A médica anestesiologista Pauline Elias Josende, que atua no hospital Tacchini, em Bento Gonçalves, é mais uma profissional da saúde que trabalha na pandemia de Covid-19. Utilizando as redes sociais ela publicou um desabafo na noite deste sábado, dia 6, e fez um apelo à população. Confira o texto da publicação na íntegra:
“Essa é a sala de recuperação do bloco cirúrgico do hospital onde eu trabalho. Antes, era aqui que as pessoas ficavam depois de fazer uma cirurgia. Daqui, elas iam pra sua casa ou pra um quarto no hospital caso estivessem internadas. Aqui era local de passagem, ficavam uma, duas, três horas até terem condições de ir para outro local.
Essa é a sala de recuperação agora. Esse é um leito de UTI montado para atender paciente não-COVID, porque aqui virou a única uti não COVID do hospital. O bloco cirúrgico foi fechado, só temos uma sala para cirurgias de urgência, e todos os funcionários do bloco agora são funcionários dessa UTI. Todas as outras UTIs do hospital viraram UTI COVID, e estão cheias.
Não cabe mais ninguém. Temos oito pacientes em regime de UTI em leitos do pronto socorro do hospital. Temos vários pacientes no andar de internação (nos quartos) piorando a cada minuto que passa, e eles provavelmente também precisarão de UTI (que não tem). Os leitos de UTI foram mais do que dobrados, e estão faltando mesmo assim…
Ontem eu intubei um senhor de 50 anos, sem comorbidades conhecidas. Depois de se despedir da esposa por vídeo ele me disse “tu acha que vou morrer?”. O que tu responderia se alguém te perguntasse isso antes de ser sedado? Sabendo que talvez tu possa ser a última pessoa com quem ele falou na vida? Eu respondi “o senhor é novo, estamos aqui em muitos pra te cuidar. Agora a falta de ar vai aliviar, vai ficar tudo bem”. Vai ficar tudo bem? Não sabemos mais.
O que sabemos é: chegamos no nosso limite.
Especialmente de recurso humano. Estamos exaustos. Estamos cansados e a única coisa que cansa mais que o COVID é a ignorância. É a negação de que estarmos aqui hoje é nossa culpa sim. Conseguimos fabricar aqui no Brasil uma variante muito mais violenta, e dia após dia estamos vendo jovens sem comorbidades serem intubados, doenças mais graves em todas as faixas etárias, pulmões mais comprometidos, muito mais mortes.
Eu não sei mais como resolver o caos que a gente criou… faço meu trabalho de formiga, vejo meus colegas fazendo também, e só sei que se tu não entendeu que cada um precisa fazer a sua parte, não sei em que mundo tu vive, mas não é nesse mundo aqui… nesse aqui, onde tu precisa dizer pra alguém que vai ser intubado que vai ficar tudo bem, mesmo sem saber se isso é verdade.
Se cuidem e cuidem dos seus, porque não tem leito.”
Fonte: Rádio Difusora
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