A combinação entre a necessária política de distanciamento social contra a propagação da Covid-19 e a manutenção integral do trabalho das forças da Secretaria da Segurança Pública (SSP) fez o Estado atingir novos recordes na redução de indicadores criminais. Em abril, com menos circulação de pessoas e a permanência das polícias nas ruas, houve queda de 90% nos ataques a banco no RS na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Ocorreu apenas um caso, um furto cometido em Canoas no dia 5 de abril, enquanto em igual período de 2019 foram registradas 10 ocorrências contra estabelecimentos bancários, na soma entre furtos e roubos. Na comparação de acumulados entre os quatro primeiros meses deste ano e do anterior, as ações criminosas contra instituições financeiras diminuíram 60,5% – de 38 casos para 15.
Os dados estão nos indicadores de criminalidade de abril, divulgados na manhã desta quinta-feira (14/5) pelo vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, em transmissão ao vivo pela internet.
Tanto na leitura isolada de abril quanto no resultado desde janeiro, 2020 atingiu os menores números de toda a série histórica, iniciada em 2012, quando esse tipo de crime passou a ter contabilização em separado.
Em Porto Alegre, o cenário é ainda mais positivo, com queda de 100%. A Capital encerrou o quarto mês consecutivo sem qualquer ocorrência de furto ou roubo contra estabelecimentos bancários. Desde janeiro, não há ataques a instituições financeiras na cidade, enquanto no mesmo intervalo de 2019 já haviam ocorrido 10 casos.
Quedas acima da metade em diversos crimes contra o patrimônio
Além das marcas inéditas na redução de ações contra bancos, a atuação das forças de segurança aliada à menor movimentação nas cidades trouxe expressivas retrações em todos os crimes contra patrimônio em abril. Um dos destaques foram as ocorrências de roubo em geral no RS, que fecharam com 3,2 mil registros a menos do que no mesmo mês do ano passado e queda acima da metade – de 5.836 para 2.544 (-56,4%).
Entre os furtos em geral, também houve baixa significativa, com 5,2 mil casos a menos. Em todo o Estado, foram 10.137 ocorrências em abril de 2019 contra 4.891 em igual intervalo deste ano
(-51,8%). Outra queda acima da metade foi verificada entre os ataques a transporte coletivo, somadas as ocorrências envolvendo passageiros e motoristas de ônibus e lotações, que diminuíram de 184 para 84 (-54,3%) no recorte mensal. Crimes contra estabelecimentos comerciais tiveram retração de 36%, passando de 727 registros de furto e roubo em abril de 2019 para 465 no quarto mês deste ano.
Os roubos de veículo reduziram de 1.011 para 796 (-21,3%) na comparação mensal. Considerando os acumulados entre janeiro e abril no RS, já são 811 veículos que deixaram de ser levados por assaltantes neste ano, com 3.465 ocorrências, frente ao ano anterior, que teve 4.276 casos – uma queda de 19% e o menor total para o período desde 2004, quando o número foi de 3.362.
Os roubos com morte mantiveram em abril o mesmo número do quarto mês do ano passado – foram oito ocorrências em todo o Estado. Com a estabilidade no mês, também não se alterou o cenário de queda dos latrocínios no acumulado do ano, que soma 22 casos desde janeiro, 24,1% menos do que as 29 ocorrências em igual período de 2019. O total atual repete o menor número já registrado (no ano de 2009) em toda a série histórica desde o início da contabilização desse tipo de crime em 2002.
Na Capital, o cenário do início de 2020 até aqui repete o mesmo do ano passado, com três casos. Isoladamente, abril teve um registro a mais do que igual mês de 2019, passando de um latrocínio para dois em Porto Alegre.
Abril tem seis homicídios a mais no RS na comparação com 2019
A influência do distanciamento social como motivo importante das reduções dos crimes patrimoniais em abril não se verificou em relação aos homicídios no Estado. O mês encerrou com 158 vítimas, seis a mais do que as 152 do mesmo período do ano passado (3,9%). No acumulado desde janeiro, porém, o total de 624 óbitos ainda representa queda, de 8,4%, na comparação com 681 ocorridos em igual intervalo de 2019 – é a menor soma desde 2011, que teve 597 mortes no período.
