Obra contemplada pelo Fundo Municipal de Cultura resgata vozes, espaços e contribuições da população negra na identidade local
Foi lançado no último sábado (07), no Centro Cultural e Educativo 20 de Novembro, o livro “Registro da Cor”, de autoria do historiador Lucas de Anhaia. A publicação traça um amplo panorama histórico da presença negra na formação social, econômica e cultural de Bento Gonçalves. O projeto foi contemplado com valor de R$ 35 mil oriundos do Fundo Municipal de Cultura, através do edital 02/2022 – Cultura: Criar e Apresentar, disponibilizado pela Secretaria Municipal de Cultura.
O ponto de partida da obra foi a pesquisa documental e fotográfica desenvolvida no Museu do Imigrante, que resultou, em 2021, na exposição “Existe uma história de Bento Gonçalves sem a população negra?”. A partir dessa investigação, Lucas deu início a uma série de entrevistas com famílias negras do município, construindo uma narrativa genealógica que conecta os processos de colonização europeia, indígena e africana à participação negra no desenvolvimento da cidade.
“Registro da Cor” é uma obra densa e necessária, que restitui as vozes negras historicamente silenciadas, e traz uma galeria de personagens ícones como figura ícone Tia Luiza, Guedes, Dominguinho, Glenio e Caneco (jogadores do Esportivo), Ireno (conhecido como Pelezinho), Ilemar e Gessi de Assis, entre outros.
Para Zilda Marques da Silva Nuncio, presidente da Sociedade 20 de Novembro, o livro representa um marco nos estudos étnico-raciais de Bento Gonçalves. “Nós, enquanto negros, temos uma história oral. Não tínhamos documentos — até fizeram questão de queimar a nossa história. Esse livro cumpre a função de preencher essa lacuna. ‘Registro da Cor’ é um trabalho sério, que ressignifica a nossa raiz à luz da representatividade.”
A presidente do Conselho Municipal de Povos de Matriz Africana, Odília Mara da Rosa, também destacou a importância da obra para a memória local. “Meus familiares chegaram aqui no início do século XX, alguns vieram para construir a estrada de ferro. Com o livro, tudo vem à tona. Descobri que minha bisavó foi a primeira mãe de santo de Bento Gonçalves e meu bisavô, o primeiro policial negro. Eles ajudaram a construir ruas, trabalharam como servidores públicos. Este livro revela a negritude enraizada em Bento. É um orgulho poder compartilhar isso com as gerações antigas e novas.”
Lucas de Anhaia reflete sobre o papel do historiador e o percurso da pesquisa. “Podemos falar da presença negra desde o início da colonização italiana. Quem era a força de trabalho que vinha com os agrimensores? E os tropeiros? Há indícios fortes. ‘Registro da Cor’ reúne fontes dispersas, não documentadas por historiadores locais. Assim, oferecemos um panorama mais democrático e verdadeiro da colonização. O passado define como enxergamos a justiça no presente e no futuro — e isso inclui lembrar o que a sociedade escolheu esquecer.”
Representando a Secretaria de Cultura, a coordenadora do Departamento de Fomento, Adriana Razia, participou do evento de lançamento e salienta o pioneirismo da obra em retratar as narrativas pretas locais. “É um livro de referência dentro das etnias que compõem a multifacetada Bento Gonçalves. Nela encontramos uma profunda pesquisa que vem se juntar a outros estudos, trazendo para o centro da narrativa histórica o que estava à margem ou só era mencionado em outras publicações. Ficamos contentes ao ver que, por meio desta relevante obra, o Fundo Municipal de Cultura cumpre o seu papel junto à comunidade bentogoncalvense, de promover e visibilizar manifestações culturais significativas”.
O livro Registro da Cor pode ser adquirido diretamente com a presidente da Sociedade 20 de Novembro, Zilda Nuncio, pelo telefone (54) 99681-2042. O valor de capa é R$ 40.
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