Primeira jurada surda faz história no Tribunal do Júri do Rio Grande do Sul

Era para ser mais um julgamento na 4ª Vara do Júri de Porto Alegre, especializada em feminicídios. Mas, entre os sete cidadãos e cidadãs sorteados para decidir o caso, havia uma presença inédita: pela primeira vez, uma pessoa surda participou como jurada de um júri popular no Rio Grande do Sul.

A protagonista dessa história é uma professora de 45 anos. Ao receber a convocação em casa, das mãos de uma Oficiala de Justiça, ela não pensou duas vezes antes de aceitar. “A pessoa surda tem possibilidade de estar participando de qualquer ambiente, assim como qualquer outra pessoa”, afirmou.

Na manhã desta terça-feira (12/08), ela assumiu seu lugar no Conselho de Sentença e viveu uma experiência marcante. “Me senti bem. Foi um desafio para mim, nunca tinha participado de uma experiência assim”, contou. No começo, veio o nervosismo, mas a presença de três intérpretes de Libras — Luciana Côrte Real, Maria Aparecida da Silva e Ariadne Panziera — trouxe segurança e confiança, assegurando a plena compreensão de todas as etapas do julgamento.

“Qualquer pessoa tem o entendimento da responsabilidade que demanda essa participação. Não é só estar ali julgando de forma simples, mas é preciso entender o contexto do que será julgado, ter discernimento de tudo, é muita responsabilidade. E também entender que temos que entrar aqui de forma neutra para conseguir julgar o que aconteceu de fato. Qualquer pessoa da sociedade pode estar participando e tem direito”, completou a jurada.

Preparação para a inclusão

A participação foi possível graças ao planejamento da Juíza Cristiane Busatto Zardo e da equipe da 4ª Vara do Júri, com apoio da Corregedoria-Geral da Justiça (CGJ), do Núcleo de Inclusão, Acessibilidade e Diversidade (NIAD) e da Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão (CPAI) do Tribunal de Justiça. “Ela exerceu a função de jurada com responsabilidade, competência e tranquilidade”, elogiou a magistrada.

O Juiz-Corregedor Bruno Massing de Oliveira, Coordenador da CPAI, explicou: “O caso da 4ª Vara do Júri chegou até nós através da magistrada, que informou que havia uma pessoa surda convocada, que poderia ser sorteada para participar dos plenários do mês de agosto. No júri de hoje, ela acabou sendo sorteada, não houve recusa das partes, e ela compôs o Conselho. É preciso enaltecer o trabalho realizado pela magistrada e toda a equipe da 4ª Vara do Júri, que possibilitou que a jurada entendesse e participasse efetivamente dos trabalhos, por meio de intérpretes de Libras. Foi uma atitude de muita inclusão”.

Para a Chefe do NIAD, Ane Py Machado, “a participação de uma jurada surda com intérprete de Libras em um Conselho de Sentença representa um marco na efetivação da cidadania e da igualdade previstas na Constituição e na Lei Brasileira de Inclusão, garantindo que pessoas surdas exerçam plenamente seu papel cívico no sistema de justiça. Além de assegurar acessibilidade e representatividade, essa inclusão quebra barreiras comunicacionais e combate preconceitos, mostrando que a diversidade enriquece as decisões coletivas e fortalece a legitimidade do Tribunal do Júri como expressão da pluralidade social”.

Fonte: Imprensa – TJRS

Foto:  Juliano Verardi – DICOM/TJRS

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