Autoridades que lidam diretamente com este tipo de crime identificam dois possíveis fatores para os homicídios no Estado não terem sofrido o mesmo efeito que as medidas de distanciamento social contra o novo coronavírus provocaram nos delitos contra o patrimônio em abril: disputas do tráfico pelo mercado em baixa e conflitos após a soltura de lideranças criminosas.
De acordo com a diretora do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegada Vanessa Pitrez, além da menor circulação de pessoas resultar também em forte encolhimento no mercado ilegal de entorpecentes, o mês foi marcado por apreensões de grandes volumes de drogas, o que desestabiliza as organizações criminosas ligadas ao tráfico. “Em alguma medida, esse cenário acirra disputas por novos pontos, gerando mortes entre membros de facções rivais”, explica Vanessa.
No início de abril, ação da Polícia Civil apreendeu 1,5 tonelada de maconha, além de R$ 600 mil em espécie e seis carros em um depósito de um grupo criminoso em Nova Santa Rita. No dia 15, a Brigada Militar (BM) localizou 970 quilos de maconha em uma casa em Alvorada. Dois dias depois, na mesma cidade, a corporação interceptou um veículo com 240 quilos da droga – o município teve o segundo maior aumento de homicídios em abril no RS, de 11 vítimas em 2019 para 16 neste ano.
No final do mês, também a BM recolheu 860 quilos de maconha em uma residência em Esteio e, na mesma ocorrência, chegou a um depósito onde havia R$ 77 mil, quatro fuzis, duas pistolas e duas espingardas. A três dias do fim de abril, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) apreendeu carregamento de 1,1 tonelada de maconha em um caminhão na ERS 135, no município de Coxilha.
O monitoramento de dados realizado pelo corpo técnico da Gestão de Estatística em Segurança (GESEG), ligado ao programa RS Seguro, aponta que cerca de 80% dos homicídios registrados no Estado têm alguma relação com disputas e desavenças inseridas no contexto do tráfico de drogas.
Somado ao baque no comércio ilegal de drogas, conforme levantamento do Departamento contribuiu para o aumento no número de homicídios a soltura de criminosos que estavam presos. As libertações ocorrem durante a vigência da recomendação nº 62 do Conselho Nacional de Justiça, que “recomenda aos tribunais e magistrados a adoção de medidas preventivas à propagação da infecção pelo novo coronavírus (Covid-19) no âmbito dos sistemas de justiça penal e socioeducativo”. Somados os meses de março e abril, o número de detentos beneficiados com concessões de liberdade aumentou de 6.966 no ano passado para 11.677 neste ano.
A saída de criminosos, muitas vezes, mobiliza rivalidades entre grupos, abre disputas na hierarquia dos bandos e desencadeia ataques encomendados para acerto de contas. Em abril, 22 presos que tiveram liberdade concedida pelo Judiciário acabaram virando vítimas de homicídio, o que representa 13,9% dos assassinatos no Estado. Caso essas mortes não tivessem ocorrido, o número de homicídios no mês teria sido de 136, o que representaria queda de 10,5% sobre os 152 registrados em abril do ano passado.
O impacto da libertação de presos em meio à Covid-19 também aparece na comparação com as solturas concedidas em igual período de 2019, quando não havia a presença do novo coronavírus.
As 22 mortes de libertados do sistema prisional em abril de 2020 representam alta de 175% sobre os oito assassinatos de presos que tiveram liberdade concedida no mesmo mês do ano anterior.
As solturas também são o fator apontado pelo coordenador da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Caxias do Sul, delegado Adriano de Jesus Linhares Rodrigues, no resultado da cidade, que teve a maior alta de assassinatos em abril, de seis em 2019 para 12 neste ano. “Ao menos sete desses homicídios estão relacionados a conflitos envolvendo presidiários”, detalha o delegado.
