A alta nos preços internacionais garantiu o aumento no valor das exportações do agronegócio gaúcho no primeiro trimestre de 2023. As vendas atingiram US$ 3,7 bilhões, um ganho de 4,7% na comparação com o mesmo período do ano passado. No cenário atual, os preços médios dos produtos subiram 23% e compensaram a redução do volume embarcado, que caiu 14,9% em relação aos três primeiros meses de 2022. O valor das exportações é o maior para o trimestre na série histórica, iniciada em 1997, e representou 73% do total das vendas externas do Rio Grande do Sul no período.
Dos seis principais setores exportadores do agronegócio gaúcho, cinco registraram alta no comércio, com destaque para o aumento nas carnes, que teve incremento de 18,6% e um total de US$ 655,30 milhões em vendas. Os segmentos de fumo e seus produtos (total de US$ 592,14 milhões; +20%), produtos florestais (US$ 424,06 milhões; +11,6%) e máquinas e implementos agrícolas (US$ 167,67 milhões; +29,3%) também cresceram alavancados pela elevação dos preços médios. O segmento de soja seguiu como o líder nas exportações em valor (US$ 791,88 milhões; +1,9%), mesmo com a queda de 14,5% no volume embarcado, sustentado pelo aumento de 19,2% nos preços médios.
As primeiras informações sobre as vendas externas do agronegócio em 2023 foram divulgadas na manhã desta quinta-feira (11/5) pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE), vinculado à Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão (SPGG), no boletim Indicadores do Agronegócio do RS. Elaborado pelos pesquisadores Sérgio Leusin Júnior e Bruna Kasprzak Borges, o documento contempla ainda os dados sobre o emprego formal no agronegócio nos três primeiros meses do ano.
“O desempenho das exportações do agronegócio gaúcho no trimestre ainda não reflete o quadro de severa estiagem que impactou a produtividade das principais culturas de verão. Isso se deve, em primeiro lugar, à base de comparação, já que em 2022 o Estado também sofreu os efeitos de uma estiagem ainda mais intensa”, analisa Leusin.
Principais destaques
A maior queda absoluta em valor nas exportações do primeiro trimestre foi registrada no setor de cereais, farinhas e preparações, com redução de 13,3%, em um total de US$ 673,95 milhões em vendas. O principal responsável pela baixa foi o trigo que, apesar da safra recorde colhida no Rio Grande do Sul em 2022, teve baixa de 27,6% no volume embarcado entre janeiro e março. O boletim ressalta, no entanto, que a redução se deu em relação a uma base alta de vendas registrada em 2022, quando o início do conflito entre Rússia e Ucrânia, grandes produtores mundiais do cereal, reordenou o comércio internacional do produto, beneficiando as exportações gaúchas.
No caso das carnes, o aumento expressivo entre janeiro e março foi puxado pela carne de frango, com um total de US$ 386,94 milhões em vendas, alta de 23,4% em valor. A carne suína também foi destaque no período em relação a 2022 (total de US$ 157,28 milhões; +50,4%), e a soma das duas compensou a redução de 34,8% no valor do comércio de carne bovina (US$ 64,97 milhões).
No fumo e seus produtos, a alta reflete o crescimento expressivo nos preços médios dos produtos, que subiram 63,2% em relação a 2022, e compensou a redução de 26,5% no volume vendido. O fumo não manufaturado é responsável pela quase totalidade das vendas (US$ 559,37 milhões; +21,1%).
“As exportações de fumo do trimestre ainda refletem a disponibilidade de produto da safra passada. A redução na produção em 2023, por conta da estiagem, só afetará os volumes embarcados nos trimestres seguintes, mas ainda pode ser contrabalançada pela importação de matéria-prima de outros estados produtores”, explica Leusin.
No segmento de produtos florestais, a celulose garantiu o crescimento do setor, com vendas de US$ 308,58 milhões (+25,3%). Nas máquinas e implementos agrícolas, as exportações de tratores agrícolas (US$ 73,76 milhões; +22,9%), colheitadeiras (US$ 47,35 milhões; +28,5%) e pulverizadores (US$ 31,31 milhões; +41,9%) tiveram aumento no comércio.
