Acendimento da Chama Crioula completa 70 anos

A “Chama Crioula” representa para o gaúcho e o tradicionalista a história, a tradição e a alma da sociedade gaúcha, construída ao longo de pouco mais de três séculos. Acesa pela primeira vez há 70 anos, no dia 7 de setembro de 1947, por João Carlos D’Avila Paixão Cortes, o fogo simbólico foi originado da “Chama da Pátria”, como sinal da união indissolúvel do Rio Grande do Sul à “Pátria Mãe” e do desejo de que a mesma aquecesse o coração de todos os gaúchos e brasileiros, até o dia 20 de setembro, data magna estadual. Dentro deste espírito é que surge a criação da Ronda Crioula, que foi do dia 7, com a extinção da pira da pátria, até o dia 20 de setembro, as datas mais significativas para os gaúchos.

Comemorações na Capital dos Gaúchos

O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) e a Prefeitura Municipal de Porto Alegre, integrados com a 1ª Região Tradicionalista, Associação dos Acampados do Parque Harmonia (Acamparh) e Associação dos Piquetes do Parque da Estância da Harmonia e do Estado do Rio Grande do Sul (ASPERGS), convidam a comunidade para participar da abertura do Acampamento Farroupilha e os 70 anos da Chama Crioula. O evento ocorre, às 18h, no Parque Maurício Sirotsky Sobrinho, em Porto Alegre.

A chama Crioula – Momento Sociopolítico

O Brasil, no final dos anos 40, do século XX, estava saindo da ditadura da chamada “Era Getúlio Vargas”, que havia calado a imprensa, que prejudicava o desenvolvimento e prática das culturas regionais. Com isso, perdeu-se o sentimento de culto à regionalidade. As raízes regionais estavam em processo de esquecimento, adormecidas, reflexo da proibição de demonstrações de valores de cada um dos estados. Bandeiras e hinos dos estados foram, simbolicamente, queimados em cerimônia no Rio de Janeiro e, diante de tudo isso, os gaúchos estavam acomodados àquela situação, apáticos e sem iniciativa.

Liderados pelo jovem João Carlos D’Avila Paixão Cortes, jovens estudantes do Colégio Júlio de Castilhos, criam um departamento de tradições gaúchas, que tinha a finalidade de preservar as tradições e o campeirismo do estado, mas também desenvolver e proporcionar uma revitalização da cultura rio-grandense, interligando-se e valorizando-a no contexto da cultura brasileira.

Dentro deste espírito é que surge a criação da Ronda Crioula, que foi do dia 7, com a extinção da pira da pátria, até o dia 20 de setembro, as datas mais significativas para os gaúchos.

Paixão solicitou a Liga de Defesa Nacional para fazer a retirada de uma centelha do “Fogo Simbólico da Pátria” para transformá-la em “Chama Crioula”, como símbolo da união indissolúvel do Rio Grande à Pátria Mãe, e do desejo de que a mesma aquecesse o coração de todos os gaúchos e brasileiros, até o dia 20 de setembro, data magna estadual. Nessa oportunidade, Paixão recebeu o convite para montar uma guarda de honra ao general farrapo, David Canabarro, que seria transladado de Santana do Livramento para Porto Alegre. Então, Paixão reuniu um piquete de oito gaúchos bem pilchados e, no dia 5 de setembro de 1947, prestaram a homenagem a Canabarro.

O Grupo dos Oito

O piquete que transladou os restos mortais de Davi Canabarro ficou conhecido como o “Grupo dos Oito”, ou “Piquete da Tradição”. Era formado por Antonio João de Sá Siqueira, Fernando Machado Vieira, João Machado Vieira, Cilso Araújo Campos, Ciro Dias da Costa, Orlando Jorge Degrazzia, Cyro Dutra Ferreira e João Carlos Paixão Cortes, seu líder.

A Chama Crioula – acesa pela primeira vez no dia 07/09/1947

A “Chama Crioula” representa, para o gaúcho e o tradicionalista, a história, a tradição, a alma da sociedade gaúcha, construída ao longo de pouco mais de três séculos. Em torno dela construímos um ambiente de reverência ao passado, de culto aos feitos e fatos que nos orgulham, de reflexão sobre a sociedade que somos e a que queremos ser.
Como um símbolo que une nosso estado, ela estará presente em todos os galpões, todos os acampamentos, todas as manifestações de amor à tradição, ardendo no candeeiro, sempre carregada de a cavalo por homens e mulheres que sabem o que fazem e o que querem.

O acendimento oficial da chama do estado

Nas comemorações do sesquicentenário da Revolução Farroupilha, um olhar diferenciado surge sobre a epopeia, novos escritos, acontecimentos e um novo reconhecimento. No inicio, os festejos duravam em torno de 13 dias (de 7 à 20/09), depois, por lei, ficou em 7. Atualmente, em Porto Alegre, o Parque da Harmonia recebe seus acampados desde o final do mês de agosto, mas é a partir do dia 7 de setembro, com o ato histórico de Paixão Cortes e o piquete da tradição, que abrem oficialmente as comemorações na capital. As atividades oficiais, pela lei, e no interior do estado, continuam acontecendo à partir do dia 14.