Depois da estabilidade verificada em março, os feminicídios voltaram a crescer em abril. Houve 10 assassinatos de mulheres por motivação de gênero no Estado, quatro a mais (66,7%) do que os seis registrados no mesmo mês do ano passado. Com isso, o número de vítimas no acumulado desde janeiro chegou a 36, total 71,4% acima das 21 registradas no mesmo período de 2019.
Embora a alta ocorra em meio a pandemia da Covid-19, não é possível inferir que o resultado tenha tido influência das medidas de distanciamento social necessárias contra o coronavírus. Isso porque também houve altas, até maiores, em janeiro e fevereiro, antes das restrições preventivas à Covid-19 serem implantadas.
Além disso, os demais indicadores de violência contra a mulher reduziram em abril. As ameaças passaram de 3.085 em 2019 para 2.026 no último mês (-34,3%), as lesões corporais caíram de 1.719 para 1.259 (-26,8%), os estupros diminuíram de 107 para 78 (-27,1%) e as tentativas de feminicídios reduziram de 37 para 18 (-51,4%).
Nos acumulados desde o início do ano, os quatro indicadores também registram queda na comparação com igual período do ano passado. Ameaças foram de 13.521 para 11.849 (-12,4%), lesões corporais reduziram de 7.604 para 7.188 (-5,5%), estupros caíram de 549 para 528 (-3,8%) e tentativas de feminicídio diminuíram de 129 para 102 (-20,9%).
Ainda assim, o monitoramento realizado pela SSP não descarta a possibilidade de subnotificação nas situações de menor gravidade (ameaça e lesão), em razão de maior receio pela convivência com os agressores durante o isolamento contra o coronavírus. Por isso, as autoridades reforçam a importância de uma mudança de cultura dos gaúchos, para que encarem qualquer ato de violência contra as mulheres como inaceitável e compreendam o papel fundamental das denúncias. Seja parente, amigo, vizinho ou mesmo desconhecido, qualquer pessoa pode, e deve, denunciar esses crimes às forças de segurança.
Esse ato simples e totalmente anônimo faz diferença para salvar vidas. Nenhuma das 10 vítimas de feminicídio em abril, por exemplo, havia feito registro de ocorrência anterior que possibilitasse a adoção de ações preventivas, como medidas protetivas de urgência (MPUs).
Os casos podem ser comunicados pelos seguintes canais:
- Disque 180;
- Disque Denúncia 181;
- WhatsApp (51) 9.8444.0606;
- Denúncia Digital 181, disponível no site da SSP;
- e emergências pelo 190 da Brigada Militar.
Além de ampliar a divulgação dos canais de denúncia, as Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMs) reforçaram o trabalho proativo de prisão de agressores e de busca e apreensão em locais onde há suspeita da presença de armas e outros instrumentos que possam oferecer risco a vítimas que registraram ocorrências. Desde janeiro, as 23 DEAMs já efetuaram mais de 200 prisões – em abril, só a DEAM da Capital prendeu 12 agressores.
No dia 4 de maio, a unidade de Porto Alegre também inaugurou, em parceria com o Instituto-Geral de Perícias (IGP), o serviço de plantão psicológico online para vítimas diretas e indiretas de violência doméstica. O atendimento tem o objetivo de ouvir a mulher, auxiliar no preenchimento do questionário de avaliação de risco e facilitar sua organização mental para o depoimento. Após a recepção na DEAM da Capital, com a anuência da vítima, seu número de telefone é repassado para a psicóloga responsável do Departamento Médico-Legal. Em seguida, em sala reservada ao acolhimento psicossocial, enquanto a vítima aguarda para prestar depoimento, a profissional de saúde faz contato por videochamada para uma conversa que dura de 20 a 25 minutos. O serviço é realizado na segunda-feira, das 09h às 17h, e no sábado, das 10h às 15h. Para as vítimas que procuram a DEAM entre terça e sexta-feira, é possível combinar um horário para a realização do atendimento remoto que oferece o suporte emocional necessário para superar a violência.
Na Brigada Militar, as Patrulhas Maria da Penha (PMPs), principal ação da corporação para combate à violência por razão de gênero, ampliaram em 82% o número de municípios atendidos no Rio Grande do Sul, de 46 para 84.
Fonte e foto: SSP
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