Com a iniciativa da Cáritas da Diocese de Caxias do Sul, psicólogas se colocaram à disposição para escutar quem precisou deixar sua casa e também quem se voluntariou para ajudar os necessitados
“Escutai” é o nome de um projeto simples que tem se tornado o sinal do cuidado da Igreja na Diocese de Caxias do Sul para com os irmãos impactados pela situação climática do Rio Grande do Sul. Na Serra Gaúcha, em virtude do relevo, foram contabilizados mais de 300 deslizamentos de terra na enchente de maio de 2024, o que acabou vitimando pessoas e fazendo com que famílias inteiras perdessem casas, propriedades, plantações, animais e outros bens.
Inspirado por uma conversa com um bombeiro que relatou a angústia de um colega que acompanhou o óbito de um homem soterrado, o coordenador de Pastoral da Diocese, padre Leonardo Inácio Pereira, provocou uma ação. Logo, psicóloga Marivani Bossa, que já havia participado de uma iniciativa parecida durante o tempo da pandemia, e a coordenadora da Cáritas na Diocese, Loiva Menezes, pensaram num projeto que ganhou o sim de outras psicólogas: “Escutai”.
No dia 04 de junho, o projeto “Escutai” ganhou quatro locais de atendimento: a Catedral de Caxias do Sul, a Paróquia Santos Apóstolos e dois lugares cheios de significado: o Seminário Aparecida, centro de triagem de doações, e a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia, em Galópolis, que precisou ser evacuada ao longo dos primeiros dias de maio. Até hoje, quase dois meses depois, algumas famílias ainda não puderam retornar para casa.
Durante algumas horas, em dias da semana previamente organizados, profissionais oferecem atendimento psicológico gratuito, sendo uma primeira escuta, de acolhida e cuidado. Para a coordenadora do projeto, psicóloga Marivani Bossa, colocar os dons profissionais à serviço de quem precisa, nesse momento, é cumprir a missão de cristão. “A ideia surgiu após vermos outros grupos se mobilizando para atender, escutar. Assim podemos viver nossa missão de cristãos, no acolhimento humanizado e solidário, como Cristo fez”.
Em outras partes da Diocese também estão acontecendo ações em comunhão com projeto “Escutai”. Em Bento Gonçalves, cidade duramente atingida pelos deslizamentos e que contabiliza grande número de óbitos quando se trata do território diocesano, psicólogas colocaram seus consultórios à disposição para o atendimento voluntário de pessoas encaminhadas pelas paróquias.
No bairro de Galópolis, a Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompéia abriu as portas para receber doações, alojar famílias e também escutar pessoas. Uma sala anexa à Casa Paroquial, nas sextas-feiras de tarde, recebe abraços carregados de sentimentos, corações cheios de angústia e ouvidos repletos de esperança. “Eu me senti acolhida aqui. Neste projeto que a Igreja está realizando podemos conversar e dialogar e, daqui, podemos tirar a força para recomeçar”, destaca Suzana Dal Pan, uma das pessoas acolhidas e escutadas.
Neste sentido, ela salienta as dores das famílias da comunidade e a força que o projeto “Escutai” deu para as pessoas buscarem superar o medo. “Nós ficamos e estamos abalados, mas a fé acalma o coração. Eu sou catequista aqui e preciso também ajudar as crianças a ficarem bem, por isso senti essa necessidade de buscar ajuda para ser um sinal de esperança para nossas famílias da catequese”.
Dar esperança às pessoas também é o que o pároco local, padre Rafael Giovanaz, que abriu as portas da Paróquia para o projeto diocesano, está buscando. Ele também precisou deixar a Casa Paroquial nos primeiros dias de chuvas intensas e, mesmo na rua, buscou dar alento às pessoas que se aproximavam para conversar. “Esse projeto é muito importante, diante de tudo o que passamos aqui. Nosso povo ficou bastante emotivo diante de toda essa situação. Desde o começo desta calamidade, como Igreja, sempre quisemos estar perto, seja visitando, recebendo pessoas aqui, acolhendo, escutando e orientando”, explica o sacerdote.
A coordenadora do projeto “Escutai”, da Cáritas da Diocese de Caxias do Sul, Marivani Bossa, avalia positivamente o início dos atendimentos. “As pessoas que procuram o atendimento têm saído mais aliviadas, eles mesmos nos dizem. Momentos breves, mas que dão esperança de reconstruir a vida. Quando a fé a ciência se complementam, conseguimos um trabalho mais profundo e com frutos de vida renovada”, finaliza.
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