O inverno que começa nesta terça-feira, 21 de junho, às 6h13 será mais frio que a média dos últimos anos e menos chuvoso que o habitual. O inverno tem início com o Oceano Pacífico Equatorial sob La Niña, o que poucas vezes ocorreu nas últimas décadas depois de um trimestre de outono com o Pacífico Equatorial Central mais frio desde 1950. Sob La Niña, há uma maior probabilidade de o inverno ser frio.
O inverno marca o período mais frio do ano no Rio Grande do Sul. As jornadas mais frias costumam ocorrer sob influência de ciclones extratropicais intensos no Atlântico Sul e que são responsáveis por impulsionar massas de ar muito gelado para o Estado. Quando o frio está acompanhado de ciclone potente, é comum os gaúchos terem o vento Minuano, sensação térmica negativa, mínimas muito baixas, geada ampla e em alguns casos neve.
Ocorre que, mesmo durante o inverno, são normais dias com calor em qualquer mês da estação, especialmente durante agosto e setembro, e 2022 não fugirá à regra. A transição de períodos amenos ou quentes para frios pode se dar bruscamente com alto risco de tempo severo na forma de temporais com vento forte e granizo, especialmente se estiver presente um fenômeno conhecido como corrente de jato de baixos níveis, que traz ar quente e vento Norte com forte intensidade antecedendo a chuva e os temporais. Essas correntes de vento quente a cerca de 1500 metros de altitude são comuns horas antes da chegada de frente fria intensa associada a um grande ciclone e podem trazer temperatura muito alta mesmo à noite.
Em todos os anos se verifica este tipo de cenário em nos casos mais extremos há formação de tornados, como se viu em diversos invernos do passado. Agosto e setembro, quando se espera maior incidência de ar quente, tendem a ser os meses de maior risco de temporais e episódios de tempo severo. São os meses, historicamente, que marcam um aumento na frequência de tempestades de granizo e de vendavais.
Sob intensos ciclones acompanhando massas de ar frio de maior intensidade, o vento pode ser muito forte no Rio Grande do Sul com rajadas perto ou acima de 100 km/h no Sul e no Leste gaúcho que proporcionam ainda grandes ressacas marítimas no litoral.
Em anos de Pacífico mais frio do que a média, como se espera nos próximos meses, há um aumento da probabilidade de granizo em agosto, setembro e na primavera. Há ainda maior propensão para episódios de vento muito intenso e destrutivos, seja por tornados ou vendavais. Não significa que temporais fiquem mais freqüentes, como se dá em El Niño, mas que quando ocorrem as tempestades podem ser mais fortes ou severos devido ao ingresso de massas de ar frio fortes tardiamente, quando ar mais quente já é mais comum, o que gera maiores gradientes térmicos e de pressão com agravamento do risco de tempo severo. O inverno é o período mais chuvoso do ano no Rio Grande do Sul, entretanto neste ano a perspectiva é de uma estação com menos chuva do que habitual em parte do Estado. É altamente provável que o trimestre de inverno, junho a agosto, termine com chuva abaixo de média na Metade Sul gaúcha. Na Metade Norte, ao contrário, a tendência é de chuva ao redor da média e em alguns pontos acima das normais históricas.
É importante enfatizar que a, despeito de a tendência ser de um inverno menos chuvoso que os padrões históricos, episódios pontuais de chuva excessiva podem ocorrer na estação. Há diversos precedentes aqui no Estado de cheias de rios no inverno, independente das condições no Pacífico. Assim, mesmo com La Niña podem ocorrer eventos de chuva excessiva com enchentes. Quanto à temperatura, a MetSul Meteorologia projeta um inverno mais frio na comparação com os últimos anos que, acompanhando a tendência geral de aquecimento do planeta, tiveram menor frequência de frio intenso e um maior número de dias de temperatura amena ou altas. Apesar disso, a tendência não é de um inverno com frio intenso constante ou quase permanente, apesar da probabilidade de períodos muitos frios de mais longa duração.
Os episódios de frio intenso ou extremo tendem a ser pontuais, mas um ou outro pode ser significativo em um contexto histórico. Uma análise estatística realizada pela MetSul Meteorologia mostrou um risco maior de episódios extremos de frio na estação neste ano. Foram observadas semelhanças nos últimos meses com os anos de 1964, 1975, 1976, 1984, 1988, 1990, 1999, 2000, 2007 e 2012, dentre outros.
A maior parte destes anos teve inverno muito frio ou rigoroso ou não necessariamente foi rigoroso, mas registrou episódios pontuais de frio muito intenso ou grandes nevadas. Junho e julho, historicamente, são os meses de temperatura mais baixa enquanto agosto e setembro tendem a ter temperatura mais alta, inclusive com alguns dias de forte a intenso calor que lembram jornadas de verão com marcas perto ou acima de 35ºC.
Tais episódios com alta temperatura costumam preceder eventos de tempo severo no Sul do Brasil, atestando a percepção popular que calor no inverno costuma preceder tempestades e às vezes de grande intensidade.
Em 2022, há possibilidade maior de episódios pontuais de frio intenso em agosto e setembro com risco agravado de geada tardia no final do inverno e no começo da primavera, o que pode trazer prejuízos para a agricultura. A alternância de calor e frio é maior nos meses de agosto e setembro, o que tende a levar a bruscas mudanças de temperatura com vento e não raro com tempestades severas.
Isso piora não apenas o risco de tempo severo assim como de danos para a fruticultura por oscilações radicais de calor para frio e vice-versa. E a neve e geada? A história do clima gaúcho mostra muitos invernos que não chegaram a ser rigorosos, mas tiveram uma ou duas ondas de frio poderosas, até com grandes nevadas, caso de agosto de 1965. A neve é fenômeno que somente pode ser previsto em curto prazo, dias ou horas antes, mas em anos passados que tiveram características similares às que se prevê houve maior propensão para eventos de neve no Sul do Brasil principalmente na segunda metade de julho e em agosto, sendo alguns significativos.
Já a geada ocorrerá em alto número de dias neste inverno com forte contribuição de junho pela temperatura abaixo da média e que é forte candidato a ser o mês mais frio deste inverno de 2022. A geada ocorrerá mesmo com incursões de ar frio mais fracas e será mais ampla na presença de massas de ar polar de maior intensidade, especialmente em junho e julho.
Fonte: Metsul Meteorologia
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