Uma parceria de força, habilidade e confiança que traz superioridade para as ações das forças de policiamento ostensivo. Assim é a aliança centenária entre policiais militares e cavalos, que cumpre papel fundamental nas atividades de proteção social pela Brigada Militar (BM) e é celebrada nesta segunda-feira (10/5), Dia da Cavalaria, com a conclusão da especialização de 23 soldados formados no final do ano passado. Uma nova turma com 22 futuros cavalarianos inicia a preparação nos próximos dias.
Na última sexta-feira (7/5), eles realizaram a última atividade do curso de cerca de 40 dias, com uma incursão de instrução pelo Morro da Polícia, em Porto Alegre. A partir de agora, estão aptos a se unir ao restante do efetivo montado nas ruas do Estado. Atualmente, a corporação tem 348 cavalos especialmente cuidados e preparados pelo Centro de Estudos, Treinamento, Reprodução Animal e Preservação Ambiental (Cetrapa) da BM, em Itaara, na Região Central.
A data comemorativa faz alusão ao nascimento do marechal Manuel Luís Osório, o Marquês do Herval, em 1808, na Vila de Nossa Senhora da Conceição do Arroio, hoje o município de Tramandaí, que fez história em frentes de batalhas cavalarianas no século 19. Na BM, a incorporação de cavalos para auxiliar no policiamento ostensivo remonta a 1913.
Ao longo dos anos, o trabalho com equinos foi se fortalecendo e adquirindo papel cada vez mais relevante nas atividades da corporação, mas até 1989 a incorporação dos animais se dava de forma descentralizada. Naquele ano, a BM começou a formação de uma estrutura para a criação de equinos, com a construção de cocheiras para garanhões, baias para maternidade, laboratório para reprodução e piquetes para manuseio dos animais.
Em 2002, foi estruturado o criatório de equinos do 1º Regimento de Polícia Montada, em Santa Maria, visando à reprodução gradual e sistemática do plantel equino. Cinco anos mais tarde, o criatório deu origem ao Cetrapa, que tem como responsabilidade a criação, distribuição, reposição e substituição dos equinos que serão destinados para outras unidades da BM.
O centro tornou-se um haras de referência na linhagem do cavalo da raça Brasileiro de Hipismo, ideal para o emprego no policiamento montado em razão de suas características, como porte, estatura, docilidade, lealdade, franqueza, rusticidade e coragem, entre outras.
De acordo com a médica veterinária do Cetrapa, capitã Paula Cardoso, o treinamento dos animais inicia-se logo depois do parto das crias. “Após anos de observação, identificamos que é de extrema importância que, desde o nascimento dos equinos, crie-se um vínculo entre o homem e o animal. Este tipo de treinamento é conhecido como imprinting. O animal é acariciado, erguem-se os membros, administra-se vitaminas orais. Logo começa o ensinamento de subida e descida de caminhões. Posteriormente, quando o animal atinge os três anos, inicia-se a doma”, detalha a capitã.
Depois de domados, os cavalos e éguas estão prontos para começar um cuidadoso treinamento específico para o policiamento montado, no qual os animais irão se acostumar com as movimentações em áreas urbanas e de grande público, superação de obstáculos, estampidos de tiros, fogo e as mais diversas situações enfrentadas na rotina de ação da cavalaria.
A BM mantém hoje quatro Regimentos de Polícia Montada: Santa Maria (1º RPMon), Santana do Livramento (2º RPMon), Passo Fundo (3º RPMon) e Porto Alegre (4º RPMon), que tem vinculação técnica com o pelotão de polícia montada do 12º Batalhão de Polícia Militar, em Caxias do Sul.
Todo o efetivo de cavalarianos realiza, além do curso básico de policial militar, a capacitação específica para a atividade montada. Ao longo da especialização, os soldados – muitos deles antes nunca tiveram contato com um cavalo – aprendem todas as técnicas de trato e cuidado com o animal, montaria e manobras nas diversas atividades em que a cavalaria é chamada a atuar.
