Dom José Gislon – Recordar nossos entes queridos

“A vida é bela, mas ela também nos prova. Nos prova porque muitas vezes temos o coração ferido pela perda de pessoas que amamos, que fazem parte da nossa vida, dos nossos sonhos e dos projetos que construímos juntos”

Estimados irmãos e irmãs em Cristo Jesus! A Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos, celebrada pela Igreja no início do mês de novembro, é uma celebração marcada pela recordação da perda de familiares, amigos e conhecidos, que marcaram a nossa vida, passaram pela experiência da morte, e hoje descansam em paz, na espera da ressurreição. Mas também é uma celebração marcada pela fé e a esperança, quando temos presente as palavras do Senhor Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá” (Jo 11,25-26).

O ciclo da vida, vivido como uma peregrinação neste mundo, para alguns pode durar uma centena de anos ou mais, para outros, a vida pode ter a brevidade de uma flor rara, que não dura mais do que algumas horas, alguns dias, alguns meses ou alguns anos. Não importa a brevidade do tempo, mesmo não tendo consciência, ninguém parte deste mundo sem deixar marcas no coração de alguém que ama. Emotivamente é impossível, não sentir a dor da separação, nem é justo pedir a alguém para não chorar pelo luto e pela dor causada, pela perda de um familiar ou um amigo, mesmo se o fato é vivido à luz da fé.

A vida é bela, mas ela também nos prova. Nos prova porque muitas vezes temos o coração ferido pela perda de pessoas que amamos, que fazem parte da nossa vida, dos nossos sonhos e dos projetos que construímos juntos. Quando amamos alguém, geralmente fazemos projetos, que envolvem o presente e o futuro, cultivamos a esperança em relação ao amanhã. Mas o amanhã pode não chegar, ou chega sorrateiramente e destrói os nossos sonhos, tirando a vida de quem amamos, ferindo o coração e fragilizando a nossa esperança. Nessa realidade a morte é sempre uma perda, que causa uma ferida no coração, que o tempo muitas vezes não cicatriza.

Para os cristãos, é a ressurreição de Cristo a lente através da qual cada um pode ler a vida e a morte. E não será uma leitura cristã, se não se parte da ressurreição. Em Jesus Cristo se realiza a salvação da humanidade, por meio da sua morte e ressurreição. O mistério pascal é a sentença de condenação da morte. No entanto, é necessária a fé no Senhor Jesus, para receber a vida eterna e a ressurreição: “Esta, com efeito, é a vontade do meu Pai que todo aquele que vê o Filho e nele crê, tenha a vida eterna. E eu o ressuscitarei no último dia”(Jo 6,40). Destas palavras de Jesus, podemos compreender também que a fé não é somente espera da ressurreição, mas é já hoje participação na vida eterna. E se a morte é o momento do encontro com Cristo e do ingresso na sala do banquete nupcial, não deveria ser um evento temido, é espera para contemplar a face de Deus nosso Pai.

+ Dom José Gislon, OFMCap.
Bispo Diocesano de Caxias do Sul

Diocese de Caxias do Sul
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