A cidade, capital brasileira do vinho, abriu suas portas para receber a chama dos Jogos Olímpicos. Encantados, moradores foram às ruas desafiando o tempo frio e receberam o símbolo olímpico com muita música e dança.
“Você está entrando no mundo do vinho”, avisa o pórtico que dá as boas-vindas à cidade gaúcha de Bento Gonçalves. A afirmação nada tem de exagero. Afinal, a bebida à base de uva fermentada produz milhares de garrafas fabricadas pelas mais de 80 vinícolas da região e que abastecem as mesas de refeições dos cerca de 113 mil habitantes. Tem até uma fonte pública, instalada ao lado do prédio da prefeitura.
Acostumada a pautar a vida dos cidadãos locais, a bebida do deus Baco viveu um dia de coadjuvante e foi parte da celebração de outro símbolo da antiguidade: a chama olímpica, que fez sua rota pela cidade na manhã deste sábado (9.7).
Ainda estava escuro quando os moradores começaram a se reunir nas calçadas. Antes mesmo do começo do percurso, uma chuva fina caiu sobre a cidade, reduzindo ainda mais a temperatura. Mas, abrigados em casacos impermeáveis, os bento-gonçalvenses insistiram na espera.
Quando o dia amanheceu, já encontrou o primeiro dos 25 condutores a postos, em uma avenida da cidade. Juliano de Morais, de 32 anos, se inscreveu em um concurso para escolha de condutores e revelou a paixão pela profissão: ele é maquinista da Maria Fumaça, uma das últimas locomotivas a vapor para transporte de passageiros no país, em funcionamento desde 1941.
Diariamente, Juliano leva turistas a um mergulho nas culturas trazidas pelos imigrantes europeus, durante um passeio às cidades vizinhas de Garibaldi e Carlos Barbosa. Uma hora e meia de belas paisagens serranas, regadas a champagne e vinhos da região, além de danças típicas. “Eu era ferroviário, me criei à beira dos trilhos. Fiquei nervoso, mas muito emocionado em carregar a chama”, disse Juliano.
Ola de espumantes
O hábito gaúcho de preservar a própria história esteve presente nas esquinas da cidade. No topo da avenida onde o maquinista participou do revezamento, o grupo musical Sinfonia do Campo se encontrou com os dançarinos do Grupo de Tradições Gaúchas Paisanos da Tradição. Em uma praça, munidos de viola, violão, pandeiro, acordeon e percussão, artistas locais demonstraram clássicos da música nativista gaúcha, um misto de influências europeias e latinas. “A chama olímpica traduz todo o amor pelo esporte que um atleta pode ter”, afirmou o músico Lucas Contini, de 21 anos, entre clássicos do cancioneiro regional.
Os vinhos e espumantes, onipresentes na região conhecida como Vale dos Vinhedos, tiveram uma participação especial na festa. Uma famosa vinícola local, a Lídio Carraro, preparou uma celebração inusitada: uma ola feita com garrafas de alguns dos rótulos que produz, abertos em sequência e servidos ao público gratuitamente. “Bento é a capital brasileira do vinho. Essa tradição foi trazida pelos imigrantes italianos e hoje 80% da produção nacional se concentra aqui. O clima é favorável”, explicou a enóloga da casa, Monica Rossetti.
Dentre os responsáveis por carregar o fogo olímpico no município estava o ex-jogador de vôlei, Marcus Vinicius Freire. Nascido em Bento Gonçalves, ele é medalhista de prata nas Olimpíadas de 1984, em Los Angeles, e, após deixar as quadras, iniciou uma carreira dedicada à preparação de atletas. Hoje, é superintendente executivo do Comitê Olímpico do Brasil (COB). “Pela primeira vez teremos 460 atletas na equipe brasileira. Em Londres, foram 295”, comemorou, pouco antes de percorrer os 200 metros com a tocha nas mãos.
O executivo repassou a chama para um aspirante a atleta, de pouca idade e muita determinação. Aos 14 anos, Bernardo Tomazzoni já adotou o discurso de quem sabe o que quer. Aficionado por esportes, ele se inscreveu em concursos abertos pelas empresas patrocinadoras do revezamento, no qual destaca suas características como desportista e aluno exemplar. Seu esporte favorito é o tênis e, de raquete na mão, Bernardo pretende trazer títulos e medalhas para o Brasil. “Um dia, quero disputar os Jogos Olímpicos. Então, começar conduzindo a tocha é muito bom. Para um menino de 14 anos é um grande feito”, destacou.
Investimentos
Está prevista a construção de 17 unidades de Centros de Iniciação ao Esporte (CIE) – um dos grandes legados dos Jogos Rio 2016 – no estado. Em Passo Fundo e Uruguaiana, as obras já começaram. Em breve, serão iniciadas em Bento Gonçalves, Canoas, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Pelotas, Rio Grande, Alvorada, Gravataí, Viamão, Uruguaiana, Santa Maria, Santa Cruz do Sul, além de duas unidades na capital, Porto Alegre.
Uma parceria entre o Ministério do Esporte e o Governo do estado permitiu a reinauguração, em 2013, da pista de atletismo do Centro Estadual de Treinamento Esportivo (Cete), e, atualmente, está em andamento a construção da pista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Trezentos e oitenta e dois desportistas que nasceram ou vivem no estado são beneficiários do programa Bolsa Atleta e mais 18 recebem o Bolsa Pódio.
Santa Catarina
No sábado, depois de passar por Bento Gonçalves, a chama olímpica se despediu do Rio Grande do Sul, pela cidade de Torres, no litoral gaúcho. O retorno a Santa Catarina se deu por Sombrio, Araranguá e Criciúma. Neste domingo 10.7), a Tocha Olímpica segue em território catarinense e visita os municípios de Tubarão, Laguna, Palhoça e São José, antes de chegar à capital, Florianópolis.
Fonte: Mariana Moreira – brasil2016.gov.br
Fotos: Ivo Lima/ME
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