Setembro Amarelo: campanha busca alertar sobre a valorização da vida

Encontrar sentido(s) nas atividades de vida diária e nas relações é fundamental para a manutenção do desejo de seguir vivendo. Em uma sociedade competitiva, ocupada e cansada demais, temos visto cada vez mais o aumento dos 4 “Ds”- desesperança, desespero, desamparo e depressão. A Campanha Setembro Amarelo busca refletir sobre a forma de como estamos vivendo e os valores que permeiam nossas relações sociais, bem como dar visibilidade e falar sobre o tabu que envolve o fenômeno do suicídio.

“Perda do sentido da vida”. “Desejo de sumir”. “Cansaço”. São algumas palavras frequentes nos relatos de quem apresenta ideação de suicídio. A maior demanda em saúde mental na atenção básica estão associadas a casos de depressão e ansiedade, que muitas vezes, se não cuidados, podem evoluir para comportamentos de risco. Essas situações se apresentam associadas a um ritmo de vida que envolve a busca pela produção e aprovação constante, pouco descanso e lazer, redução da convivência social e familiar, redução da qualidade do sono e alimentação, sentimentos de não pertencimento e insegurança financeira.

Precisamos estar atentos aos sinais que envolvem desde o silêncio e isolamento até relatos permeados de sentimentos de tristeza profunda e persistente, frustração, sentimento de abandono e exclusão, histórico de vivência de violência (psicológica, física, moral, etc.), sofrimento associado à discriminação e o preconceito, medo de não ter condições de sobreviver e manter a sua vida e da família.

O suicídio é um fenômeno multifatorial e complexo, que vai além dos fatores individuais, o que envolve questões sociais, culturais, econômicas e políticas. O enfrentamento de conflitos, desastres, violências, abusos ou perdas e um senso de isolamento estão fortemente associados com os comportamentos de risco e suicídio, sendo que vemos registro de um aumento de 30% no contexto de pandemia. Além disso, o estigma, tabus e o preconceito relacionado ao adoecimento mental, tem sido fator agravante para o silenciamento e invisibilidade do problema.

No mundo, a cada 40 segundos, uma pessoa comete suicídio, totalizando mais de 800 mil mortes por ano. É a segunda causa de morte entre pessoas de 15 a 29 anos. As taxas de suicídio também são elevadas em grupos vulneráveis que sofrem discriminação, como: refugiados e migrantes; indígenas; lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros e intersexuais (LGBTI); e pessoas privadas de liberdade. O suicídio de idosos acima de 70 também cresce, sendo que de 1980 a 2012 houve um aumento de 215% de casos, no Brasil.

“A trajetória existencial de alguém que estava tomada pelo sofrimento, possivelmente pertencente a um quadro depressivo, e que num ato de insanidade ou desespero desfecha a sua estadia aqui através do suicídio nos aponta sobre a dificuldade de compreensão que estes indivíduos tinham para com suas tramas pessoais. Encarar a morte desperta a angústia da lembrança que somos finitos. O suicídio, ou seja , uma morte voluntária, auto provocada apavora-nos ainda mais, inquieta-nos pois oferece um incomodo no ambiente por onde passa, faz lembrar que não existem heróis ou heroínas, que não estamos imortais, e acima de tudo, que todos carregamos em graus diferentes, algum tipo de sofrimento”, destaca o Coordenador de Saúde Mental, Maurice Bouwary.

As medidas de enfrentamento do suicídio passam por ações de prevenção desde a infância, busca pelo fortalecimento da rede de atenção psicossocial e das políticas públicas, ações intersetoriais e capacitação dos profissionais das diferentes áreas e lideranças comunitárias, a promoção de suporte aos familiares de pessoas próximas que faleceram por suicídio, o incentivo de pesquisas de prevenção do suicídio, conscientização da população e combate aos estigmas e preconceitos associados ao adoecimento mental, diminuição do acesso aos meios para cometer o suicídio, ampliação de espaços de escuta e fala. Envolve, também, a conscientização da sociedade diante das questões que englobam: a convivência, a aceitação das diferenças, o cuidado e responsabilidade diante da vida do outro e de sua comunidade.

“Precisamos proporcionar ações e condições para que as pessoas possam viver com dignidade, ampliar os encontros de afetos reais, espaços de escuta, proporcionar espaços para a criatividade, de fala e expressão de cada sujeito e dos diferentes grupos, bem como não ser coniventes com o preconceito, a exclusão e as violências”, enfatiza a psicóloga Tatiane Baggio. A escuta sem julgamento e a confiança ainda são as melhores intervenções de prevenção e intervenção em situações de crise.

Em Bento Gonçalves, todos os anos, a Secretaria Municipal de Saúde realiza ações desde a atenção básica até ações públicas nas ruas e através das mídias, objetivando a conscientização e visibilidade sobre o assunto. Durante o ano, os profissionais da rede de atenção psicossocial e atenção básica realizam atividades através dos grupos de saúde e atendimentos visando à prevenção e redução do adoecimento mental.

Este ano, devido a pandemia, as ações coletivas estão suspensas, porém a reflexão ocorrerá através do trabalho de capacitação com as equipes de saúde, murais nas unidades de saúde de cada território e através das mídias sociais. Além disso, a próxima capacitação do Café da Manhã com Saúde Mental no dia 14 de Setembro das 8h às 9h15 abordará o tema em conjunto com o Coral da Saúde.

Frases de alerta:
“Tenho vontade de desaparecer”
“Os outros serão mais felizes sem mim”
‘Eu não aguento mais”
“Eu sou um empecilho, um peso para os outros”
“Eu preferia estar morto”
“Sou um estorvo e não presto para nada”

Onde buscar ajuda?
Procure falar com alguém de sua confiança; procure a UPA, a unidade básica de saúde mais próxima de sua residência, Rede de atenção psicossocial (Caps II, Caps AD, Capsi), Centro de valorização da vida (CVV) por meio do telefone 188.
No contexto da pandemia também foi aberto o canal de atendimento emergencial à comunidade por meio do telefone (54) 3055-8523.

Fonte: Assessoria de Comunicação Social da Prefeitura

Informações: psicóloga Tatiane Baggio

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