Movimento Negro raízes divulga nota alusiva aos 132 anos da Abolição da Escravatura no Brasil

O Movimento Negro raízes de Bento Gonçalves, divulgou em suas redes sociais uma nota alusiva aos 132 anos da Abolição da escravatura no Brasil, marcada neste dia 13 de maio.

Confira a nota na íntegra:

13 de MAIO – 132 anos de Abolição da Escravatura no Brasil

Dos ACORRENTADOS aos MASCARADOS

Neste 13 de Maio de 2020, decorrem 132 anos da Abolição da Escravatura no Brasil, sendo este o último país a libertar seus ‘filhos adotivos e naturais’ escravizados.

Após a Guerra do Paraguai, o problema voltou a chamar a atenção da sociedade de forma incisiva até que, durante a década de 1880, concentrou os debates que resultaram na decretação da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888.

Apesar das inúmeras pressões, o Brasil foi o último país a tornar ilegal uma das obras mais nefastas criadas pelo homem.

Desde a Independência, a Inglaterra vinha exigindo do governo brasileiro ações explícitas para acabar com o tráfico e o sistema escravagista, já que a partir da Revolução Industrial iniciada na segunda metade do século XVIII no país Britânico, começava-se a modificar os parâmetros sociais e econômicos e, por isso, a abolição da escravidão, tanto para os ingleses bem como para as demais nações do mundo, estava diretamente relacionada com o processo de industrialização, pois era muito mais rentável trabalhadores assalariados e livres.

Como resposta, foi aprovada, em 1831, uma “lei para inglês ver”, que declarava livres os africanos desembarcados em portos brasileiros após aquele ano.

Essa lei, naturalmente, foi desrespeitada milhões de vezes, com a cumplicidade cínica das elites políticas e das autoridades do governo, o que ajudou a consolidar a tradição que vigora até hoje no Brasil, segundo a qual a violação da regra é a regra.

As elites alegavam que o fim da escravidão representava o colapso da economia do país. Identificavam assim seus interesses particulares com os da nação.

Entretanto, a realidade internacional mostrava o contrário: nos países em que a escravidão fora extinta, o desenvolvimento se acelerara. O “terrorismo” das elites aristocráticas não tinha amparo na realidade.

As pressões do Movimento Abolicionista desferiram o golpe final contra o regime escravagista.

A escravidão acabou e o fim do mundo não veio, como previam as elites decadentes e retrógradas.

Portanto nunca existiu o romantismo didático escrito nos livros de História, estudados nos bancos escolares de que uma princesa branca “heroína”, que atendia pelo nome “pomposo” de ‘Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança’, realizou um ato “altruísta” para com o povo Negro escravizado.

Não há como falar do Brasil sem falar da importância dos negros (e também dos índios) para a construção desse país.

Mas infelizmente desde a escola fundamental, a partir dos materiais didáticos, sempre houve a visualização da imagem preconceituosa e depreciativa sobre os povos e culturas não oriundos do mundo ocidental, pois nunca houve discussão ou debate aprofundado sobre a importância dos negros (e dos índios) na construção da identidade brasileira. A narrativa historiográfica sempre foi delineada por um discurso que colocou o branco como herói e o negro como vilão.

Portanto é imprescindível falar sobre o 13 de maio, principalmente nas escolas, mas não como uma data para se reverenciar uma princesa ou comemorar algo que na prática não se efetivou de fato: a real cidadania dos negros e negras brasileiros.

É tempo de se retirar os holofotes da “princesa” e destacar o brilho e a importância dos verdadeiros heróis, como Luiz Gama, André Rebouças, José do Patrocínio e tantos outros homens e mulheres, negros e negras que foram ofuscados e silenciados pelo racismo e preconceito dos registros históricos.

Enaltecer o 13 de maio como uma data para emergir o protagonismo dos negros em sua própria libertação, pois não se deve esquecer que muito antes de 13 de maio de 1888, a população negra já organizava movimentos de resistência.

Entre esses podemos citar as rebeliões nas senzalas, a formação dos quilombos, a revolta dos Malês, a Balaiada, a Sabinada, a Cabanagem dentre outros movimentos invisíveis pela história.

Os negros protagonizaram também a primeira tentativa de independência nesse país, através da formação do Quilombo de Palmares, um estado organizado e independente que durante mais de cem anos manteve-se firme diante dos ataques do colonialismo.

13 de maio é uma data que serve também para relembrarmos que há muito o que lutar, pois embora a lei Áurea tenha oficialmente extinguido a escravidão, ela se eximiu de incluir socialmente e economicamente os negros e negras, deixando-os à margem e à própria sorte. Por isso, não há o que se comemorar, pois a abolição no dia 13 de maio de 1888 não trouxe medidas e soluções eficientes para a integralização dos ex-escravos em nossa sociedade.

132 anos após a assinatura e oficialização da cidadania dos negros e negras, muitos em uma parcela significativa da população brasileira, ainda hoje se encontram em condições desiguais em relação à população branca, e achincalhados por estas chagas que atendem pela denominação de racismo, preconceito e intolerância.

3 de maio é, portanto, uma data para denunciar o racismo, a pobreza, a falta de oportunidades e trabalho, a disparidade entre brancos e negros, pois ainda somos minoria no ensino superior, em cargos de liderança, na política, na publicidade, na literatura, no cinema, na ciência e em tantos outros segmentos.

A data serve para relembrar que é preciso continuar lutando pela inclusão social e econômica neste país que hoje concentra o maior número de população negra fora do continente africano.

Afinal após 132 de Abolição, e em tempos de pandemia (Coronavírus), quando um homem Negro que exercendo sua profissão de repórter, em Maio de 2020, ao usar a máscara de proteção contra o contágio, é comparado a um bandido nas redes sociais, traz a seguinte pergunta, e quiçá o motivo principal para a luta por valores étnicos-sociais como respeito, dignidade e igualdade:

132 de Abolição, mas de que abolição???…

Movimento Negro Raízes

Bento Gonçalves RS, 13 de maio de 2020

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