Segundo o comandante do 4º RPMon, tenente-coronel Cláudio de Azevedo Goggia, o emprego de uma tropa montada tem inúmeras vantagens. “Não existe um processo de policiamento com mais ostensividade do que o policial montado, pois, devido à sua projeção mais elevada, ele se torna visível para a população, multiplicando a sensação de segurança pela presença policial e servindo como inibidor de conduta ou ação criminosa. Da mesma forma, o cavalo permite ao policial um campo de visão ampliado por encontrar-se em posição superior à das demais pessoas, e isso possibilita ver e ser visto mesmo em distâncias maiores”, explica Goggia.
Outro ganho, acrescenta o oficial, é o efeito psicológico do emprego do policiamento montado, que tem dupla finalidade. Em ações repressivas, a imponência do animal leva todos a respeitarem sua atuação. Por outro lado, o cavalo propicia também aproximação com a comunidade na rotina de patrulhamento, em que muitas pessoas buscam interagir com o animal, em especial as crianças.
O policiamento montado da BM também contribuiu com a comunidade por meio da capacidade terapêutica desses animais. Em parceria com o Instituto-Geral de Perícias, os equinos são utilizados em atividade de equoterapia, que auxiliam o trabalho de perícia psíquica com crianças e adolescentes vítimas de abuso ou que presenciaram crimes violentos. Após sessões de passeio com os animais, elas criam um vínculo afetivo com o perito e sentem mais tranquilas e confortáveis para relatar o que viram. Muitas vezes, esses relatos são evidências-chave e até únicas para a resolução de investigações.
Conforme o tenente-coronel Goggia, o poder repressivo em ações de choque é outra característica representada pela força da relação homem-cavalo. Por vezes, somente a aproximação da tropa já é suficiente para evitar a imposição de dispersão de distúrbios civis, que acaba ocorrendo de forma espontânea. Em tais situações, um policial militar a cavalo equivale a 10 policiais militares a pé. A cavalaria presta apoio à tropa de choque convencional como recurso diferenciado dentre os meios existentes para restabelecer a ordem em manifestações não pacíficas e tumultos de natureza variada.
A facilidade do animal em transpor obstáculos e transitar em locais de difícil acesso, bem como sua velocidade e flexibilidade, apresenta mais um grande benefício da tropa de cavalaria, o que permite seu emprego em locais e terrenos variados.
A montaria também amplia de forma exponencial a mobilidade do policial, possibilitando que ele percorra uma grande área de policiamento em tempo e com desgaste físico muito menores. Essa combinação de vantagens torna o policiamento montado capaz de ampliar a área de responsabilidade e de segurança das guarnições, com número bem mais reduzido em comparação com o patrulhamento a pé, possibilitando também economia de efetivo.
De acordo com o tenente-coronel Goggia, na realização do policiamento montado, o cavalo e o policial devem formar um conjunto harmônico que ofereça conforto, eficiência e segurança no desenvolvimento das atividades. “Ambos devem se sentir seguros com a parceria, sendo importante neste aspecto instrução, preparação do patrulheiro montado e utilização de um cavalo especificamente preparado para este fim”, afirma o comandante do 4º RP Mon.
Assim como os policiais militares, os cavalos também se aposentam. Nota de instrução da BM determinou em 18 anos a idade limite ideal para o animal encerrar a sua carreira de trabalho. Os equinos aposentados retornam dos regimentos para o Cetrapa, onde vivem soltos e continuam recebendo os mesmos cuidados médicos e alimentares, e podem aproveitar a vida no campo em liberdade.
Após aposentados, os animais podem ser doados. A prioridade é que o donatário seja o policial que por tantos anos fez dupla com o animal. Caso não haja condições ou interesse, o cavalo pode ser doado para um civil ou uma organização sem fins lucrativos. Entre as condições obrigatórias para a doação, consta que o animal deve permanecer o resto da vida sob cuidados do tutor – não pode ser vendido, doado para outra pessoa ou utilizado para trabalhos ou atividades que visem lucro.
Fonte: Brigada Militar
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