Natalia Borges Polesso é toda linguagem e literatura. É dedicada integralmente a elas, seja na forma escrita (romance, conto, poesia), na pesquisa, na tradução, na oralidade, sempre desbravando novos terrenos, novas searas, das potencialidades do mundo das narrativas.
Uma das vozes mais urgentes do cenário literário contemporâneo, a patrona da 36ª Feira do Livro de Bento Gonçalves é autora de obras como “Amora” (2015), 1º Lugar no Prêmio Jabuti, nas categorias Contos e Escolha do Leitor; “Controle” (2019), vencedor dos Prêmios Minuano e Vivita Cartier e finalista do Prêmio São Paulo da Literatura; “A extinção das abelhas” (2021), que vem ganhando elogios da crítica especializada.
E essa jornada com a literatura iniciou ainda criança quando teve que morar com o vó e a vô, período quando os pais precisavam organizar a mudança de Caxias do Sul para Novo Hamburgo: “às noites, eu ficava triste e com saudade dos meus pais e a vó então me contava causos. Todas as noites eu ouvia histórias do interior, da roça, de vacas que a perseguiam, de tentar passar debaixo do arco-íris, eram muitas aventuras! Eu acho que foi assim que a literatura entrou na minha vida, pela contação de histórias, pela oralidade”.
Após, um encontro inesperado ocorreu dentro da própria casa no início dos anos 90: a aparição de um livro de poemas (que não eram muito presentes na residência dos Polesso) e dentro dele um poema que chamou muita a sua atenção: era A lira do amor romântico, do Drummond: “e ao ler, eu pensei… mmm acho que posso escrever umas coisas assim. A Natalia criança era mesmo audaciosa e começou a ensaiar uns poemetos nas margens do caderno, nas páginas finais”.
Aos poucos, outros escritores entraram em sua vida como Alice e os mortos-vivos de Érico Veríssimo: “Incidente em Antares, me chocou, me fez rir, me fez ter medo. Todas as emoções que uma menina de 12-13 anos poderia ter ao ler. Então, a literatura entrou na minha vida assim, de muitos modos distintos e significa um constante exercício de afeto, alteridade e curiosidade”.
E assim não parou. Na faculdade, E, quando começou a faculdade, vieram nomes como Shakespeare, Virgínia Woolf, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Caio Fernando Abreu, Julio Cortázar e Ana Cristina Cesar. Atualmente, está lendo colegas como Ruth Ducaso, uma das assinaturas estáticas da escritora baiana Luciany Aparecida, Verônica Stigger, Leo Tavares, Cidinha da Silva: “gosto da prosa vertiginosa de Monique Malcher, da poesia de Maria Isabel Iorio, de Angélica Freitas, ih… tem muita gente excelente escrevendo hoje e essas pessoas são minhas referências e minhas autoras e autores preferidos, sem dúvidas, são quem eu mais leio atualmente”.
Natalia curte quadrinhos da Aline Zouvi, do Lino Arruda, Jul Maroh, Alison Bechdel Todes esses criaram obras maravilhosas que consideram a diversidade de gênero como ponto de partida e que tratam questões profundas do ser humano.
A escrita, a subjetividade e o mundo
A memória de Natalia puxa recordações de produção literária em períodos distintos de sua vida: “Acho que ali pela quinta série, quinto ano, hoje, né? Ali eu comecei a rabiscar uns poemas, brincar com as palavras. Depois fui escrevendo pequenas histórias, brincando de prosa no caderno que, por vezes tinha mais histórias do que matéria de colégio. Mais tarde, já na faculdade de Letras, comecei com uns desafios de descrever objetos de um jeito bem inusitado. Eu trabalhei muitos anos como professora de inglês, e dava aula em empresas. No intervalo entre uma aula e outra eu ficava escrevendo em papéis de rascunho. Descrevia o copinho de café, o café, as salas, as coisas mais inúteis, tentava pensar em como o café me descreveria, coisas loucas que a gente faz pelo exercício da escrita”.
Após, teve um blog, onde um número maior de pessoas teve acesso aos seus textos, escreveu em jornais e portais literários, até editar seu primeiro título, em 2013, “Recortes para álbum de fotografia sem gente”, por meio do Financiarte, Fundo Municipal de Cultura de Caxias do Sul. Após, pelo mesmo Fundo, veio “Amora”, em 2015, ambos publicados pela Editora Dublinense: “é essencial que cuidemos das políticas públicas para o livro e a leitura, bem como para a cultura e a educação de um modo geral, são elas que garantem que os artistas das nossas cidades tenham a chance serem reconhecidos fora de sua região”, ressalta.
Natalia nos conta que as ideias chegam de diversas percepções como “alguma conversa em algum lugar, numa mesa alheia, posso ter ouvido o relato de alguma amiga, posso ter tido uma conversa interessante com alguém. Absolutamente tudo é matéria para mim”.
Após as cartografias homoafetivas femininas, a escritora explorou uma questão obsessiva, o fim do mundo, em dois títulos: “Corpos secos”, escrito juntamente com mais três autores (Samir Machado de Machado, Luisa Gleiser e Marcelo Ferroni), lançado em 2020; e o referido “A extinção das abelhas”.
Seja pelo tema, a ideia de colapso, do pensamento que acha que a Terra é um recurso infinito a ser explorado, a escritora ressalta pontos em comum nas duas histórias: “escrevi Corpos Secos quando já estava escrevendo A extinção das abelhas, acho que foi um bom ensaio à parte. Constância e Regina são um tanto parecidas, eu diria, embora Regina seja mais velha. E as questões literárias que eu tinha, as obsessões, eram e ainda são as mesmas… com a natureza, a terra, o fim do mundo”.
E quais são os próximos projetos? Natalia está desbravando outros cenários linguísticos e artísticos, a cinematográfica. Na cabeça, algumas ideias de roteiros estão rondando sua escrita. Além disso, está trabalhando em mais um livro de contos que, segundo ela, tem uma pegada mais surrealista. Ah, recentemente, foi publicado dois contos inéditos, um no Suplemento Pernambuco, e outro para o Folhetim , do Sesc Pompeia.
Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura
Foto: Divulgação/Biblioteca Pública Castro Alves
(RM)
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