que foi, em conjunto com o melhorista aposentado Umberto Camargo, quem iniciou e apoiou incondicionalmente o Programa. “Tem a equipe que faz a parte operacional da pesquisa, mas tem a parte responsável pela Gestão, que é quem viabiliza e faz com que as coisas aconteçam”, declarou Botton ao repassar a placa para Protas.
Ao fazer o seu agradecimento, Flávio de França Souza, da Embrapa Semiárido, reforçou a vontade de continuar trabalhando e de manter a interação com os produtores. “A Embrapa trabalha para resolver os problemas do setor produtivo. A gente quer continuar fazendo a alavancagem do Vale e de outras regiões nas quais a uva é um produto importante”, pontuou.
O Programa de Melhoramento Genético ‘Uvas do Brasil’
Implantado em 1977 na sede da Embrapa Uva e Vinho, em Bento Gonçalves, pelo melhorista aposentado Umberto Camargo, o Programa atende demandas de Nordeste a Sul do Brasil, visando desenvolver e selecionar cultivares adaptadas especialmente às condições brasileiras. Nessa trajetória, já foram lançadas dezenove cultivares, atendendo as cadeias produtivas de uvas de mesa (para consumo in natura), de suco e de vinho, todas com características competitivas, tais como alta produtividade e tolerância ao míldio.
A parte mais complicada do processo não é o desenvolvimento de uma nova cultivar, mas sim a sua adoção. “É muito difícil introduzir um produto novo no mercado, se já existe um conceito. Muitas vezes você desenvolve bons materiais, com as características que o produtor está precisando, mas por problemas de manejo ou por outras variáveis dá algum problema e o produtor já arranca, não dá chance”, relata Camargo. Mas como uma boa dose de persistência é sempre necessária, ainda mais se tratando de melhoramento genético, muitas foram as ações realizadas para que hoje as cultivares sejam reconhecidas e estejam qualificando a vitivinicultura brasileira.
“A tentativa de emplacarmos uma cultivar competitiva sem semente para o Vale do São Francisco é antiga. Estamos muito felizes que a equipe não desistiu e hoje nossa participação seja decisiva e esteja contribuindo”, pontuou o chefe Marcos Botton. Ele comenta que as cultivares da Embrapa estão em franca expansão, em especial, por estarem apresentando melhores resultados de produção em relação às importadas. “Recentemente com a época das chuvas, as cultivares da Embrapa mantiveram a produção, enquanto que nas importadas foi necessário um maior controle das doenças”, comentou ele. Esses resultados estão fazendo com que as cultivares da Embrapa estejam aumentando muito sua área, em substituição a outras. Somente a cultivar “BRS Vitória” já está com mais de mil e quinhentos hectares no Vale do São Francisco, representando aproximadamente 10% da área total da produção na região.
Segundo Rodrigo José Oliveira da Silva, gerente Administrativo da Petromudas, um dos principais viveiros da região, 90% da sua produção atual está dedicada às cultivares da Embrapa; “60% da nossa produção, ou seja, 240 mil mudas, são da cultivar Vitória. Em segundo lugar e terceiro lugar estão as mudas da BRS Isis e da BRS Núbia [também cultivares da Embrapa], e depois vem as outras mais antigas como Itália e Benitaka”, informa. Na sua avaliação, a preferência pelas cultivares da Embrapa tem por base a resistência ao míldio e ao oídio, a produtividade e a fertilidade, que são muito boas.
Novidades a caminho
A curto prazo, está sendo finalizado o processo de desenvolvimento de três novas cultivares de uva: uma delas é destinada ao segmento de vinhos de mesa, com atributos sensoriais que remetem a um vinho elaborado com uvas europeias. As outras duas são uvas de mesa sem sementes, a primeira de cor rosada, com sabor muito especial, e a segunda, uma uva branca, com bagas de formato elíptico, que lembram a ‘Thompson Seedless‘.
A longo prazo, já estão sendo avaliadas futuras cultivares de uvas de mesa sem semente, com menor exigência em mão de obra e redução do manejo do cacho e da baga. Com relação às uvas para elaboração de suco, estão em andamento o desenvolvimento de seleções adequadas à colheita mecânica, seleções tintureiras sem sementes e com tolerância ao míldio, uma das principais doenças da videira.
A Embrapa Uva e Vinho mantém o maior acervo de germoplasma de videira da América Latina, que são a base para o trabalho de melhoramento. São 1400 acessos introduzidos de diferentes partes do mundo e avaliados a campo para as condições da Serra Gaúcha e de outras regiões. Informações como tipo de flor, características do cacho, da baga, fenologia, produção, composição química do mosto e incidência de doenças estão catalogadas e estão disponíveis on line, com livre acesso em www.embrapa.br/uva-e-vinho/bag-uva.
Fonte e fotos: Assessoria de Comunicação Embrapa Uva e Vinho
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