Embora fora da lista dos principais produtos gaúchos de exportação do agronegócio habitualmente, os biocombustíveis tiveram resultado expressivo no primeiro trimestre de 2023, com vendas de US$ 27,1 milhões, uma alta de 384,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, fruto de vendas para os Estados Unidos (US$ 19,9 milhões), a primeira feita pelo Brasil para o país em escala comercial, e União Europeia (US$ 7,3 milhões).
Destinos
A Indonésia foi um destino de destaque das exportações gaúchas no início de 2023, responsável por comprar 7,4% de tudo que o agronegócio do Rio Grande do Sul vendeu no primeiro trimestre. Conforme o boletim, as vendas de trigo e farelo de soja sustentaram o crescimento para o país asiático, que conquistou a terceira posição no ranking dos principais países compradores do Estado. A China (18,3% do total) está novamente na liderança, seguida da União Europeia (14,2%). Fecham a lista dos cinco principais destinos os Estados Unidos (6,2%) e o Vietnã (4,7%).
Na comparação com o mesmo trimestre de 2022, a União Europeia apresentou a maior queda no comércio com o Rio Grande do Sul (-24,1%), enquanto a Indonésia (+67,8%) e os Estados Unidos (+42,8%) conquistaram espaço.
Emprego formal no campo
Tradicionalmente o período do ano de maior contratação de mão de obra no campo, o primeiro trimestre em 2023 registrou um saldo positivo (contratações menos demissões) de 22.073 postos de trabalho com carteira assinada. A diferença ficou acima da registrada no mesmo período do ano passado, quando o saldo se mostrou positivo em 21.152 empregos.
As principais atividades geradoras de emprego no campo entre janeiro e março foram a indústria do fumo, as lavouras permanentes e o comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais. Considerando o conjunto da economia do Estado, o agronegócio foi responsável por 52,3% do saldo de empregos formais no período.
Dos três segmentos do agronegócio, o chamado “depois da porteira”, composto predominantemente de atividades agropecuárias, foi o líder na criação de postos com carteira assinada, com saldo de 15.818 empregos. Tiveram destaque a indústria fumageira (10.742 postos), o comércio atacadista de produtos agropecuários e agroindustriais (2.995 postos) e a fabricação de produtos amiláceos (1.837 postos).
A indústria de abate e fabricação de carnes segue sendo o segmento com o maior número de vínculos com carteira assinada no agronegócio, com um total de 67.323 postos em março de 2023. No primeiro trimestre, a atividade registrou saldo positivo de 311 postos de trabalho. Entre as principais perdas do segmento “depois da porteira” estão as atividades de fabricação de conservas (menos 592 postos), fabricação de produtos de panificação (menos 277) e laticínios (menos 145).
No segmento “dentro da porteira”, formado principalmente pelas atividades agropecuárias, o saldo nos três primeiros meses do ano foi de 6.706 postos, com destaque para as lavouras permanentes (mais 4.381 postos).
O único setor do agronegócio a registrar saldo negativo de empregos com carteira assinada foi o “antes da porteira”, formado por atividades dedicadas ao fornecimento de insumos, máquinas e equipamentos para a agropecuária, com menos 451 postos. “Esse setor sofre menos os efeitos da estiagem no Estado, mas sofre os efeitos da conjuntura econômica de elevação dos custos produtivos e do financiamento à aquisição de máquinas e implementos agrícolas”, ressalta a pesquisadora Bruna Kasprzak Borges.
Quanto ao salário médio real no agronegócio gaúcho, em março de 2023, no momento da admissão, o valor médio era de R$ 1.728,41, 3,5% acima do mesmo mês do ano passado.
Texto: Vagner Benites/Ascom SPGG
Edição: Vitor Necchi/Secom
KPJ
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