Muitos lugares já têm em seu imaginário que as comemorações estão acontecendo desde o momento em que é acesa a chama oficial do estrado em um sítio histórico pelo Rio Grande do Sul. Esse evento acontece sempre no final de semana mais próximo do dia 24 de agosto, data que marca o suicídio do presidente Getulio Vargas. Em 1999 o acendimento da Chama Crioula foi realizado em Pelotas, em uma homenagem ao centenário da União Gaúcha Simões Lopes Neto. Em 2000 o acendimento ocorreu em Alegrete, na “Capela Queimada”. Os dois eventos foram prestigiados pela direção do MTG, mas tiveram muita pouca participação das coordenadorias regionais. Foram eventos locais, sem grandes repercussões na mídia.

O acendimento da chama crioula se transformou em um grande evento à partir de 2001, em Guaíba, em frente a casa de Gomes Jardim, com participação das 30 RTs. Neste ano de 2014, a cidade escolhida, no congresso tradicionalista, para receber o Rio Grande e gerar a chama, foi Cruz Alta – “Terra de Erico Veríssimo”.

A busca, o translado e a guarda da Chama

Um velho ditado diz: “A união faz a força”. A busca da chama nos sítios históricos, espalhados pelo Rio Grande do Sul, demanda, na maioria das vezes, de custos operacionais. Em algumas cidades existe uma rubrica, dos festejos farroupilhas, para a busca da chama. Então, alguns grupos se fecham dentro daquela rubrica e não abrem para outros grupos irem junto buscar o símbolo. Aí começam as discordâncias na cidade.

Em outras localidades, mais organizadas, os municípios fecham com a coordenadoria regional, unem os grupos de cavalgadas, tem uma equipe para prestação de contas, e todos viajam juntos. Cabe lembrar ainda que alguns grupos simplesmente saem à cavalo pelo estado, sem roteiro pré organizado, sem pousos determinados e sem avisar a policia rodoviária sobre sua presença em determinadas rodovias.

A sugestão é que os grupos de cavalgadas se unam dentro da região, façam um grande ordenamento de despesas, organizem o trajeto antecipadamente, avisem as autoridades competentes, e façam uma grande busca da chama. Lembrando que é sempre importante o espírito de equipe, o bom senso e a camaradagem entre os cavaleiros e participantes.

O translado – As bandeiras vão à frente. A chama logo depois delas. Quem leva a chama, ao chegar, alcança o archote para alguém previamente definido que vai fazer o acendimento do candeeiro. Esse ato é, normalmente, feito logo após o hino nacional (quando for executado) e antes dos pronunciamentos (quando houver pronunciamentos). Normalmente são três falas. É comum dar-se a palavra ao comandante da cavalgada.

A Ronda da Chama – A ronda não é estática, ela é móvel. A ronda também pode ser entendida como o ato de trocar a chama de lugar a cada dia. A ela pode-se incluir uma serie de atividades no entorno da chama.

A Guarda da Chama – A guarda da chama é feita por uma ou duas pessoas que ficam paradas (no estilo militar), normalmente de lança em punho. O ideal é que a guarda seja feita durante as 24 horas, no entanto, se não houver movimento, pode ficar o candeeiro sozinho, com o galpão fechado. Enquanto houver atividades ou se a chama estiver em local aberto, a guarda é permanente. A troca de guarda deve sempre ser feita com um breve cerimonial: A entrega da lança e, a troca de lugar, deve ser feita de forma solene.

A Chama Crioula e seus acendimentos

2001 – Guaíba, na fazenda de Gomes Jardim
2002 – Santa Maria, no centro do estado
2003 – Camaquã, na Chácara das Aguas Belas, de Barbosa Lessa
2004 – Erechim, no Recanto dos Tauras
2005 – Viamão, cidade fundamental na história do RS
2006 – São Gabriel, na Sanga da Bica, onde tombou Sepé Tiarayú
2007 – São Nicolau, 1ª redução e um dos 7 povos das missões
2008 – São Leopoldo, Terra de Colonização Alemã
2009 – São Lourenço, no casarão de Ana, irmã de Bento Gonçalves
2010 – Itaqui, o acendimento volta para a fronteira
2011 – Taquara, cinquentenário da Carta de Princípios
2012 – Venancio Aires – Capital Nacional do Chimarrão
2013 – General Câmara – Distrito Açoriano de Santo Amaro do Sul
2014 – Cruz Alta – Terra de Erico Veríssimo
2015 – Colônia del Sacramento – Chuí, “Colônia do Santíssimo Sacramento”
2016 – Triunfo – Terra do General Bento Gonçalves da Silva
2017 – Mostardas – Pedra de Anita, onde nasceu Menotti Garibaldi, filho de Anita e Giuseppe Garibaldi, comandante da marinha Farroupilha durante a Guerra dos Farrapos.

Cobertura especial pelo Galpão da Mulher Gaúcha e Rádio Difusora 890 AM.

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Reportagem especial: Diana Graziela da Silva/Galpão da Mulher Gaúcha

Com informações e imagem do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG)

 

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