Ainda sem comprovação contra o coronavírus, imunizante destinado à prevenção de sarampo, caxumba e rubéola teve alta procura e está em falta no setor privado
Em pelo menos dez clínicas privadas de vacinação de Porto Alegre, a vacina se esgotou nas últimas semanas. “Pelo que sei, aconteceu isso com todas as clínicas, teve muita procura, faltou matéria prima e a gente vai precisar de um tempo pro mercado se restabelecer”, comentou Fernanda Mossatte, enfermeira responsável por um estabelecimento no bairro Floresta. “Já está faltando para as crianças também, já do calendário normal de um aninho”, afirmou Andiara Gitz, farmacêutica e proprietária de uma clínica no bairro Menino Deus.
Os relatos vão todos na mesma linha: aumento repentino da procura, esgotamento com os fornecedores e, consequentemente, falta do imunizante. Há, inclusive, casos de clientes que procuram pela tríplice viral com indicação médica, apesar de ainda não haver resultados conclusivos com relação à eficácia do imunizante contra o coronavírus. Após perceber que o imunizante estava perto de se esgotar, uma clínica do bairro Auxiliadora chegou a restringi-lo às crianças do calendário de vacinação. Mesmo assim, restam menos de dez doses no local.
“Houve uma correria enorme nas clínicas para fazer essa vacina. Muitas pessoas já tinham se vacinado há dois anos, quando houve a campanha nacional para o controle do sarampo”, afirma Daher, que conta que uma universidade holandesa chegou a manifestar interesse em conduzir um estudo no Brasil e desistiu pela indisponibilidade da tríplice viral. Também proprietário de uma clínica no Rio de Janeiro, ele relata que no fim de fevereiro comprou cerca de 90 doses, que normalmente duravam de três a quatro meses, mas que esgotaram em dez dias. “Está em falta ainda e, inclusive, crianças que deveriam estar recebendo a vacina, que é feita a partir de um ano, estão sem se vacinar por conta dessa demanda maior.”
As informações preliminares do estudo, que vem sendo desenvolvido pelo Centro de Pesquisa do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina (HU-UFSC), foram divulgadas no dia 26 de janeiro pelo governo de Santa Catarina, que revelou que os voluntários tiveram redução de 54% na chance de ter sintomas de Covid-19, e que o risco de internação caiu para 74%. A pesquisa ganhou boa parte da mídia na segunda semana de março. Nos dias 9 e 11 de março, o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro (DEM), afirmou em suas redes sociais que cogitava utilizar o imunizante contra a Covid-19.
A ampla divulgação fez com que especialistas viessem a público pedir cautela. Ainda no dia 10 de março, UFSC e Secretaria de Saúde de Florianópolis divulgaram nota esclarecendo que o imunizante não é equivalente aos voltados à prevenção contra o coronavírus produzidos, por exemplo, pela Fiocruz e pelo Instituto Butantan, e que não pode ser configurado como “tratamento precoce” como medicamentos que são divulgados sem eficácia comprovada. Informaram ainda que a pesquisa é preliminar e que as respostas animadoras ainda dependiam de etapas fundamentais para aprovação, validação e aplicação. Universidade e Secretaria também alertaram para que não houvesse movimento de procura em postos de saúde ou clínicas privadas.
Além da falta de vacinas para crianças que ainda não receberam a imunização necessária contra sarampo, caxumba e rubéola, o que já tem ocorrido na rede privada, a alta e repentina procura da população em geral confere outros riscos à saúde pública. De acordo com o infectologista, coordenador do núcleo de vacinas e supervisor médico do Hospital Moinhos de Vento, Paulo Gewer, a aplicação da vacina além das duas doses necessárias não oferece prejuízos diretos – ela é, inclusive, recomendada quando há surto de alguma das três doenças ou quando o cidadão não tem registro na carteira de vacinação. Contudo, a utilização para prevenção de Covid-19 sem eficácia comprovada pode levar a uma falsa sensação de proteção no momento mais grave da pandemia.
Apesar de o surto de sarampo mais recente ter sido controlado na maior parte do Brasil, alguns estados ainda têm casos de infecção autóctone, quando a doença é contraída dentro da região. Gewer explica que a tríplice viral continua sendo recomendada a partir dos 12 meses porque previne contra uma doença que já teve alta letalidade na infância. A vacina está disponível pelo Sistema Único de Saúde (SUS), mas, segundo ele, a falta nas clínicas privadas pode levar um número maior de pais a procurar a rede pública. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o abastecimento nas unidades de saúde de Porto Alegre é normal e o imunizante está disponível pelo SUS até os 49 anos de idade. Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (SES) ressalta que não há comprovação científica da eficácia da tríplice viral contra o coronavírus.
Fonte: Correio do Povo
Foto: Divulgação
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